segunda-feira, 20 de abril de 2015

"Monfurado, A mui ignorada serra do Sul de Portugal"




Em 8 de Janeiro passado publiquei aqui a cópia de uma reportagem de Mário (Vieira) Henriques, publicada no Diário Popular de 13 de Outubro de 1967 -  http://pedrastalhas.blogspot.pt/2015/01/a-mais-bela-maquina-de-viajar-no-tempo.html. Na sequencia de mais uma visita guiada que no sábado dia 18 de Abril tive ocasião de fazer nos Almendres, por ocasião do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, numa organização do Grupo PróÉvora, aqui deixo mais um documento para a história da identificação deste sítio, (ocorrida em 1964), em concreto, um texto de 1965 do Dr. José Fernandes Ventura, (então professor na Escola de Regentes Agrícolas da Mitra (Valverde) ilustrado com fotos do Eng. Albano Salles de Mattos Fernandes. O texto em causa foi publicado no nº 10 da revista da "Lavoura Portuguesa", datada de Outubro de 1965 e é um importante contributo para a história da descoberta, graças em parte às fotos que o acompanham. De facto comprovam aquilo que já sabíamos por testemunhos directos de alguns intervenientes no processo, de que a quando da identificação do sítio por Henrique Leonor de Pina em 1964, alguns meses antes da visita de Fernandes Ventura com o Coronel Afonso do Paço, Presidente da Associação dos Arqueólogos Portugueses em Novembro de 1964, uma parte dos menires tinham já sido recolocados na vertical por iniciativa do proprietário, Eng. Miguel Soares. Nas mesmas fotos é possível observar ainda outros menires, semi-tombados mas ainda na provável "cama" original. O artigo de Fernandes Ventura, retratando um período de importantes descobertas nesta região (Almendres, Gruta do Escoural, Castelo do Giraldo, Corôa do Frade, etc...) termina com uma "nota da redacção" que ilustra nas suas entrelinhas alguma conflitualidade típica entre a pequena classe arqueológica da época, funcionando regionalmente à sombra dos "notáveis" da capital. Depreende-se do corpo do texto que Fernandes Ventura pensava ter descoberto com Afonso do Paço, o "menir dos Almendres", mas pela "nota", dá-se conta conta de que afinal Leonor de Pina já o conhecia, porque o tinha já referido numa entrevista entretanto concedida ao Diário Popular. Esta referencia levanta outra questão. A reportagem do Diário Popular que acima referimos, data de Outubro de 1967, bastante posterior portanto a este artigo da "Lavoura Portuguesa", pelo que haverá uma "entrevista" anterior dao DP, que desconheço, na qual Pina terá feito referencia aos achados dos Almendres, entretanto referidos no relatório não impresso que apresentou à Junta Distrital de Évora, respeitante às suas actividades arqueológicas entre 23 de Março e 3 de Abril de 1964.
Nota: uma explicação para a fraca qualidade dos originais aqui fotografados. O exemplar do nº 10 da Lavoura Portuguesa que possuo em muito mau estado, veio ter às minhas mãos em circunstancias algo fortuitas... Quando por ocasião da coordenação dos trabalhos arqueológicos do Alqueva assentei por meia dúzia de anos arraiais em Mourão, deparei a certa altura com uma antiga casa de lavoura abandonada e completamente devassada. Numa inspeção mais curiosa do que necessária, deparei numa das dependencias com restos de documentação diversa, já semi queimada e, obviamente, deixada para trás. No meio da papelada, chamou-me a atenção a foto do "menir" dos Almendres ilustrando a capa de uma velha e já rasgada revista que resolvi "salvar" do lixo...





Na imagem de cima vários menires já colocados na vertical por iniciativa do Eng. Miguel Soares, sendo bem visível a marca das zonas que estariam semi enterradas, face à diferença óbvia de "colonização " pelos líquenes. Na foto inferior, menires ainda na posição semi tombada, correspondendo ao sector mais a Ocidente do monumento.

Outros menires já na vertical, evidenciado as "marcas" correspondentes às zonas anteriormente tombadas. De notar ainda a densidade de vegetação, posteriormente cortada a pedido de Leonor de Pina para facilitar o levantamento topográfico, única intervenção de campo que faria neste monumento, apenas escavado nos anos 80 por Mário Varela Gomes.

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