segunda-feira, 13 de abril de 2015

Idanha-a-Velha
Ilustração de José Luís Madeira

Na sequencia dos vários registos aqui feitos de materiais de divulgação editados pelo antigo Serviço Regional de Arqueologia do Norte nos anos 80, poderei ter dado ideia que tal estratégia teria sido apanágio especial daquele serviço. No entanto, quer o Serviço do Centro, quer o do Sul, demonstraram preocupações semelhantes. Fiz aqui também referência, a propósito do texto que dediquei á malograda colega Helena Frade, a alguns projectos especialmente marcantes legados por aqueles serviços, nomeadamente pelo Serviço do Centro em que a Lena trabalhou, e entre esses projectos recordei os trabalhos desenvolvidos nas ruínas de Idanha-a-Velha. De facto quando da criação do IPPC em 1980, a chamada "Sé da Egitânia" e as ruínas vizinhas, que Fernando d'Almeida havia adquirido para o Estado nos anos 60 (na sequencia dos seus trabalhos aí feitos em meados dos anos 50), faziam parte do extenso role de "monumentos" que ficaram á guarda daquele Instituto. Com as ruínas e a Sé, vinha também o Senhor Adelino, antigo trabalhador local das escavações de Fernando d'Almeida, que acabaria por ser contratado para guarda das mesmas. Mas, desde que aquele arqueólogo se aposentara e deixara de ter capacidade de intervenção, que o conjunto monumental da Idanha estava no maior abandono. Por outro lado, a própria aldeia passara no pós-25 de Abril por um conturbado período social dada a sua especial situação no contexto da Beira Baixa. Toda a envolvente da aldeia era praticamente propriedade do "Marrocos" (era assim que a população local identificava o latifundiário António Marrocos) e os problemas sociais haviam-se acumulado de tal forma que a Egitânia muitos quilómetros a Norte do Tejo acabaria por ser o local mais a Norte onde ainda chegaram os ecos da Reforma Agrária, com ocupações e tudo... Era este o contexto recente quando no início dos anos 80, como responsável do Departamento de Arqueologia no Museu em Belém, recebi o Presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, Joaquim Mourão (um dos grandes "dinossáurios" do municipalismo democrático, que acabaria a sua reconhecida carreira como presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco). Vinha desafiar-nos para, como apoio da câmara, lançarmos um projecto de revitalização arqueológica da Egitânia, em conjunto com o Museu de Castelo Branco dirigido pelo Dr.António Salvado, que conhecia bem graças ao apoio que nos dava aos projectos do GEPP em Vila Velha de Ródão. Apesar da distância de Lisboa (a A1 terminava em Aveiras de Cima e a A23 era uma utopia) deitámos mãos à obra e depois de algumas viagens exploratórias instalámos no terreno uma equipa dirigida pelo Luís Pascoal e que incluía, entre outros, o Jorge Raposo (do Centro de Arqueologia de Almada). A distância, de facto, não facilitou as coisas mas mesmo assim, foi possível em poucas semanas limpar e ordenar as ruínas, que não viam intervenção há duas décadas, tratar da protecção do célebre baptistério paleo-cristão e resolver algumas questões de drenagem que afectavam gravemente a Sé. Era apenas um primeiro passo de um projecto que teve pelo menos o mérito de chamar de novo a atenção pública para esta importante aldeia histórica do interior profundo (acompanhou-me em reportagem numa das muitas viagens que fiz então à Idanha, o jornalista José Roby Amorim, recentemente falecido, 2013). Pouco tempo depois (1985/86) o Serviço Regional de Arqueologia do Centro, dirigido pelo José Beleza Moreira, asseguraria a continuidade dos trabalhos que envolveram no terreno entre outros o arqueólogo Artur Corte Real, o desenhador José Luis Madeira e o fotógrafo António Ventura. Já após a extinção dos Serviços Regionais de Arqueologia, a Direcção Regional de Coimbra do IPPAR, asseguraria através do Artur Corte Real a continuidade das intervenções em Idanha, que graças aos fundos comunitários e à direcção esclarecida do Arquitecto Alexandre Alves Costa, foram então muito além da Sé e das ruínas arqueológicas, envolvendo aquisição e recuperação do antigo lagar de varas, de vários edifícios da aldeia, das muralhas, etc... já nos primeiros anos da década passada. Ultimamente, as poucas notícias que vou tendo da Egitânia não são muito animadoras, apesar dos grandes investimentos ali feitos, e chegam-me através de alertas "bloguistas" ou "facebookianas" do meu velho amigo Joaquim Manuel Baptista, que julgo residir na própria Egitânia e que na altura dos eventos que aqui recordo, como colaborador do Museu de Castelo Branco, esteve muito envolvido nestes assuntos. A ilustrar estas memórias, registo alguns materiais produzidos nos anos 80 pelo Serviço Regional de Arqueologia do Centro, com destaque para alguns desenhos do José Luis Madeira que o Beleza Moreira fora buscar ao Instituto de Arqueologia de Coimbra, como desenhador, e que regressaria anos mais tarde à sua Universidade de Coimbra, já como arqueólogo.



Desdobrável sobre Idanha-a-Velha, editado pelo ex SRAZC em 1988

Ilustrações de José Luís Madeira que integravam a coleção de postais editados pelo ex SRAZC, na mesma altura


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Texto que acompanhava a coleção de postáis


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