sexta-feira, 10 de abril de 2015



Documentos para a história da recuperação da "Casa de Burgos" (Évora)


O nome que lhe era dado era Palácio Gouveia, mas Túlio Espanca no seu monumental inventário artístico de Évora, identifica-a como "Casa Nobre da Rua de Burgos e foi assim que chegou ao Século XXI. Adquirida pelo Estado poucos anos depois do 25 de Abril, estava destinada a sede da Comissão de Coordenação da Região Alentejo, então presidida pelo Dr. Carmelo Aires. Preparado o projecto de adaptação pelos serviços da Direcção de Edifícios do Sul do Ministério das Obras Públicas que então tinham total autonomia para o efeito -até porque a "casa" em si não estava classificada e o facto de "cavalgar e reutilizar" parte da muralha, incluindo uma torre da Cerca Velha, parecia irrelevante- as obras iniciaram-se com inevitáveis demolições para ganhar o espaço necessário para a instalação da CCDRA. Felizmente, o Dr. Caetano Melo Beirão, colocado em Évora desde finais de 1980 com vista à instalação do Serviço Regional de Arqueologia do Sul, começava a estar atento a situações deste tipo. Com escritório montado no vizinho Palácio Vimioso por amabilidade da Universidade de Évora, não lhe passou despercebida a "pesada" intervenção conduzida na Casa da Rua de Burgos. Pouco tempo depois por intervenção do IPPC as obras seriam interrompidas para que se pudessem realizar sondagens arqueológicas. O resto da história é mais ou menos conhecido. As sondagens rapidamente viraram em escavações e o estaleiro de obra virou estaleiro arqueológico durante vários anos. Como director do Departamento de Arqueologia do IPPC, além de facilitar os meios financeiros para as escavações, tive de justificar repetidas vezes junto da Direcção do Instituto,  por sua vez pressionada pelo Ministério (?) que coordenava as CCDR, a necessidade e importância das escavações em curso para o conhecimento da evolução urbana de Évora. Mas chegou um momento, 1987, em que foi necessário tomar decisões importantes e aí valeu o visionarismo do Professor António Lamas, na altura presidente do IPPC, hoje presidente do CA do Centro Cultural de Belém, que face às hesitações da CCDRA (as condicionantes patrimoniais que se adivinhavam na Casa de Burgos tornavam impraticável o seu uso para aquela Comissão) avançou com uma proposta de afectação do imóvel ao próprio IPPC para instalação do Serviço Regional de Arqueologia do Sul. Em anexo divulgo o documento que celebrou essa afectação, bem como outros documentos referentes ao processo de contratualização do novo projecto de arquitectura que foi necessário encomendar. Apenas mais um dado. O projecto inicial, promovido e pago pelo IPPC, visava apenas a instalação do Serviço Regional de Arqueologia mas a partir de 1989, com o anúncio da criação de uma Direcção Regional do IPPC em Évora com outras valências, acabou por determinar a adaptação a novo programa, conforme decorre de documento, sem data, que também anexamos. No entanto, como é também público, nas vésperas de entrega do edifício recuperado ao dono de obra (1994, já então designado IPPAR), o Secretário de Estado da Cultura Santana Lopes, interferiu diretamente no processo e decidiu que ali deveria também ser instalada a Delegação Regional de Cultura, então dirigida pela minha actual colega Dra Ana Borges, circunstancia que, naturalmente, veio alterar por completo e já sem remédio possível, a lógica de utilização projectada e concretizada em obra.


Aspectos da casa de Burgos, durante as escavações nos anos 80.




Protocolo entre a CCDRA e o IPPC para transferência do imóvel para a área da cultura

Ofício de confirmação da contratação do Arqto José Filipe Ramalho, ao tempo ainda profissional liberal


Informação sobre a proposta de Programa Base






 
Alteração ao programa de utilização do edifício quando se anunciou a extinção do Serviço Regional de Arqueologia (1989) e a próxima criação de uma Direcção Regional do IPPC, facto que veio a acontecer em 1990.


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