Ainda a propósito do Dia Internacional da Mulher e de Irisalva Moita..
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A Casa dos Bicos antes da intervenção da XVII Exposição europeia de arte, ciência e cultura |
Tendo tomado boa nota, entre muitas outras referencias a
propósito do Dia Internacional da Mulher, do comentário no facebook da colega Lídia
Fernandes (arqueóloga da Câmara Municipal de Lisboa e actual responsável pelas
Ruínas do Teatro de Olissipo) sobre a importância da arqueóloga Irisalva Moita
(1924-2009), tomei talvez pela primeira vez consciência de como a história da
arqueologia portuguesa, até data bastante recente, é essencialmente uma
história no masculino. Não que me baseie para aquela conclusão em qualquer estudo
sobre o assunto, ainda que a exploração de tal tema valesse a pena, e aqui fica
o repto para que alguma arqueóloga ou arqueólogo se abalance a isso. Mas a
propósito da memória de Irisalva Moita (deixando para outra ocasião algumas reflexões
sobre o papel de Irisalva Moita e de outras mulheres da sua geração na
Arqueologia portuguesa), não resisto a referir dois pequenos episódios dos
tempos em que tive responsabilidades na área de Arqueologia no IPPC nos anos 80.
Um está directamente relacionado com o teatro romano e teve que ver com um
parecer que foi solicitado ao IPPC ao tempo da Presidência da Câmara de Lisboa do Eng. Krus Abecassis. Estava em causa um ambicioso projecto de “reconstrução”
do teatro romano, com o fim de o colocar, a exemplo do que se passava em muitas
outras cidades do antigo Império, ao serviço de espectáculos de índole variada.
Uma pequena investigação no material de arquivo da antiga Junta Nacional de
Educação, nomeadamente nos relatórios da responsabilidade de Irisalva Moita que
ali dirigira trabalhos no tempo da gestão do General França Borges, permitiu-nos
desde logo identificar graves insuficiências e incongruências do projecto que,
aliás, se viria a confirmar, era antes mais uma manobra de propaganda política
pré-eleitoral. Desde logo porque se ignoravam os antecedentes e o próprio
historial do processo de redescoberta e escavação, ultrapassando a figura da
sua principal responsável, ainda por cima alta funcionária da própria Câmara.
Depois, porque a própria Irisalva Moita, posta anteriormente perante propostas
semelhantes, havia já avaliado objectivamente todas as condicionantes, técnicas
e sociais que era preciso resolver previamente à prossecução de um objectivo
compreensível mas extremamente complexo.
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