Henrique Leonor de Pina (1930-2018)
Henrique Leonor de Pina nos Almendres, em reportagem da RTP de 29 de Agosto de 1970 (A reportagem pode ser vista na íntegra aqui: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/achado-arqueologico-em-almendres/#sthash.ixML1PB8.dpbs ) |
Graças ao Prof. Galopim de Carvalho, soubemos ontem (20 de Maio) do falecimento de Henrique Leonor de Pina, o homem a quem se deve nos longínquos anos 60 a identificação e estudo da Anta Grande do Zambujeiro e do Cromeleque dos Almendres, dois dos mais importantes monumentos megalíticos do território português, e hoje verdadeiros ex-libris (ainda que praticamente abandonados à sua sorte) da arqueologia pré-histórica alentejana. Apesar de já por várias vezes neste blog (que foi buscar à simbologia das "pedras talhas" dos Almendres o seu próprio nome) termos evocado a figura de Henrique Leonor de Pina, há muito retirado das lides arqueológicas, não podíamos deixar de, neste momento de tristeza, realçar de novo o muito que o Alentejo e em particular estas terras de Montemuro, ficam a dever a Leonor de Pina. Por triste coincidência, alguém recordava ontem que passavam precisamente 3 anos sobre o desaparecimento de outra figura, bastante mais jovem, que nos últimos anos de vida tanto dedicara ao estudo dos menires dos Almendres, o malogrado Pedro Alvim (1970-2015).
Para memória futura, aqui se registam alguns testemunhos e documentos, sobre o arqueólogo e o homem agora desaparecido.
O testemunho do Prof. Galopim de Carvalho:
1. Em memória
de HENRIQUE LEONOR PINA (1930-2018)
Faleceu hoje, em Santarém, o
arqueólogo amador que descobriu, identificou e o que primeiro descreveu o Cromeleque dos Almendres.
Com mais três anos do que eu, o Henrique Leonor Pina, aos dezassete anos, quando o conheci, a meados dos anos 40, era um jovem adulto, pleno de entusiasmo e energia, nos seus oitenta a noventa quilos de ossos e músculos. Meu condiscípulo no Liceu Nacional André de Gouveia, em Évora, viera de Montemor para continuar os estudos no antigo 6º ano (actual 10º), entrara eu no 4º. Nesse tempo, o Latim, associado à disciplina de Português, tinha lugar de relevo no ensino ao longo de três anos lectivos, entre os 4º e 6º anos.
Tornámo-nos amigos. Fazíamos o mesmo percurso, por São Mamede e Buraco dos Colegiais, a caminho do liceu, ele vindo das Portas de Alconchel, eu dos arredores da Porta Nova. Nos meus verdes anos de adolescente, ainda mantinha o ar de rapaz miúdo ao lado de um adulto que já fazia a barba. Nesse contraste, ele via-me como aquilo mesmo que eu era e eu olhava-o como um crescido, capaz de me ensinar coisas e dar protecção.
Foi nesta medida que, numa das caminhadas matinais em demanda das aulas , ele, já então detentor de uma cultura invulgar num jovem da sua idade, muito bom aluno em todas as disciplinas, sabedor de tudo e mais alguma coisa, me perguntou:
- E o Latim? Estás a gostar?
- Sinceramente, não. – Respondi, meio envergonhado. – A professora é uma chata e as aulas são uma seca.
- E a História?
- Gosto mais. O professor é bom. É surdo como uma porta, mas consegue prender a atenção da malta. Está sempre de mão em concha atrás da orelha ou, então, a molhar o dedo mendinho na boca e a enfiá-lo, ouvido adentro, como que a querer desentupi-lo. – Comentei, num jeito de quem goza com a desgraça alheia.
A partir de então, os minutos da nossa caminhada conjunta passaram a ser as minhas aulas da, então para mim ainda estranha, língua de Virgílio, ocupadas com dozes maciças de nominativo, acusativo, genitivo, dativo, ablativo, vocativo e textos incapazes de despertar o interesse dos alunos. Foi com ele e com outros jovens conterrâneos da mesma geração (em especial, com Mário Ruivo, Lima de Freitas, Marcolino Gramacho, Júlio Roberto, Fernando e David Bragança Gil), não na escola, que aprendi a gostar de saber.
O Pina foi um dos meus companheiros de adolescência no campismo selvagem que fizemos nos campos do concelho de Évora. Mais tarde tornámo-nos compadres, tendo sido padrinho de baptizado do meu filho Nuno.
Corria o ano de 1964, juntámo-nos de novo em Évora, eu como geólogo, ele como arqueólogo. Eu iniciava ali a orientação de um grupo de alunos finalistas de Geologia, empenhados no trabalho de campo conducente à execução da folha nº 40-A (Évora), da Carta Geológica de Portugal, na escala de 1:50 000, numa frutuosa colaboração da Faculdade de Ciências de Lisboa com os Serviços Geológicos de Portugal e a Junta Distrital de Évora. O Pina voltava ali como arqueólogo, em trabalho de escavação da Anta Grande do Zambujeiro, na vizinhança da herdade da Mitra (Valverde, freguesia de Nossa Senhora da Tourega), onde funcionava a Escola de Regentes Agrícolas de Évora.
Como amador que era, este meu compadre, licenciado em História e Filosofia, fazia as suas campanhas arqueológicas por conta própria com o suporte da referida Junta Distrital, que assumia o pagamento das jornas da meia dúzia de homens e mulheres que, anos a fio, integraram o seu grupo de trabalho. Trabalhadores rurais, inteligentes e hábeis no terreno, como um qualquer aluno universitário em trabalho de estágio, eram alegres e brejeiros no convívio, eles e elas, resistentes ao cansaço, ao sol e ao calor do estio.
Num belo dia de Agosto, um pastor, homem de meia idade, conhecedor de tudo o que eram terras em redor, passando por ali, esteve que tempos a observar o trabalho dos camaradas na dita escavação e, de vez em quando, a dar a sua opinião. Dirigindo-se ao Pina, perguntou-lhe se já tinha ido ao Alto das Pedras Talhas, a poucos quilómetros dali, explicando que as grandes pedras ali reunidas tinham a forma ovóide dos grandes recipientes de barro em que, no Alentejo, se fermentava o mosto e guardava o vinho, oferecendo-se para o conduzir até lá.
Particularmente sensível à perfeita e sugestiva descrição feita pelo pastor, o Pina aceitou, de imediato, a oferta e lá foram no dia seguinte, a caminho da descoberta (em termos arqueológicos) do recinto megalítico dos Almendres.
Foi o deslumbramento! O sítio arqueológico que se guindou à condição de maior conjunto de menhires da península ibérica e um dos mais importantes da Europa, estava à vista de quem o quisesse ver, na freguesia de Nossa Senhora de Guadalupe, com fácil acesso a partir da estrada nacional de Évora para Lisboa, ao km 10. Uma pérola, em que nunca ninguém tinha reparado
Deste monumento restam cerca de noventa monólitos (desde pequenos blocos, pouco ou quase nada afeiçoados, a outros maiores lembrando as ditas talhas), num estado de conservação ainda muito bom, uns com pequenas covas centimétricas e outros decorados, exibindo relevos ou gravuras.
Numa história recente, este local foi usado como pedreira de onde se retiraram e destruíram vários destes grandes blocos, todos eles de rocha granitóide (granodiorito e quartzodiorito de várias proveniências, alguns transportados de distâncias superiores a 2 km).
Têm sido muitos e importantes os estudos realizados por diversos autores sobre esta relíquia neolítica, testemunho de várias idades, ao longo dos V e IV milénios antes de Cristo, aceitando-se hoje que “formaram dois recintos erguidos em épocas distintas, geminados e orientados segundo as direcções equinociais”.
Com mais três anos do que eu, o Henrique Leonor Pina, aos dezassete anos, quando o conheci, a meados dos anos 40, era um jovem adulto, pleno de entusiasmo e energia, nos seus oitenta a noventa quilos de ossos e músculos. Meu condiscípulo no Liceu Nacional André de Gouveia, em Évora, viera de Montemor para continuar os estudos no antigo 6º ano (actual 10º), entrara eu no 4º. Nesse tempo, o Latim, associado à disciplina de Português, tinha lugar de relevo no ensino ao longo de três anos lectivos, entre os 4º e 6º anos.
Tornámo-nos amigos. Fazíamos o mesmo percurso, por São Mamede e Buraco dos Colegiais, a caminho do liceu, ele vindo das Portas de Alconchel, eu dos arredores da Porta Nova. Nos meus verdes anos de adolescente, ainda mantinha o ar de rapaz miúdo ao lado de um adulto que já fazia a barba. Nesse contraste, ele via-me como aquilo mesmo que eu era e eu olhava-o como um crescido, capaz de me ensinar coisas e dar protecção.
Foi nesta medida que, numa das caminhadas matinais em demanda das aulas , ele, já então detentor de uma cultura invulgar num jovem da sua idade, muito bom aluno em todas as disciplinas, sabedor de tudo e mais alguma coisa, me perguntou:
- E o Latim? Estás a gostar?
- Sinceramente, não. – Respondi, meio envergonhado. – A professora é uma chata e as aulas são uma seca.
- E a História?
- Gosto mais. O professor é bom. É surdo como uma porta, mas consegue prender a atenção da malta. Está sempre de mão em concha atrás da orelha ou, então, a molhar o dedo mendinho na boca e a enfiá-lo, ouvido adentro, como que a querer desentupi-lo. – Comentei, num jeito de quem goza com a desgraça alheia.
A partir de então, os minutos da nossa caminhada conjunta passaram a ser as minhas aulas da, então para mim ainda estranha, língua de Virgílio, ocupadas com dozes maciças de nominativo, acusativo, genitivo, dativo, ablativo, vocativo e textos incapazes de despertar o interesse dos alunos. Foi com ele e com outros jovens conterrâneos da mesma geração (em especial, com Mário Ruivo, Lima de Freitas, Marcolino Gramacho, Júlio Roberto, Fernando e David Bragança Gil), não na escola, que aprendi a gostar de saber.
O Pina foi um dos meus companheiros de adolescência no campismo selvagem que fizemos nos campos do concelho de Évora. Mais tarde tornámo-nos compadres, tendo sido padrinho de baptizado do meu filho Nuno.
Corria o ano de 1964, juntámo-nos de novo em Évora, eu como geólogo, ele como arqueólogo. Eu iniciava ali a orientação de um grupo de alunos finalistas de Geologia, empenhados no trabalho de campo conducente à execução da folha nº 40-A (Évora), da Carta Geológica de Portugal, na escala de 1:50 000, numa frutuosa colaboração da Faculdade de Ciências de Lisboa com os Serviços Geológicos de Portugal e a Junta Distrital de Évora. O Pina voltava ali como arqueólogo, em trabalho de escavação da Anta Grande do Zambujeiro, na vizinhança da herdade da Mitra (Valverde, freguesia de Nossa Senhora da Tourega), onde funcionava a Escola de Regentes Agrícolas de Évora.
Como amador que era, este meu compadre, licenciado em História e Filosofia, fazia as suas campanhas arqueológicas por conta própria com o suporte da referida Junta Distrital, que assumia o pagamento das jornas da meia dúzia de homens e mulheres que, anos a fio, integraram o seu grupo de trabalho. Trabalhadores rurais, inteligentes e hábeis no terreno, como um qualquer aluno universitário em trabalho de estágio, eram alegres e brejeiros no convívio, eles e elas, resistentes ao cansaço, ao sol e ao calor do estio.
Num belo dia de Agosto, um pastor, homem de meia idade, conhecedor de tudo o que eram terras em redor, passando por ali, esteve que tempos a observar o trabalho dos camaradas na dita escavação e, de vez em quando, a dar a sua opinião. Dirigindo-se ao Pina, perguntou-lhe se já tinha ido ao Alto das Pedras Talhas, a poucos quilómetros dali, explicando que as grandes pedras ali reunidas tinham a forma ovóide dos grandes recipientes de barro em que, no Alentejo, se fermentava o mosto e guardava o vinho, oferecendo-se para o conduzir até lá.
Particularmente sensível à perfeita e sugestiva descrição feita pelo pastor, o Pina aceitou, de imediato, a oferta e lá foram no dia seguinte, a caminho da descoberta (em termos arqueológicos) do recinto megalítico dos Almendres.
Foi o deslumbramento! O sítio arqueológico que se guindou à condição de maior conjunto de menhires da península ibérica e um dos mais importantes da Europa, estava à vista de quem o quisesse ver, na freguesia de Nossa Senhora de Guadalupe, com fácil acesso a partir da estrada nacional de Évora para Lisboa, ao km 10. Uma pérola, em que nunca ninguém tinha reparado
Deste monumento restam cerca de noventa monólitos (desde pequenos blocos, pouco ou quase nada afeiçoados, a outros maiores lembrando as ditas talhas), num estado de conservação ainda muito bom, uns com pequenas covas centimétricas e outros decorados, exibindo relevos ou gravuras.
Numa história recente, este local foi usado como pedreira de onde se retiraram e destruíram vários destes grandes blocos, todos eles de rocha granitóide (granodiorito e quartzodiorito de várias proveniências, alguns transportados de distâncias superiores a 2 km).
Têm sido muitos e importantes os estudos realizados por diversos autores sobre esta relíquia neolítica, testemunho de várias idades, ao longo dos V e IV milénios antes de Cristo, aceitando-se hoje que “formaram dois recintos erguidos em épocas distintas, geminados e orientados segundo as direcções equinociais”.
No dia seguinte, o Pina levou-me
a admirar este magnífico património que pôs o Alentejo e Portugal na rota de
especialistas e de cidadãos interessados neste domínio do saber. Vi no pormenor
e ouvi as primeiras explicações de um estudioso que, sendo amador, ficou na
história de um dos mais importantes achados arqueológicos de Portugal.
(20 de Maio de 2018- 15h)
2. Dados biográficos de Henrique Leonor de Pina, segundo o jornal "O Almeiriense" de 3 de Abril de 2014, por ocasião da inauguração de uma exposição de pintura, actividade artística a que HLP se dedicaria no Outono da vida:
Nasceu em
Almeirim 1930, onde passou parte da sua infância pois acompanhou os seus pais
em trabalho por Montemor-o-Novo e Évora. Foi nesta cidade que terminou o ensino
secundário e o Magistério Primário, aí casou e com 20 anos regressou à sua
terra natal como professor primário.A necessidade de emprego não invalidou a
sua vontade inquebrantável de prosseguir os estudos no ensino universitário que
concretizou como trabalhador estudante: matriculou-se em Direito mas, logo
depois, o seu gosto pela História falou mais alto vindo a licenciar-se em
Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi
chefe de departamento de Recursos Humanos na empresa “Efacec” em
Estarreja/Porto transferindo-se depois para Santiago do Cacém e Lisboa. Nas suas
férias, passadas em Évora, dedicou-se com paixão à descoberta, estudo e
escavações de monumentos megalíticos da pré-História (Antas, menhires e
Cromleques) da região alentejana, em trabalhos de campo que implicavam a
constituição de equipas e estreitos contactos com pastores e trabalhadores
rurais.Nos anos 70 voltou a lecionar no ensino secundário em Lisboa, na Escola
Técnica Machado de Castro e Liceu MªAmália Vaz de Carvalho.
Homem de cultura, democrata e cidadão interveniente-Desde jovem foi leitor compulsivo
e sedento de conhecimentos,sensível às desigualdades e injustiças sociais. Com
um elevado sentido cívico foi oposicionista e resistente à ditadura
salazarista. Enquanto professor em Almeirim deixou nos seus alunos uma abertura
de ideias inovadoras e pouco habituais. Em 1957 quando decorria a campanha
eleitoral para a Presidência da República convidou os seus alunos a saudarem o
Gen.Humberto Delgado, candidato da oposição à ditadura, quando este passou por
Almeirim sabendo que os resultados eleitorais viriam a ser falsificados pelo
regime da opinião única. Foi um momento de grande euforia e esperança popular
que perpassou por todas as gerações até aos mais jovens.
Homem criativo de letras e artes Pelo outono da idade mostrou a
sua jovialidade intelectual e criativa escrevendo “Os Papéis de S.Roque”,
romance histórico passado em Almeirim cuja edição(2005), apoiada pelos seus
antigos, alunos esgotou em pouco tempo. E agora surpreende-nos com a sua
pintura, faceta criativa de artista plástico, guardada na sua intimidade e
desconhecida de todos. Dir-se-ia que “nunca é tarde…” e temos agora a
possibilidade de apreciarmos a sua Pintura na exposição patente na Galeria
Municipal de Almeirim entre 12 Abril e 3 Maio 2014.
3. Reportagem sobre as escavações de HLPina, publicada por Mário Ventura Henriques, no Diário Popular de 13 de Outubro de 1967: (http://pedrastalhas.blogspot.pt/2015/01/a-mais-bela-maquina-de-viajar-no-tempo.html
4. Entrevista a Henrique Leonor de Pina, conduzida por António Alegria (actual Director do Museu de Évora) e Carla Magra, e publicada no Boletim Cenáculo, nº 1, publicação on-line daquele Museu que, inexplicavelmente se encontra "of-line", tal como o próprio SITE do Museu. Recorde-se que parte do importante espólio arqueológico da ANTA GRANDE DO ZAMBUJEIRO se encontra actualmente exposto naquele Museu (após ter sido religiosamente guardado por HLP que apenas o entregou ao extinto Servioço Regional do Sul, uma vez dadas garantias de que o mesmo viria a ser exposto publicamente, como veio a acontecer após as obras de remodelação do Museu de Évora):
Nos anos 60, o arqueológo Henrique Leonor
Pina, na companhia do Galopim de Carvalho e de José Pires Gonçalves, entre
outros, protagonizou uma série de achados arqueológicos que enfatizaram a
importância e extensão da cultura megalítica no território do Alentejo Central.
O ponto culminante da sua acção foi, sem dúvida, em
1964, a descoberta e as escavações arqueológicas realizadas na Anta Grande do
Zambujeiro, um dos maiores monumentos funerários da Península Ibérica. Esse
trabalho deu origem a um importante espólio – a colecção Henrique Leonor Pina
-, que hoje integra as colecções do Museu de Évora, num inventário que abrange
cerca de duas mil entradas.
Do seu trabalho faz parte, ainda, a identificação de
um importante conjunto de menires, cromeleques e monumentos funerários, só
possível pela estreita ligação do arqueólogo com a população local, que Leonor
Pina entendia como verdadeiros interlocutores. Com os pastores, agricultores e
caçadores criou uma rede de prospectores do território, entre os quais recrutou
os auxiliares para participar nas escavações e com quem, numa perspectiva
antropológica universalista, discutia as interpretações simbólicas dos achados
arqueológicos.
Ao contrário do que é comum pensar-se, a Anta Grande
do Zambujeiro sofrera um longo processo de alterações, e a escavação
arqueológica, realizada com escassos meios, defrontou problemas complexos não
só devido as dimensões do monumento, mas também pela imediata necessidade de
intervir para conservar a sua coerência estrutural.
Com o seu cunho muito pessoal e emotivo, Henrique
Leonor Pina reconstitui nessa entrevista, sempre a volta da Anta Grande do
Zambujeiro, a memória desses anos, permitindo nos vivenciar o contexto no qual
as escavações foram realizadas, num tempo em que a acção do arqueólogo passava
muito pelo empenhamento individual, mas que também estava aberto a uma utopia
comunitária. Como muitas vezes defendeu, havia uma estreita ligação entre os
diversos monumentos megalíticos, numa ocupação estruturada e simbólica da
paisagem, e só uma forte ligação da população local com esse património
disperso é que se poderia pensar no conhecimento e preservação desse conjunto,
intimamente ligado a ocupação do território.
Podemos
deixar de lado o suspense e ir directo ao assunto. Como é que o Henrique Leonor
Pina descobre a Anta Grande do Zambujeiro?
Em Março de 1964, a
Anta do Barrocal, na freguesia da Nossa Senhora da Tourega, em Évora, está numa
situação crítica, ameaçando ruir, por causa de umas chuvadas muito intensas que
tinha havido, e eu vim aqui fazer o trabalho de consolidação para impedir a sua
queda. Levantaram-se um pouco os esteios, veio um homem das pedreiras ensinar
como se fazia aquilo, e consolidou-se a estrutura. A Anta havia sido estudada
no tempo do Leite de Vasconcelos (1898) e já estava classificada como
Monumento Nacional. De maneira que fiz ali uma primeira sondagem, apareceram
muitos fragmentos de ídolos-placa. A escavação foi realizada em condições muito
adversas, porque chovia muito, estava tudo enlameado.
Foi nessa altura, no
dia 24 ou 25 de Março, que me aparece o guarda da Mitra, o Sr. António Rebocho,
mais conhecido como o “ti” António Gadunhas, um verdadeiro camponês arqueólogo,
que veio me dizer: senhor fulano, ainda bem que aqui está. Se viesse cá no
Verão, eu poderia lhe mostrar algumas coisas. Chovia que Deus a mandava.
Esperar pelo Verão? Não, vamos já a isso. Eu tinha um dois cavalos, fomos com o
dois cavalos. A primeira coisa que vamos fazer, disse-me ele, chamam-lhe o
cabeço da Anta, mas não é anta nenhuma, há um chapéu, mas não vejo nenhuma
anta. Eu, quando cheguei lá, fiquei com os olhos em bico. Passámos a ribeirinha
de Valverde, subimos, fomos ver aquilo, depois viemos atrás, ver a entradinha.
Aqui está uma Anta, sim, mas tem… dez metros de altura!
E teve a
certeza, desde o início, que era uma Anta?
Tive a certeza.
Primeiro, aquilo era um monte artificial. Passados alguns dias, eu pedi ao
Galopim de Carvalho que passasse por lá e identificasse qual daqueles montes
não era um monte natural. Ele chegou aí a uns cinquenta metros e confirmou logo
aquele como um monte artificial.
Antes de contar-nos
como se realizaram as escavações arqueológicas, podemos recuar um pouco no
tempo. Quando é que começa a interessar-se pela arqueologia?
Muitos dizem: nasci
arqueólogo, o que não é mais que um mito. Quando fiz o sexto ano do liceu, em
Montemor, vim para Évora, morar no princípio da Rua dos Penedos. Ainda fiz
exame de admissão para Direito em Lisboa, mas não me adaptei aquilo, e preferi
seguir o Magistério Primário. Lembro que uma vez fui ao Alto de São Bento e, aí
sim, admito que fosse um certo fado, encontrei um machado neolítico,
fragmentado, que esteve muito tempo em cima da mesa, até que a minha mulher o
deitou fora. Talvez tenha sido o meu primeiro contacto, mas isso não foi de
nascença.
E os primeiros
trabalhos em arqueologia?
Exactamente, quando é
que eu vou fazer o meu primeiro trabalho? Cinco ou seis anos mais tarde, quando
a minha filha já era nascida, por volta de 1955, é quando eu faço o estudo da
Anta da Herdade do Duque, em Reguengos de Monsaraz. Pedi uma carta ao Manuel
Heleno, que era director do Museu Nacional de Arqueologia, pensei que deveria
ser o responsável por aquilo… e portanto esse foi o meu verdadeiro início na
arqueologia, que depois é publicado na Revista de Guimarães (Pina: 1961a). Escavei em
companhia do meu amigo Manuel Sapatarra, e depois entregamos os achados ao
padre Júlio de Monsaraz.
Trabalhei depois com o
Galopim de Carvalho na foz do Leça, no Porto de Leixões (Pina, 1961b). Estávamos a
trabalhar por grupos, um constituído por biólogos, estudavam os materiais que
diziam respeito a micro flora e a micro fauna; um outro grupo estudava a parte
física da geologia; e o Galopim de Carvalho que estudava, digamos assim, a
parte “móvel” da geologia, o movimento das areias e do lodo; e eu que ia a
procura das pedras. Tive a sorte de encontrar, mesmo ao lado do mercado de
Matosinhos havia umas barreiras, e encontrei umas pedras roladas que serviriam
para pesos de rede, sobretudo para poderem ser lançadas. Desse trabalho fiz um
estudo com um sistema de classificação identificando as variantes segundo o
peso e tamanho.
Depois foi a Anta da
Velada das Éguas, da Herdade do barrocal, na Freguesia da Tourega, no concelho
de Évora, com o Galopim de Carvalho, publicada no Boletim da Junta Distrital,
em 1962. Aquilo está muito bem publicado porque o Galopim de Carvalho desenhou
aquelas placas todas, por um sistema que ele inventou, realizando os desenhos a
partir dos negativos.
Com o é que surgiu o
projecto de escavar a Anta Grande do Zambujeiro? Foi um projecto pessoal, ou
foi decidido pela junta Distrital…
Foi um projecto
pessoal apoiado pela Junta Distrital, que só pagava aos trabalhadores e a
gasolina do dois cavalos. Eu fui lá com o Armando Perdigão, presidente da Junta
Distrital e da Câmara Municipal de Évora, mostrei-lhe aquilo, depois o
fotógrafo da Câmara, o David de Freitas fotografou-a.
E quem era a equipa,
onde é que foi recrutar a equipa?
A equipa era
constituída exclusivamente por camponeses. O Galopim de Carvalho não podia,
estava em França, realizando o doutoramento, e esteve ausente três, quase
quatro anos. Foram cinco anos, cinco campanhas, e foi num desses anos em que
participou o Bragança Gil, não me recordo exactamente, acho que foi no
terceiro. Alguns eram parentes daqueles que tinham escavado comigo a Anta da
Velada das Éguas (Pina e Carvalho, 1962). Eram muito novos, e alguns deles
morreram em combate na Guiné, outros dispersaram. Havia ainda parentes do
Augusto Machado, que passou a funcionar como o chefe da equipa, ele está vivo,
e a Joaquina, que está um pouco doente.
Os trabalhadores são
recrutados em Valverde. E quanto tempo durava as campanhas? Eram as suas
férias…
Três semanas, eu só
tinha quatro semanas de férias no Verão. O material era requisitado
previamente. Eu escrevia ao presidente da Junta Distrital, o Armando Perdigão:
preciso de tantos carrinhos, tantas pás, picaretas, picolas, etc. Fazia uma
lista dessas coisas, e ele, por sua vez, requisitava à Junta Autónoma das
Estradas. Trabalhavam homens e mulheres, porque as mulheres eram importantes,
até para fazer a comida, para buscar a água, e para estar a peneirar, e é por
isso que uma delas encontra os fragmentos da jóia de ouro e as esconde no
avental: Ah, julgava que isso fossem cápsulas (risos).
E como é que evolui o
processo de escavação? Só para lembrarmos da situação inicial, a anta
encontrava-se completamente coberta dentro de uma mamoa com cerca de 50 metros
de diâmetro, e só os topos dos esteios da câmara funerária estavam visíveis.
No primeiro ano foi
limpar a área, aquilo era extenso, no princípio eu não tinha tempo, e então
pedi que viessem com uma máquina para remover a terra, a parte de cima que
tinha sido lavrada, havia muito mato. Eu fiz ali sondagens, não havia espólio
nenhum, nada.
Só depois desses
trabalhos é que começa a aparecer o chapéu, antes só umas pontas dos esteios
que durante muito tempo apresentavam uma coloração diferente, porque apanhavam
sol.
Logo abaixo desse
nível começam a aparecer coisas que eu julgo que já são da Idade do Ferro. A
certa altura aparece um fragmento de vidro fenício, talvez proveniente de
trocas comerciais.
Eu digo, bom, isso vai
ser uma coisa notável, e depois vamos continuar, continuar, continuar, de
maneira que no segundo ano, já se começa ver a hipótese de entrar no corredor,
tirando-lhe o miolo, porque uma parte de cima era escorrimento das águas, quer
dizer, as águas iam se infiltrando, e a parte de cima era sobretudo um composto
de areias lavadas, numa camada com cerca de trinta centímetros.
Então, no terceiro ano a escavação avança lentamente pelo corredor, que
tem cerca de 12 metros de comprimento, um metro e meio de largura por dois de
altura, coberto pelas, comparativamente, pequenas lajes que se uniam umas às
outras.
Isso. A lâmina de
bronze foi encontrada na parte superior, mesmo sobre as pedras da cobertura do
corredor, foi uma das primeiras coisas que encontrei. Aliás, o corredor estava
dividido em dois. Um deles estava completamente tapado pelo lado Sul,
entulhado, porque aquilo tinha desabado. Em algum momento deixou de estar funcional,
e ali praticamente não encontrei espólio. E havia uma parte, ainda lá está, com
aqueles esteiozinhos a sustentar as pedras do corredor. Mas, quando chegámos lá
a frente, próximo da padieira, eu vejo que nós não podemos avançar mais, havia
o risco de ficarmos soterrados.
Como sabem, a câmara
funerária é formada por sete esteios, com cerca de 8 metros a partir da
superfície do solo, coberta por uma única pedra.
Mas a pedra de
cobertura da câmara, o chapéu, estava partido desde o início das escavações?
O chapéu estava
partido, aliás pode-se ver, os fragmentos estão lá sem nenhum prejuízo, porque
a única coisa que fizemos foi desloca-lo para o lado de fora, porque a partir
de uma certa altura eu tinha receio que aquilo caísse. Escoramos, levantamos
aquilo tudo, tanto que as coisas estão lá. As varas de aço de furar para por
dinamite que se usavam nas pedreiras ali ao lado, foram introduzidas nos
esteios para servir de escoras.
Mas quem dinamitou?
Tinha sido dinamitado antes?
Não, não, ninguém
dinamitou. Havia uma pedreira da GRAEL ao lado, e havia um senhor que já
faleceu, o Francisco Mendes, que dirigia o corte das pedras, era canteiro de
profissão. Então, ele foi lá com um guincho mecânico, e com outros dois manuais
e fizemos as movimentações das pedras.
O chapéu estava
fragmentado e abateu, o que, na minha opinião, deve ter sido causado por um
terramoto, porque para uma estrutura daquelas enterrada fragmentar-se, é
preciso um abalo sísmico enormíssimo. Bom, a certa altura aquilo abate-se e
passa a haver enterramentos em cima, porque não se podia entrar pela parte
debaixo, porque um dos esteios, o quarto, havia colapsado para o interior.
A pedra de cobertura da câmara estava deslocada e fragmentada, havia
necessidade de intervenção na estrutura do monumento a medida que se escavava.
O processo era muito complexo…
Nós, antes de fazermos
os levantamentos, fizemos, pela parte de fora, o que eu chamava escavar a raiz,
quer dizer, a base do esteio, que estava quebrado, e encontro por baixo cerca
de dois metros e tal, três metros, de brita e areia, e eu me lembro de ficar
emocionado, ao pensar que essa terra desde que foi posta aqui, há cinco mil
anos, nunca mais ninguém lhe mexeu.
Houve ainda
necessidade de fazer uma outra modificação, um esteio do corredor, ou melhor,
onde encostava a pedra padieira. Havia uma pedra que estava numa posição
instável, que eu chamo a pedra de padieira. Era a pedra que tapava a diferença
entre a altura do corredor e a altura da câmara. Sendo assim aliviou-se esse
esteio para esse lado e levantou-se, puxou-se esse que estava inteiro, para
garantir um paralelismo em relação ao outro.
Bom, uma vez, eu
estava muito entusiasmado, quando começamos a levantar a pedra, eu estava muito
entusiasmado ao lado do guincho, quando um dos cabos se rompeu e a pedra abateu
cinquenta centímetros. Se me caísse em cima, tinha sido morto no campo de
batalha, não é, enterrado com todas as honras dos ladrões de túmulos (risos).
De todos os materiais
que encontrou qual foi aquele que o mais surpreendeu na Anta Grande do
Zambujeiro?
Um deles foi o ídolo
de cerâmica com olhos da idade do ferro, outra, a taça ou vaso com decoração
simbólica (ME 3816). Quando se encontrou o primeiro fragmento… eu
discutia os achados com os meus homens, homens e mulheres, não é, porque o
senso comum é útil para a interpretação simbólica. O que é que vêem? E eles me
disseram: Isto é um sol. Todas as pessoas estavam apontando para um símbolo, é
natural que fosse assim. Eu disse: isto é um olho. Quando, no ano seguinte,
aparece o segundo fragmento da peça, vieram logo dizer: Olhe, está cá, o senhor
dizia e era verdade, cá está o outro fragmento com a representação do olho. As
duas partes fazem um olhar.
Eu conhecia materiais
já escavados, encontrados pelo Veiga Ferreira, vasos com aquelas formas, com o
nariz, no fundo uma representação humana. Hoje discute-se se aquele
triângulo-nariz não seria a representação do ser feminino, o púbis, o que é
possível porque uma coisa é pensar-se no vaso como a representação de uma face
e outra coisa é pensar-se na representação de um corpo. Portanto, eu tinha uma
interpretação diferente, a minha interpretação era mais cultural que o das outras
pessoas. E para quê eram os olhos? Para ver, como acontece com os barcos que
tem um olho de um lado e do outro, que é para verem o caminho. As pessoas
continuam a por o São Cristóvão para ajudar no caminho, continuam a fazer as
mesmas coisas. Essas eram as nossas conversas e isso era importante.
Não há nenhuma ossada
completa no espólio da Anta Grande do Zambujeiro?
Havia o problema da
recolha e de levantamento dos ossos. Nós levantamos o que foi possível. Nós
embrulhamos os fragmentos de ossos que iam se desfazendo. Mas não há
propriamente nenhum conjunto, uma ossada. Havia tíbias, costelas…
E o Marcelino?
Chamavam-lhe o
Marcelino, porque era o mais próximo de um indivíduo, via-se que estava ali,
sei que ele tinha a cabeça caída, muito próxima da bacia, mas era sobre as
coxas. Sim, há na colecção restos de dentes, maxilares, e algumas costelas. O
Marcelino não tinha placa. A mandíbula estava caída sobre as coxas, o que dava
a ideia de ele estar encostado, talvez tenha sofrido um processo de mumificação,
com ervas e salitre, um pouco a semelhança das práticas da América do Sul. Mas
o Marcelino estava com pedras à volta, o que significava que o corpo não se
segurava, não havia rigidez cadavérica, porque não foi feito assim. É a única
coisa que eu posso concluir, porque desapareceram as articulações, etc. Também
pode acontecer que houvessem mumificações fora da Anta, e que colocassem os
ossos em colecções, porque houve forma de inumações em que o corpo era
representado somente pelas partes mais duráveis.
E como é que
organizava as suas pesquisas de campo, que incluem a identificação de muitas
antas e menires? Além do Cromeleque dos Almendres que é concomitante a Anta
Grande do Zambujeiro, podemos mencionar a descoberta, em 1966, do Cromeleque da
Portela de Mogos, em 1967, o menir da Herdade das Reboladas, em 1969 o menir da
Herdade da Correia, etc., ao ponto de ficar conhecido como o “pai dos menires”?
Foi o Otávio Veiga
Ferreira, do Museu dos Serviços Geológicos que brincava: aqui está o homem que
inventou os menires, o homem descobridor dos menires. Encontrei, encontrei como
as pessoas encontram as coisas, têm o olho orientado em determinado sentido.
Além disso, eu tenho uma rede enorme de colaboradores. Esses colaboradores são
os caçadores, os guardas rurais, os pastores, são as pessoas com que eu ando.
Eu contei o caso da Anta Grande do Zambujeiro, mas depois eu fazia passagens de
slides, nas aldeias, e vinha tudo, os gaiatos a correr, eu a Maria de Jesus
Zorrinho a passar aquilo, era preciso que eles vissem aquilo, e depois aparecia
um homem e dizia: ah, eu estive a trabalhar num olival… Um homem que estava a
trabalhar me disse que havia uma quantidade de coisas como estas… uns
cilindros, estavam uns cilindros ao pé da horta, foi quem me mostrou o menir da
Herdade do Pinheiro.
Foi a primeira pessoa
a tomar atenção aos menires, a sua localização e ver que havia um padrão para o
seu levantamento.
É como eu costumo
dizer, às vezes, a gente olha mas não vê. Quando o senhor António Gadunhas veio
me indicar o que era um dólmen enterrado, e outra coisa que era o Cromeleque
dos Almendres, eu chorei, fiquei muito comovido, mais com o cromeleque do que
com a própria Anta Grande do Zambujeiro. Porque com a Anta era uma espécie de
proposta que eu havia de encontrar coisas em condições diferentes. E foi, eu
fiquei convencido que, nos grandes dólmens, a maior parte da riqueza pode estar
na parte exterior da mamoa…
…No átrio.
Se eles já
desapareceram, como aconteceu com as antas menir, desapareceu com ela essa
informação. Não é na parte de dentro que está a arca das libras. Aí podem estar
os últimos enterramentos, e há dados que podem ser fundamentais para uma
datação. O que pode acontecer com a Anta Grande do Zambujeiro, que pode datar o
sismo que eu julgo que afectou, e muito, o monumento…
A escavação da Anta
Grande foi o seu último trabalho de campo?
Foi. Nos dias da
escavação, havia ao fim da tarde uma exposição do material que tinha aparecido.
As pessoas de Valverde, o Augusto Farjado, a Joaquina, o António Sabina, o
Daniel Garrinho, toda a gente da comunidade, os homens, as mulheres, os
gaiatos, toda a gente vinha ver o que estava a acontecer nas escavações. E eu
depois disse ao Armando Perdigão que o que havia a fazer era dar a guarda do
monumento à comunidade de Valverde. Era a única forma de manter a salvaguarda
do monumento. O presidente do Instituto de Agronomia, o Aires de Azevedo, me
disse que a melhor coisa a fazer era uma espécie de cobertura, e fazer uma
exposição local com réplicas de peças encontradas e uns painéis explicativos.
Houve mesmo, nessa época, uma exposição em Évora, em que as peças foram
apresentadas como “artesanato pré-histórico”, mas foi importante para a
população da cidade, todos vieram ver a exposição.
E depois o material é
depositado na sua casa…
Quando me entregaram o
material em casa, eu estava de mudança para o Porto. Os materiais estiveram
então na minha casa no Porto, depois vieram comigo de novo para o Sul, mas eu
não tinha condições de empreender uma investigação daquela envergadura, nem sequer
de espaço, eu trabalhava como professor, e era preciso a formação de uma equipa
universitária. Em 1988, mais uma vez respondendo as solicitações das entidades
púbicas, deposito, ou melhor, o espólio da Anta Grande do Zambujeiro é
transferido para aos Serviços de Arqueologia do Sul, e logo de seguida fica em
depósito no Museu de Évora.
5. Bibliografia arqueológica de Henrique Leonor de Pina:
Pina (1961a), Henrique Leonor, “A Anta da Herdade do Duque
em Reguengos de Monsaraz” in Revista de Guimarães, volume LXXI,
n.ºs 1-2. Guimarães: Sociedade Martins Sarmento, 1961.
Pina (1961b), Henrique
Leonor, “Nota sobre as indústrias líticas da foz do Leça, Leixões” in Boletim
do Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico da Faculdade de Ciências de
Lisboa, n.º 9, Lisboa: Faculdade de Ciências de Lisboa, 1961.
Pina(1962), Henrique
Leonor, “A Anta da Azinheira em Reguengos de Monsaraz” in Trabalhos de
Antropologia e Etnografia, volume XIX, fascículo 1. Porto: Sociedade
Portuguesa de Antropologia e Etnografia e Faculdade de Ciências do Porto, 1962.
Pina, Henrique Leonor,
e Carvalho, Galopim de (1962), “A Anta da Velada
das Éguas, Barrocal, Évora in Boletim da Junta Distrital de Évora,
n.º 2, Évora: Junta Distrital de Évora, 1962.
Pina (1971), Henrique
Leonor, “Novos Monumentos Megalíticos do Distrito de Évora” in Actas do
II Congresso Nacional de Arqueologia. Coimbra, 1971.
Pina (1976), Henrique
Leonor, “Cromlechs und Menhire bei Évora in Portugal” in Madrider
Mitteilungen n.º 17. Heidelberg: F. H. Kerle Verlag, 1976.
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