quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Escoural, a química da arte rupestre


No âmbito da cooperação experimental que está a acontecer entre a Direcção Regional de Cultura do Alentejo (entidade a que a Gruta do Escoural está afecta) e o Laboratório HERCULES da Universidade de Évora, realizámos hoje mais uma sessão de trabalho nesta cavidade. O objectivo, na linha de outros ensaios recentes, visava avaliar a capacidade de detecção de eventuais motivos pintados que possam existir sob a camada de calcite que cobre as paredes da Gruta. Com efeito é graças à acção protectora dessa camada que os (raros) vestígios de pintura rupestre ficaram preservados nas paredes da gruta, durante os milhares de anos que nos separam do Paleolítico Superior. Nos casos em que a camada é mais fina e translúcida, conseguimos observar a pintura mas é hoje claro que, para além do que podemos ver directamente, existem traços ou motivos que nos escapam e cuja eventual leitura poderá alterar a percepção que hoje temos desta arte. É aí que entram os ensaios que o HERCULES tem vindo a fazer, ainda que no âmbito de um estudo mais amplo que envolve também a determinação das matérias primas corantes aqui usadas pelos nossos antepassados. Hoje, recorreu-se à "termografia", uma tecnologia especialmente conhecida pelo seu uso em medicina, e que nos fornece "imagens" que resultam da leitura das variações de temperatura provocadas pelas diferenças de irradiação dos diversos materiais analisados. O seu uso em arqueologia ainda é pouco comum e só muito recentemente foi usado no Algarve, embora nesse caso como meio de detecção remota de estruturas soterradas. Por exemplo numa superfície aluviar ou sedimentar, é possível detectar a presença de muros de pedra, pois estas estruturas, dada a sua composição, irradiam mais calor do que a sua envolvente. Aguardemos pois pelos resultados do tratamento das "termografias" hoje realizadas no Escoural, naquele que será talvez o primeiro ensaio mundial de aplicação desta tecnologia ao estudo da "arte rupestre". A propósito e com a devida vénia, aproveitamos para aqui deixar o artigo da National Geographic portuguesa de Julho passado, da autoria do fotógrafo António Luís Campos, no qual mais uma vez é dado o destaque a esta gruta, ainda a única cavidade portuguesa com vestígios rupestres do Paleolítico, e aos estudos agora empreendidos pela Universidade de Évora.



Aspectos da recolha das "termografias", na Gruta do Escoural (11 de Agosto 2016) com recurso a uma "câmara" que após um curto período de iluminação (aquecimento) das superfícies calcíticas, registará eventuais variações de temperatura determinadas pela presença de uma matéria corante diferente do suporte.

O artigo da NACTIONAL GEOGRAPHIC portuguesa (Julho de 2016)







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