quarta-feira, 11 de novembro de 2015


NOVIDADES DE MÉRTOLA

Como arqueólogo (melhor, como "estudante de arqueologia") visitei pela primeira vez Mértola há 4 décadas, julgo que em 1975. Segundo recordo, tratou-se de uma viagem meramente logística para passar o velho Land Rover da Faculdade de Letras que estivera  ao serviço do GEPP (Grupo para o Estudo do Paleolítico Português) à equipa de Manuel Maia, então assistente daquela Faculdade, a escavar com alguns alunos no "castelo romano de Manuel Galo", localizado nas proximidades de Mértola. Do CAM (Campo Arqueológico de Mértola) ainda não havia então notícias, embora o mesmo tivesse surgido pouco tempo depois, fruto do feliz cruzamento de interesses e vontades, entre um jovem e visionário presidente de Câmara, Serrão Martins (infelizmente precocemente desaparecido) e um arqueólogo optimista, Cláudio Torres, regressado do exílio e em busca de tema de investigação. Poucos anos depois desta primeira descida a Mértola, mais propriamente a partir de 1980, quando as grandes campanhas de escavação na "Alcáçova de Mértola", nomeadamente no "criptopórtico" eram já uma escola de Arqueologia para muitos estudantes de Lisboa e não só, tive oportunidade de acompanhar de perto o desenvolvimento deste projecto e até de, ciclicamente, ajudar a resolver algumas questões administrativo-financeiras nos apoios às escavações resultantes de alguma "aversão" de Cláudio Torres à "papelada", situação agravada pela difícil relação estabelecida com o Director do Serviço Regional de Arqueologia do Sul (1980-1987), Dr. Caetano de Melo Beirão, personalidade que, até por razões de posicionamento político-ideológico conhecidas, não morria de amores pelo projecto de Mértola nem pelo seu promotor. Recordo em especial o apoio directo dado pelo Departamento de Arqueologia do IPPC ao CAM, através do destacamento dos arqueólogos Carlos Jorge Ferreira e Susana Correia, para apoio às escavações no subsolo do edifício municipal, promovidas em meado dos anos oitenta na sequencia de um desastroso incêndio e que permitiram a descoberta de importantes vestígios da Mértola romana, que viriam a ser conservados numa das primeiras "criptas arqueológicas" do nosso território. Quase quatro décadas depois, ultrapassadas muitas dificuldades e incertezas mas também após muitos objectivos concretizados, o CAM é uma realidade reconhecida nacional e internacionalmente, como o atesta mais um prémio granjeado, desta vez atribuído pelo próprio Vaticano. Como vão longe os tempos do confronto ideológico. 




A este propósito e porque o tema do "paleocristianismo" já então estava na ordem do dia, republico a crónica que escrevi para o Diário de Notícias de 16 de Dezembro de 1993, a quando da inauguração das obras de musealização da chamada Basílica Paleocristã do Rossio do Carmo, identificada no final do século XIX por Estácio da Veiga e reescavada pela equipa de Cláudio Torres nos anos oitenta do século XX.




Errata: naturalmente a data da morte de Estácio da Veiga, é 1891 e não 1991, como consta do texto...

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