quarta-feira, 1 de julho de 2015

A minha professora de História

Cumprindo a proposta que havia feito em encontro similar ocorrido em 2014 no Vimeiro (Torres Vedras), recebi no último fim de semana em Guadalupe um grupo de antigos colegas do Seminário de Almada. Para além do inevitável almoço de convívio num restaurante local, do "programa" constava ainda uma visita aos Almendres e à Gruta do Escoural, o prato cultural do evento e que, a crer nas reações e apesar do calor, parece ter correspondido às expectativas. Apesar de orientar frequentemente estas visitas, umas vezes por amizade, outras vezes por obrigação profissional, neste caso senti uma especial responsabilidade. É que o Eduardo Jorge, organizador destes encontros (e o colega com quem, por várias razões, fui mantendo nestes mais de 40 anos, algum contacto), conseguiu descobrir a nossa antiga professora de História em Almada, a Professora Maria Vitória, a qual não quis deixar passar a oportunidade de se encontrar com os antigos alunos. No meu caso em particular, as relações com a Professora Vitória, não haviam começado da melhor forma. Acabada de formar na Faculdade de Letras de Lisboa, era na altura pouco mais velha que os alunos, e estes, pela primeira vez, tinham na sala de aula uma "jovem" e não um "padre"... Uma professora "à defesa" e alunos a tactearem novos territórios, acabou por não dar grandes resultados nas primeiras aulas.  Nada que não se resolvesse rapidamente, acabando a experiencia, pela nossa parte e pela parte da Professora Vitória, como ela agora confessou, por se tornar gratificante e inesquecível. Tendo eu saído de Almada no final desse ano lectivo de 1968/69, ainda assim devo à Dra Maria Vitória, as bases essenciais do conhecimento histórico que tão importantes foram no acesso à Faculdade de Letras, que tentei um ano mais tarde e que, pelos resultados obtidos nos exames do 7º ano, como aluno externo do Liceu D.João de Castro, me dispensaram do terrível exame de aptidão, realizado na própria Faculdade sob o controlo rígido do "mítico" Borges de Macedo. Não tenho já memória de detalhe, da abordagem da Prof. Vitória a temas como a "pré-história" ou a "antiguidade clássica", assuntos que ela tratara na Faculdade com Farinha dos Santos e Fernando de Almeida..., nem foi, certamente, nas suas aulas que decidi vir a ser arqueólogo. Até porque durante muito tempo os meus interesses estavam claramente orientados para a história moderna e contemporânea. Mas nas visitas aos Almendres e à Gruta do Escoural que a Professora Vitória acompanhou com visível interesse, quis mostrar-lhe que tinha valido a pena, para ela e para nós, aquela já distante experiencia pedagógica de 1968/69. Apenas mais uma coincidência que confirma mais uma vez que vivemos afinal numa grande aldeia. A Prof. Maria Vitória de quem não tivera mais notícias nos últimos 45 anos, viria a ser Professora de História do filho do Luis Raposo, o meu colega e grande amigo desde os tempos da Faculdade, com quem partilhei tantos projectos de arqueologia.

Para (minha) memória futura, aqui transcrevo, em texto e imagens, o pormenorizado "relatório" sobre o encontro de Guadalupe, redigido pelo Eduardo Ferreira:

Ao centro, de óculos escuros njo meio dos antigos alunos, a Professora Maria Vitória



Enttre os Almendres e a Gruta do Escoural



ENCONTRO DE ÉVORA – 28JUN2015

RELATÓRIO

            Este Encontro, o sétimo da série (começou em 2006 mas não se realizou em 2 anos) e o que teve lugar mais a sul, para além das muitas caras novas que compareceram apresentou as particularidades de ter uma grande componente cultural e de sermos recebidos magnificamente pelos nossos anfitriões, o António Carlos Silva e esposa Isabel no seu monte, um local muito aprazível, no Alentejo profundo mas ao mesmo tempo perto das principais vias de comunicação e fácil de encontrar.
            O programa indicava que até às 12H00 a  primeira concentração seria em casa do nosso companheiro António Carlos para um aperitivo de boas vindas aos mais madrugadores. Aconteceu afinal que fomos todos madrugadores com uma única exceção - o José Faustino, não que não fosse madrugador mas resolveu ir logo para o segundo ponto de encontro, o cromeleque dos Almendres. E em vez de um aperitivo o que se nos deparou foi uma mesa farta, com os saborosos produtos alentejanos desde o queijo às azeitonas e do salpicão ao paio, a acompanhar com um magnífico pão alentejano e uns vinhos, cervejas e refrescos que nos regalaram e sobretudo refrescaram, numa altura em que o calor imenso já se fazia sentir, tudo isto à sombra de uma latada muito tranquila e à beira de uma piscina em que só apetecia mergulhar e que dava um ar de fresquidão e bucolismo tão necessários ao momento. Creio que muitos até nem se aperceberam bem daqueles encantos tal era a excitação do reencontro e do esforço para reconhecer quem era  aquele que estava a  entrar!
            Dias antes fizera uma tentativa desesperada, por mail e telefone, para trazer a este encontro aqueles dos meus colegas (éramos 19) da turma do 6º Ano de Almada que não tencionavam vir, prometendo-lhes uma agradável surpresa. Só estivemos 10 e a grande surpresa foi a comparência da nossa professora de História do 6º e 7º Anos do Seminário de Almada, a Dra Maria Vitória.  Depois de muitas tentativas falhadas e até ter contactado o Seminário, que já não possui os arquivos de quando pertencia ao Patriarcado, lembrei-me de pedir ao Álvaro Bizarro se me poderia localizar esses arquivos a ver se ao menos poderia encontrar o seu nome completo. Não só me enviou o nome mas até, e sobretudo, me deu logo o número de telefone. Quando a contactei há 2 ou 3 semanas foi uma emoção muito grande para ambos, para mais quando me disse que se lembrava perfeitamente de mim referindo prontamente a minha atividade extra no “Bar do Mestre”! Bem, que memória, e passados 45 anos exatos! Então, nós com os nossos 16/17 anos e a nossa Professora a debutar no ensino, acabadinha de sair da Faculdade! A propósito, e como me referiu logo de seguida, havia um aluno que era praticamente da sua idade e que era e é o António Medeiros. E falámos de quase todos, de uns lembrava-se perfeitamente e dos outros vagamente. Ficou encantadíssima com o facto de nos irmos encontrar e logo me prometeu que compareceria em Évora com todo o prazer. O pior para mim foi mesmo conseguir guardar segredo estes dias todos tal  a alegria e a expetativa que me inundaram. Só referi o caso ao António Carlos e ao Arnaldo bem como a alguns da turma numa derradeira tentativa de os “pressionar” a vir, o que não consegui dados os compromissos que já tinham para este dia.
            O pessoal começou a chegar cedo, Eu próprio com a minha mulher e o João Tomás nem eram ainda 10.30 já lá estava. O João Pereira Lopes, esse então chegou de véspera com a esposa Rosário tendo pernoitado na sua auto-caravana mesmo à entrada do Monte. Foi uma alegria vê-los logo, bem dispostos, depois de um belo serão na festa do S. João em Évora e depois de passada uma bela noite com muito sossego e tranquilidade,,,
            A seguir apareceu logo o Manel Rosa Dias acompanhado da esposa e do Joaquim António. Palavra que se eu não soubesse que o Quim Tó vinha com o Manel nunca mais o reconheceria. Passaram 45 anos e algumas pessoas, como é o caso, mudam de feições de uma maneira que nós não imaginamos. Mas foi um reencontro emocionante e como se viu ao longo do dia muito reconfortante também.
            O Manel Fernando e a Glória não se fizeram esperar e é sempre um prazer enorme voltar a ver aqueles que julgo nunca falharam a um encontro e são bem poucos os que estão nesta posição.
            O Arnaldo acompanhado pelo José Martins fizeram de seguida a sua aparição, sempre bem dispostos e de uma simpatia extrema.
            Depois veio o Vítor Nunes com o Joaquim Dias, depois de perderem à última da hora o companheiro Xico Teófilo obrigado a ficar retido em casa com um arreliador desarranjo geral, após  uma noite de canseira ao serviço da sua associação bairrista alfacinha, ainda a festejar os santos populares.
De seguida começaram a chegar em  catadupla:
                    o António Marques (acompanhado da sua esposa cujo nome não retive) que assentou praça comigo na prefeitura de S. Domingos em Santarém e que por lá se manteve apenas 2 ou 3 anos; também foi uma alegria enorme rever este companheiro depois de 50 anos de intervalo;
                    O Álvaro Bizarro, o único dos ordenados do nosso tempo, que pode estar presente e mesmo assim nem pode almoçar porque entretanto o programa atrasou e tinha que estar em Lisboa ao meio da tarde;
                    A Professora Maria Vitória e o marido Nuno, por sinal um “camarigo” da Guiné (Bedanda e Fulacunda – 1966/68, salvo erro) e com quem os nossos colegas Jorge Pinto, Luís Graça, Pinto Carvalho, Joaquim Jorge, entre outros, muito tem que conversar nos próximos eventos; este simpático casal chegou ao mesmo tempo que o Álvaro pois tinham-se encontrado na estação de serviço da A6 e bem admirados devem te ficado os três quando em conversa se aperceberam que vinham para o mesmo sítio!; fiquei a saber que  Professora Maria Vitória e o Álvaro se mantiveram em contacto ao longo destes anos e daí o facto de me ter facultado de imediato o seu número de telefone; como devem calcular foi uma emoção enorme reencontrar esta nossa professora que no início nos pareceu um tanto “dura” mas que a pouco e pouco nos fez interagir com ela de uma forma extraordinária  de modo a acabarmos o 7º Ano com muita pena de nos termos de separar e lançando a boa semente da História em alguns de nós que acabaram por cursar essa matéria; e cujo grande exemplo disso mesmo é o nosso colega e anfitrião António Carlos – eu vi com que olhar de satisfação e orgulho a professora Maria Vitória escutava o António Carlos nas suas intervenções sobre os monumentos que visitámos!; nas conversas que fomos mantendo ao longo do dia verifiquei o seu embevecimento com os percursos de vida dos seus alunos, não apenas os académico-profissionais mas sobretudo os pessoais, que nos levam a manter esta sã amizade e companheirismo; julgo que ficou rendida aos encantos do nosso convívio e será com muito gosto que daqui para a frente contaremos com o casal nos nossos eventos do género;
                    Lousão Monteiro, em boa hora reencontrado o ano passado e que não quer deixar de dar o seu contributo à tertúlia na companhia da sua Bernardete;
                    José Manuel Mesquita, nosso guarda-redes destemido, o sesimbrense mais procurado e mais desejado por muitos de nós, há pouco e em boa hora reencontrado, e prontamente alinhado com a iniciativa de o trazer ao nosso convívio, que viajou acompanhado pela esposa Conceição;
                    Manuel Maria e Élia,  a inscreverem-se quase ao fechar do pano mas muito a tempo, sempre bem vindos e sorridentes;
                    Júlio Rebelo e Nela acompanhados do casal amigo da Gândara dos Olivais que persisto teimosamente em não fixar os nomes e que já pertencem por direito próprio à família;
                    Xico Silva e a companheira Leonor, penichenses de gema, alcandorado o Xico, por proposta ocorrida neste encontro, ao honroso cargo de organizar o evento de junho/julho de 2016, com responsabilidades acrescidas por se tratar também do 10º aniversário destes encontros,a ter lugar nos arredores da sua cidade natal;
                    Virgílio Mateus, Eduardo Cristóvão e Vítor Coelho que viajaram juntos do Algarve, companheiros de turma, e que pela primeira vez se apresentaram, foi uma satisfação enorme o nosso reencontro e pelo calor humano evidenciado por todos esperamos que esta seja a primeiras de muitas vezes;
                    Moisés Batista com a esposa Isabel e o mano António não faltaram à chamada pese o imenso calor que a todos incomodou e que sobremaneira molestou a Isabel, impedindo-a d participar em todas as atividades programadas;
                    Luís Fernando e a neta Inês a caminho do Algarve para umas merecidas férias e que fizeram o necessário desvio para se encontrarem connosco.
            Falta finalmente falar do José Faustino que se dirigiu logo ao cromeleque e aí aguardou pacientemente por nós. Quando se inscreveu achei piada ao seu voto de ao menos comparecerem mais três dos seus colegas de turma para formarem uma mesa de sueca. Fiz todos os esforços, mas desta vez só compareceu mais um - o José Martins, mas também não houve qualquer hipótese de  pausa para a sueca!
            Fomos assim 24 os companheiros que nos encontrámos em Évora, dos quais 6 pela 1ª vez.
            Avisaram que não poderiam comparecer e enviaram votos de bom encontro os seguintes colegas:
                    José Eugénio (EUA)              - José Virgílio Nunes              - José Luís Ferreira
                    Xico Armandino                    - José Fragoeiro                      - Zé Querido
                    Jorge Pinto                             - Paulo Correia da Silva         - Gil Matos
                    João Borga                             - José Carlos Silva                  - Manuel Pereira da Costa
                    Eduardo Coelho                     - César Delgado                     - Xico Teófilo
                    Acácio Lopes                         - António Medeiros                - João Miguel
                    Rogério Ferreira                     - Henrique Reis                      - Caetano Lopes                    
                    Honório Vieira                       - Fernando Policarpo
                    Cândido Martins                    - António Silva Antunes                                                       
                    Luís Costa                              - João Claudina Lameira
                    Jaime Bonifácio                     - Fonseca Pinto                                 

            Continuando com o relato do acontecimentos, após a bela degustação dos produtos alentejanos em casa do António Carlos deslocámo-nos ao cromeleque dos Almendres onde, de viva voz, o nosso anfitrião nos fez uma pormenorizada descrição daquilo que a comunidade científica descobriu até ao momento, realçando o facto de não haver ainda muitas certezas sobre o assunto.
            O almoço constou de entradas, um gaspacho bem fresquinho e saboroso acolitado por  jaquinzinhos fritos e umas magníficas bochechas de porco preto estufadas. Vinhos branco e tinto a contento,sobremesa e café. Belo repasto muito bem conversado e animado.
            Quase todos aderiram à visita à Gruta do Escoural onde mais uma vez o António Carlos nos brindou com os seus vastos conhecimentos sobre estas matérias numa linguagem simples, viva e atraente.
             Foi na verdade um dia muito bem preparado e melhor vivido por todos nós. É da mais elementar justiça prestar aqui os nossos mais vivos agradecimentos ao António Carlos por tudo aquilo que nos proporcionou. Acresce ainda realçar e enaltecer a sua brilhante ideia e o trabalho que teve em digitalizar a coleção completa do “DIMENSÂO 7”, jornal do nosso tempo de Almada,  que teve a colaboração de muitos de nós com artigos, desenhos e na própria organização, produção, impressão e venda.  Fez questão em copiar para CD.s esse seu trabalho e oferecer a cada um de nós um exemplar que é uma verdadeira relíquia.
            Pese embora o elevado calor ambiente (42º) o pessoal não arredou pé e nem sequer houve tempo para partilhar fotos como é costume e os nossos 6 debutantes bem mereciam, mas teve que ficar para uma próxima oportunidade.
            E foi do parque automóvel da Gruta, quase às 19H00, que me despedi dos últimos companheiros e da professora Vítória. Mas alguns ainda lá ficaram na conversa,  casos do Manel Rosa Dias, Quim Tó, Virgílio, Eduardo Cristovão e Vítor Coelho
            Já sabem que o próximo evento é a caldeirada na festa anual de Ribamar da Lourinhã, na 2ª ou 3ª segunda-feira de outubro. Quando souber o dia certo enviarei a respetiva convocatória.

            Até lá e um grande abraço a todos do 
                                   Eduardo Jorge

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