sábado, 16 de maio de 2015

A Anta-capela de São Brissos (Nª Sªdo Livramento)


Com a anta-capela de São Dinis, no centro de Pavia, dentro do género, a anta-capela de Nª Sª do Livramento (ou de São Brissos) será uma das mais conhecidas. Para mais, a estrada municipal em que se localiza (Valverde - Escoural) é uma das rotas arqueológicas mais interessantes do Alentejo (para quem saiba...). Só que, pese embora as dezenas de vezes que lá passei, muitas vezes acompanhando colegas ou simples curiosos, falando do mistério desta perduração cultural envolvendo Milénios (e não séculos...) nunca tinha tido oportunidade de visitar o seu interior. Porque, diga-se a verdade, nunca me esforçara para tal. Desta vez a minha velha amiga Philine Kalb, a arqueóloga alemã que investiga em Portugal desde os anos setenta (depois de um começo de carreira no Afeganistão, de onde trouxe uma cadela "galgo afegão", de que tem ainda  hoje descendência...) convenceu-me a procurar a "chave", pois o grupo que eu iria acompanhar em mais uma visita à vizinha Gruta do Escoural, teria certamente interesse em apreciar o interior da "anta-capela". E além disso, como vinham de autocarro, desta vez ela não teria oportunidade de lhes ir mostrar as antas do vizinho Vale Rodrigo que escavou nos anos 90 com Martin Hock num projecto que envolveu também suecos. Lá descobri a chave no Escoural e assim visitámos o interior deste curioso monumento. O que resta da anta, alguns esteios e o "chapéu", muito bem caiados, serve de vestíbulo a um pequeníssimo altar coberto por uma pequena cúpula, dedicado à Senhora do Livramento, protectora das parturientes, um oráculo mesmo a calhar para uma "anta", o esqueleto de um antigo túmulo feito de terra e pedra, o símbolo perfeito da "mãe-terra", o útero a que se regressa no fim da vida. Bem pregavam os bispos na Idade Média contra os ancestrais cultos das pedras, das fontes ou das árvores... Afinal, ainda hoje os habitantes que restam em São Brissos, aqui repetem todos os anos uma procissão, cuja origem e significado se perde no tempo.  A este propósito, aqui retomo um texto com mais de vinte anos, publicado no Diário de Notícias e posteriormente reeditado em "A linguagem das coisas", Lusi Raposo e A.C.Silva, Europa-América, 1996, ilustrado com as fotos recolhidas esta manhã, finalmente, no interior da Anta-capela da Sra do Livramento, São Brissos, Escoural.












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