NOUDAR
Por uma razão muito pessoal, nunca esqueço o aniversário do Encontro com os mestres construtores de Noudar, organizado pelo Cláudio Torres há 31 anos no Castelo de Noudar, em Barrancos, um verdadeiro "hapening" de práticas patrimoniais no que era (e continua a ser) de facto o Portugal profundo. É que quando estava para partir para o dia do encerramento, com os meus colegas e amigos Clementino Amaro e Carlos Jorge Ferreira (este já falecido entretanto), o meu filho David resolveu antecipar o nascimento e tive de, em boa hora, trocar Barrancos, pela sala de espera da maternidade do Hospital de Évora.
Infelizmente, o projecto lançado em 84 acabou por não ter pernas para andar. O isolamento do local, a distância em relação a Barrancos, já de si longe de tudo e, sobretudo, a desertificação de uma terra que só viria a entrar no mapa mental dos portugueses por causa do mediatismo dos "touros de morte", empurrariam de novo o castelo e as ruínas da sua vila medieval há muito abandonada, para o esquecimento. Uma década depois do encontro dos mestres construtores, um novo sobressalto, chamou de novo a atenção para Noudar. Esmagada a "Reforma Agrária", devolvido latifúndio da Coitadinha (curioso nome...) aos numerosos herdeiros, perspectivava-se o que aconteceu a muitas outras grandes propriedades alentejanas, a sua venda a quem mais oferecesse, e com ela, a venda do próprio Castelo que, o estado monárquico falido, havia alienado no final do Século XIX. Aproveitando o espaço de crónica que à época partilhava com o Luis Raposo no Diário de Notícias, em 14 de Julho de 1994, num tom um tanto ou quanto" nacionalista" (falava-se da venda da Herdade e do Castelo aos espanhóis da Pedro Domecq...), denunciei a perspectiva de venda a privados de um Monumento Nacional com o significado histórico tão especial (crónica que aqui republico em "facsimil" (consta da edição da Europa-Amériaca, 1996, "A Linguagem das Coisas").
A venda acabou por acontecer, três anos mais tarde, mas num contexto totalmente diverso do que parecia adivinhar-se, e em cujo processo tive afinal a grata oportunidade de participar, apoiando o Administrador da EDIA Joaquim Marques Ferreira, responsável pela idéia. No âmbito de um acordo celebrado entre a empresa do Alqueva e a Câmara Municipal de Barrancos, a Herdade e o Castelo foram adquiridos conjuntamente, ficando assim no domínio público, tendo o respectivo investimento sido considerado como uma medida compensatória das perdas e impactos patrimoniais e ambientais verificados no Vale do Guadiana com a construção da Barragem. Mais tarde, por destacamento, a EDIA manteve a pposse e a gestão da Herdade, ficando o Castelo na posse da autarquia. Hoje, a Herdade (Parque da Natureza de Noudar- www.parquenoudar.com/) recuperado o seu magnífico "monte", adaptado a turismo da natureza, é um exemplo magnífico do que se pode e deve fazer no "Portugal profundo". Já o Castelo, infelizmente e apesar das preocupações da autarquia, da própria EDIA e das entidades da tutela, parece não ter beneficiado especialmente com o "negócio". As várias tentativas que têm sido feitas no sentido da revitalização turística do monumento esbarram sempre com a falta de meios humanos e financeiros da autarquia (especialmente agravados nos últimos tempos) e com a falta de um modelo de intervenção ajustado às circunstancias muito próprias da região que enquadre um necessário e urgente plano de recuperação patrimonial que interrompa a sua progressiva e evidente desagregação.
A última torre a cair em Noudar (foto de 2011) |
Quase correcta a análise. ... quase... quase...
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