1983- MISSÃO ARQUEOLÓGICA EM ANGOLA
Na zona de Benguela, com a equipa do Museu Nacional de Arqueologia (1983) |
A
notícia do seminário internacional “África:
Arqueologia e Paisagem” a ter lugar em Mação no próximo mês de Junho, numa
organização conjunta do CEAUP (Centro de Estudos Africanos da Universidade do
Porto), do ITM (Instituto Terra e Memória) e do Centro de Geociências da Universidade de
Coimbra (Grupo de Quaternário e Pré-História), reavivou a minha intenção de
divulgar alguns materiais há muitos anos na gaveta e que remetem, no meu caso
pessoal, para a única experiência arqueológica africana que tive oportunidade de viver, infelizmente muito
limitada e praticamente sem consequências. Mais
do que os dados informativos em si pouco relevantes, interessa-me dar
testemunho do que foi a experiência profundamente afectiva do (re)encontro em 1983 entre colegas do
mesmo ofício, falando a mesma língua e imbuídos da mesma cultura e formados (quase)
na mesma escola e que apesar das distância, lutavam afinal pelos mesmos ideais de
cultura e conhecimento. De facto, iriamos encontrar em Benguela, além de Pais Pinto, a Ana Paula Tavares, ambos ex-alunos de Victor Gonçalves e de Vitor Oliveira Jorge no Bacharelato em História de Sá da Bandeira/Lubango, também nossos professores e colegas em Portugal. Na realidade, ainda que o desafio que Luis Pais Pinto
nos fizera em Lisboa, meses antes, fosse no sentido de apoiarmos programas de
formação e investigação do Museu Nacional de Arqueologia de Angola (que ele com
o apoio de Henrique Abranches e do próprio Agostinho Neto instalara em 1976 na
antiga alfandega de Benguela), a verdade é que os serviços públicos de
arqueologia em Portugal, estavam praticamente a nascer e ainda a instalar-se.
Por outro lado, as condições subjectivas de natureza política e sobretudo a situação objectiva no terreno, por causa da guerra civil que se prolongaria por mais
vinte anos, eram muito pouco propícias ao desenvolvimento de programas de
cooperação neste campo.
Mas Pais Pinto era um lutador, pese embora os seus
graves problemas de saúde (já faleceu entretanto), e nunca desistiria daqueles
objectivos. Nas pesquisas na INTERNET que entretanto fiz para me actualizar em
relação à “Arqueologia Angolana” (que até agora não ia além da obra fundamental,
com aquele título, de Carlos Ervedosa, editada em 1980 pelo próprio Ministério
da Educação de Angola e pelas Edições 70) percebi que
Luis Pais Pinto tentou ainda organizar em 1985 com Miguel Ramos, (1932-1991)
muito ligado à arqueologia de Angola através da Junta de Investigações
Científicas do Ultramar, depois Instituto de Investigação Científica Tropical,
um instituto médio de arqueologia para formação de técnicos de campo. Miguel Ramos
terá mesmo integrado uma missão arqueológica internacional de apoio ao Museu de
Benguela, em 1988 conforme é relatado por Conceição Rodrigues no "In memoriam" que publicou no Arqueólogo Português.
2013-O "chantier-école" decorrente do protocolo promovido por Manuel Gutierrez |
Falhando a cooperação portuguesa, os angolanos
viraram-se para França, nascendo no final dos anos 90 um programa de
colaboração entre o Museu de Benguela e a Universidade de Toulouse II, sob a
orientação do arqueólogo Manuel Gutierrez, que chega a iniciar, tal como nós fizéramos
em 83, escavações na zona da Baía Farta. No entanto, apenas com o final da
guerra civil (2002) mas já com Gutierrez ligado à Universidade de Paris I-
Panthéon Sorbonne, essa cooperação começaria a ser mais efectiva, traduzindo-se
tentre outros aspectos na formação de quadros angolanos em Paris. Mais recentemente, em 2013,
Manuel Gutierrez através de um acordo entre a sua universidade e a universidade
Katiavala Bwiba de Benguela, constituiu um “chantier-école” na Baía Farta,
visando a formação prática dos estudantes angolanos. A par da zona de Benguela,
pela Pré-história Antiga e Idade do Ferro ou da Arte Rupestre mais a Sul no
Namibe, áreas onde, para além dos franceses, o Instituto Terra e Memória ligado
ao Instituto Politécnico de Tomar, sob o impulso de Luiz Oosterbeek tem desenvolvido
recentemente programas de cooperação, ganhou recentemente algum destaque a
arqueologia em MBANZA CONGO, onde se tem conjugado o interesse político do
Ministério da Cultura de Angola que procura o reconhecimento das ruínas da antiga capital
do reino do Congo como “Património da Humanidade” e o interesse científico da
Universidade de Gent (Bélgica), que aí actua há alguns anos através do Projecto KONGOKING.
A missão de 1983, promovida e logisticamente assegurada em todos os aspectos, exclusivamente pelas autoridades angolanas, era constituída por mim, na altura já com responsabilidades directivas no Departamento de Arqueologia do IPPC, pelo Luis Raposo, técnico do Museu Nacional de Arqueologia, por Maria João Coutinho, técnica da Faculdade de Letras de Lisboa e ainda por Hans Siefener, um alemão radicado em Portugal, já falecido, colaborador de vários trabalhos de campo promovidos pelo GEPP (Grupo para o Estudo para o Paleolítico Português). Não deixa de ser curioso que a única referencia escrita que encontrei a esta missão de 83, conste de uma monografia académica, apresentada na Universidade brasileira de Campinas em 2013 por Bruno Pastre Máximo (Uma História da Arqueologia na África: Peculiaridades, conflitos e Desafios da Disciplina em Angola) que associa a pequena escavação que fizémos num concheiro da Baía Farta com a equipa do Museu de Benguela, a um projecto de cooperação com o "Grupo Paleolítico Português" (Sic). De facto, todos estávamos ligados ao GEPP embora, não fosse nessa qualidade que respondemos ao apelo de Pais Pinto.
Da parte angolana, contámos em Luanda com o apoio de Jorge Sande Lemos, antropólogo primo do nosso colega e um dos fundadores do GEPP, Francisco Sande Lemos, que nos levou a visitar os concheiros da Barra do Kuanza que haviam sido escavados por Santos Júnior e Carlos Ervedosa nos anos 70. Jorge Sande lemos, acompanhou-nos depois na viagem aérea para Benguela, onde com Luis Pais Pinto e Ana Paula Tavares montámos uma escavação experimental num dos vários concheiros conhecidos na zona da Baía Farta, em que o principal objectivo era a formação prática em arqueologia de campo, da numerosa mas pouco qualificada equipa do Museu. Com objectivos semelhantes procedemos ainda a algumas prospecções nos terraços marinhos a Sul de Benguela onde revisitámos sítios paleolíticos estudados por Desmond Clark nos anos 60. E nunca mais esquecerei, pelo que significava em termos de comportamento dos nossos antepassados hominídeos, a estranha sensação de "déjà vu", ao recolher numerosos "bifaces" e "machados" acheulenses, que poderiam ser associados, sem qualquer hesitação, aos que encontrávamos, em condições semelhantes, no vale do Tejo, a milhares de quilómetros de distância.
Em Angola, Maio de 1983, a equipa portuguesa da missão arqueológica: Luis Raposo, Mª João Coutinho, A.C.Silva e Hans Siefener |
(Nota: o texto que se segue, é a transcrição fiel, sem actualizações dum texto de Julho de 1983, que escrevi na sequencia da Missão a Angola e que nunca antes foi divulgado)
ARQUEOLOGIA- UM CAMPO POSSÍVEL DE COOPERAÇÃO
COM ANGOLA
(a cooperação cultural com os novos
países de expressão portuguesa também passa pela investigação da "outra”
história)
A recente
visita a Angola -a convite e expensas do respectivo
governo- duma equipa de arqueólogos portugueses,
serve de pretexto para abordagem do tema "arqueologia angolana" bem
como das potencialidades de cooperação portuguesa nesta área da cultura e da
ciência, num momento em que a as questões de cooperação com as ex-colónias se
coloca de novo nas primeiras páginas.
O primeiro trabalho conhecido sobre a
arqueologia angolana, deve-se, significativamente, a um oficial inglês (1818) e abordava já um dos seus
campos mais interessantes, a "arte rupestre". Os primeiros
trabalhos de portugueses surgiriam apenas no final do século XIX, reflexo,
ainda que ténue, do extraordinário desenvolvimento que a arqueologia
portuguesa atravessava na época. Nomes de arqueólogos metropolitanos, como
Ricardo Severo, Nery Delgado ou já no início do nosso século, Leite de
Vasconcelos, deixam o seu nome ligado, ainda que sem qualquer carácter
sistemático ou organizado, à arqueologia angolana. Aliás, tais trabalhos
resultavam muito mais como efeitos secundários do surto de exploração geográfica,
característico da época, do que duma preocupação mais ou menos
consciente pelo reconhecimento material de eventuais vestígios de culturas
desaparecidas. Daí um relacionamento estreito entre a arqueologia e a geologia, daí uma
curiosidade especial pelo paleolítico, tema retomado já nos anos trinta por Rui de Serpa Pinto-cujo centenário se comemora esta ano- e
Santos Júnior. Curiosamente, ficaria a dever-se ao apoio da Companhia dos
Diamantes de Angola, o desenvolvimento dum programa de pesquisa sistemático, na
sua área de acção, a Lunda, sobre os vestígios paleolíticos dessa região, que
teve a comparticipação de investigadores estrangeiros famosos, como Breuil,
Leakey e muito especialmente Desmond Clark. Essa acção teve tal
importância, que muitos dos conceitos estabelecidos então (anos quarenta)
continuam a servir de referência essencial. Paralelamente davam-se os primeiros
tímidos passos na abordagem de outros assuntos.
Investigadores de formação
etnológica, como Redinha, sentem necessidade de abordar os vestígios
artísticos ou monumentais, cuja descoberta se multiplica à medida que avança a
ocupação efectiva do território, a fim de compreenderem a cultura dos povos
contemporâneos, primeira preocupação do seu estudo.
Se exceptuarmos o caso da Lunda -absolutamente
excepcional, quer pelos investigadores envolvidos, quer pelas características da área em causa- a arqueologia angolana, até aos anos sessenta, é
um conjunto de "episódios", mais consequência de outras actividades, do que objecto com sentido e fim próprio. Produto, afinal, da
curiosidade de geólogos, etnólogos ou simples curiosos, nalguns casos
representando um registo científico ainda hoje indispensável a novas
abordagens, noutros, simples "anedotário", ainda que não desprezível
pelas informações que poderão conter. Estava fora de causa, na maior parte dos
casos, ainda que inconscientemente, o reconhecimento dum passado cultural
específico dos povos angolanos, tanto mais que os mesmos -e aí pesava a ideologia destilada pelos
meios culturais dominantes- estariam ainda na "pré-história".
Acompanhando o desenvolvimento global da economia angolana, a partir de 1960,
consequência imediata da abertura relativa imposta pela guerra colonial,
assiste-se também à criação de estruturas que de algum modo contribuem para o
relançar da investigação arqueológica. Refira-se, numa primeira fase, a acção da Junta de Investigações do Ultramar, na qual se inscreve a intensa actividade de Camarate França, e posteriormente,
a partir de 70, o papel da Universidade
de Luanda, onde Santos Júnior retoma os estudos sobre a arte rupestre,
secundado por Carlos Ervedosa (autor de recente e importante síntese
"Arqueologia Angolana", publicada em 1980 pelo Ministério da
Educação da R.P.A.). A criação do Curso de História na Faculdade de Letras da
ex-Sá da Bandeira (Lubango), já nos derradeiros anos coloniais, proporcionando
a passagem por Angola de jovens professores de arqueologia, recém-formados em
Lisboa e despertos para as novas correntes científicas, fechariam este ciclo,
contribuindo não só para o arranque de alguns projectos e trabalhos no Sudoeste de Angola – sem grandes consequências
dadas as alterações políticas que se aproximavam- mas também para a formação
duma "escola" de novos arqueólogos. Dadas, no entanto, as circunstâncias
dramáticas que acompanharam o doloroso processo da descolonização, agravadas por uma guerra civil prolongada, vir-se-ia a verificar
uma ruptura dificilmente evitável, contra a qual se procura hoje dar os
primeiros passos.
Efectivamente, viriam a ser ex-alunos angolanos de Sá da Bandeira, especialmente Pais Pinto, que
passadas as maiores dificuldades da guerra, tomariam em ombros a pesada tarefa
de recuperação neste domínio. Tratava-se, em primeiro lugar, de concentrar -para evitar maiores perdas ou destruições-
materiais arqueológicos e documentação diversa que se encontrava dispersa, um
pouco por todo o país. Assim seria criado em Benguela, no edifício da antiga
alfândega, o Museu Nacional de Arqueologia, orientado por objectivos políticos
e pedagógicos, directamente resultantes das transformações revolucionárias:
descobrir e testemunhar a existência e importância dos vestígios das culturas
pré-coloniais do território angolano; opor ao peso cultural da
"civilização ocidental", materializada na "história
oficial" do colonialismo, a "outra história", desconhecida, mas
cuja presença se adivinha nos povoados fortificados, nos túmulos megalíticos,
nos abrigos de arte rupestre ou na presença do "ferro" em épocas
muito recuadas. Cumprir tal programa, no entanto, exige meios. As antigas
estruturas desapareceram ou foram transferidas para Portugal (levando por vezes
as próprias colecções arqueológicas); o pessoal especializado é reduzido. Daí
a necessidade, perfeitamente assumida pelos angolanos, do reatar de laços, da
procura entre nós daquilo de útil e positivo que lhes possa ser oferecido. Daí
o convite insistente, desde 1980, para que arqueólogos portugueses se
deslocassem a Angola. Dificuldades de toda a ordem, a que não serão estranhos os
problemas por que passaram nos últimos anos as relações entre os dois países, contribuiram, porém, para que tal projecto, apenas se viesse a concretizar em Maio passado.
A visita, necessariamente exploratória
-nenhum de nós trabalhara antes em África- envolveria três aspectos distintos:
o contacto com pessoas e instituições, o reconhecimento de alguns sítios
arqueológicos e, finalmente, o apoio técnico ao arranque duma escavação
(primeiro passo dum programa de formação de técnicos auxiliares que poderá
ainda no corrente ano ter continuidade com a vinda a Portugal de alguns
estagiários). Em Luanda houve oportunidade de conhecer o Museu de História
Natural e o Museu Nacional de Antropologia. Se o primeiro representa a
conservação, se bem que com carências, dum museu da época colonial, o segundo -mais, um museu de
etnografia- é já um produto duma nova mentalidade. Ricas colecções, algumas
provenientes de aquisições ou recolhas recentes, apresentadas com um didatismo
exemplar, procuram salientar, sem complexos, a importância das culturas
africanas. Por outro lado, não se ignoram as raízes dessas mesmas culturas e
ligado a este Museu, um conhecido etnólogo e escritor angolano, Henrique
Abranches, procura através de escavações (cuja metodologia faria inveja a
muitos "arqueólogos") nos concheiros da região de Luanda, resposta
para questões tão importantes, como a da introdução da metalurgia naquela
região.
Seria, no entanto, em Benguela que a equipa portuguesa iria
estabelecer os contactos mutuamente
mais enriquecedores. O natural isolamento
científico dos dois arqueólogos que trabalham no museu, explica a ansiedade com
que éramos aguardados. Para eles a nossa chegada representava o reatar de
laços com "colegas da mesma escola" (impressiona efectivamente a
verdadeira comunhão cultural que sentimos, apesar das distâncias geográficas);
era a possibilidade de poder discutir "in loco" os problemas da
investigação, da organização e estudo dos materiais, das perspectivas da cooperação futura. Para nós; era sobretudo a
descoberta duma outra realidade, cheia de carências mas compensada por uma
capacidade imaginativa capaz de superar todas as dificuldades. A exposição
montada naquele Museu, sobre a evolução da
economia e das técnicas, dum didactismo cuidado e mesmo de concepção arrojada,
é um verdadeiro exemplo de capacidade de improvisação, face aos reduzidos meios
técnicos disponíveis. (Fabricar uma coluna de fotografia a partir dum
"macaco" de Volkswagen, é apenas um dos muitos exemplos que se podem
referir). Por outro lado, se os contactos com o pessoal auxiliar foram mais difíceis, o seu
entusiasmo pelo trabalho arqueológico - só quem já fez arqueologia o pode
compreender - compensa as naturais limitações da sua pouca formação escolar. E
a sua vontade de aprender, quer no trabalho de campo quer de gabinete,
representou para nós importante incentivo.
E o futuro? Se bem que este primeiro
passo tenha tido um significado importante, só a continuidade das acções poderá vir a dar
frutos concretos. Os arqueólogos angolanos têm mantido alguns contactos com outros países mas,- e isso ficou bem evidenciado, não só em
palavras, mas sobretudo na forma como fomos recebidos - há um interesse
especial na cooperação portuguesa. Não só pela facilidade linguística, mas por
toda um conjunto de circunstancialismos que passam por séculos de convivência
que não se apagam dum momento para o outro. Há no entanto que ser realista e,
para lá dos problemas económicos, as próprias condições das nossas estruturas
de investigação arqueológica não são de molde a facilitar o lançamento de
programas de cooperação ambiciosos. Apesar de tudo, parece-nos haver domínios
em que é possível actuar a curto prazo, quer na formação de pessoal, quer através da
troca permanente de informações, quer ainda pela organização de missões
arqueológicas conjuntas. Para já, existe em Portugal um organismo com especial
vocação para a cooperação, o Instituto de Investigação Científica Tropical (herdeiro da Junta de Investigação do Ultramar) mas, tendo em conta quer os poucos meios de que
dispõe, quer sobretudo a necessidade de alargar e informar de espírito novo
essa cooperação, há que estender essa acção às Universidades, aos museus portugueses e instituições de
defesa do Património. O que está em jogo não são meras conveniências políticas
ou económicas de ocasião, mas uma obrigação histórica que pesa sobre a nossa
geração. A amizade também se forma no conhecimento e compreensão das diferenças.
Disso ficou-nos a certeza e sobretudo a responsabilidade.
Lisboa, 14 de Julho de 1983
A chegada ao Museu Nacional de Arqueologia, Benguela (antiga Alfandega portuguesa) |
Concheiro da Idade do Ferro, na Baía Farta- fase da escavação, feita a partir de um corte natural já existente. Sentado, Luis Pais Pinto |
A mesma escavação. Em primeiro plano, Ana Paula Tavares, actualmente um nome consagrado da literatura angolana. |
Missão arqueológica de 1983: um momento de descontração. Reconhecem-se Luis Pais Pinto, Ana Paula Tavares e à direita, o antropólogo Jorge Sande Lemos |
Escavação da Baía Farta_ missão de 1983 (CACHAMA) |
Escavação da Baía Farta_ missão de 1983 (CACHAMA) |
Review of Archaeological Research in Angola
Daniela de Matos & Ana Cristina Martins & João
Carlos Senna-Martinez & Inês Pinto & Ana Godinho
Coelho & Soraia Santos Ferreira & Luiz Oosterbeek
Accepted: 21 December 2020
# The Author(s), under exclusive licence to Springer Science+Business Media, LLC part of Springer Nature 2021
(...)
In 1976, the creation of a National Archaeology
Museum for Angola was an idea defended by Luís Pais
Pinto with the support of key political figures at the
time, including Henrique Abranches and Agostinho
Neto. The museum was installed in a sixteenth-century
historical building where the Customs House of Benguela was previously located. Before the abolition of
slavery, this building also served as shelter-prison for
thousands of enslaved captives being deported to the
Americas. This historical background, imprinted on the
museum’s walls, reminds visitors of the building’s role
in the painful past of the region. In 1979, Julião Mateus
“Dino Matrosse,” Commander of Benguela, led the
official opening ceremony. L. Pais Pinto was appointed
Fig. 6 Early Iron Age decorated pottery fragment from
Quitavava, Benguela (by C. Pires, 2004)
Afr Archaeol Rev
director and curator of the museum. Following the advice of J. Desmond Clark, he focused on restarting
archaeological fieldwork in the region. He recruited a
few of the new and rising generation of prehistoric
archaeologists from Lisbon, among them Luís Raposo,
at the time a technician at the National Archaeology
Museum of Portugal (later becoming its director), Maria
João Coutinho, António Carlos Silva, and Hans
Seifener. The fieldwork started in 1983 by revisiting
the terraces explored by J. Desmond Clark in the
1960s and other locations excavated by Santos Junior
and Carlos Ervedosa in the 1970s. The archaeological
team explored the shell middens of Baía Farta in Benguela with a test excavation (Fig. 7). L. Pais Pinto was a
devoted leader but left very few published records of his
fieldwork projects, which were intermittent and lowbudgeted (Pais Pinto 1988, 1992). He relied mainly on
collaboration with international peers, including those
from the International Center for Bantu Civilizations
(CICIBA) of Libreville, Gabon.
(...)
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