terça-feira, 21 de abril de 2015

A Igreja de Vera Cruz de Marmelar


De ano para ano, em resultado de uma (aparente) maior consciência social da importância cultural (e económica) do património, autarquias e outras entidades "civis, militares e religiosas" desdobram-se em centenas iniciativas em torno da comemoração do Dia Internacional dos Sítios e Monumentos, de Norte a Sul de Portugal. Por dever, interesse e prazer, procuro dar sempre o meu pequeno contributo, como "actor" ou "espectador", tendo este ano respondido positivamente à proposta do Grupo PróÉvora (a mais antiga associação de defesa do património cultural do país), orientando uma visita ao Cromeleque dos Almendres, recentemente promovido a Monumento Nacional e à Anta Grande do Zambujeiro, um monumento nacional à procura de soluções que lhe confiram importância turístico-cultural que a sua especial relevância arqueológica, justifica. Como curiosidade refira-se o apoio do Exército Português à iniciativa do PróÉvora, através da cedência de um pequeno autocarro para transporte dos visitantes (não tantos como seria desejável, fosse pela falta de divulgação ou pela forte concorrencia de outras iniciativas eborenses). Já como simples espectador, aproveitei uma iniciativa da Câmara Municipal de Portel, um concerto pelo Coral de S.Domingos (Montemor-o-Novo) realizado na Igreja de Vera Cruz de Marmelar no dia 19 de Abril, para revisitar um monumento singular no contexto da arquitectura religiosa alentejana. Desde logo pela sua escala arquitectónica, claramente destacada no casario envolvente, mas sobretudo pela fortíssima carga histórico-mítica que lhe está associada e que se reflecte na sobreposição estilística, nos elementos arquitectónicos aparentemente estranhos, ou no valioso recheio artístico que conserva. Como arqueólogo, chamam-me a atenção em particular as pré-existências (paleo-cristãs, visigóticas, moçarabes?) que remetem as origens deste lugar e das lendas associadas para época bem anterior ao estabelecimento local dos Hospitalares por doação de D.João Peres de Aboim, o homem de confiança de Afonso III, fundador do Senhorio de Portel. Em face de vestígios tão antigos e objectivos apetece "escavar" na cerca do antigo paço dos comendadores de Vera Cruz, edifício abandonado e em ruínas, contrastando fortemente com o relativo bom estado da Igreja anexa. A recuperação e a valorização de todo este conjunto esteve uma década atrás nas intenções da Câmara Municipal de Portel, através de um programa concebido e liderado pela historiadora Ana Pagará (minha antiga "vizinha" na Amadora, ainda que de geração mais nova, posteriormente colega de Mestrado na Universidade de Évora e actual responsável pelo Mosteiro de Alcobaça). O projecto que contava com a colaboração dos historiadores Vitor Serrão (meu amigo e colega de curso) e Nuno Vassalo e Silva (actual Director Geral do Património Cultural), não teve infelizmente pernas para andar, mas resultou do mesmo uma excelente monografia, esgotada mas disponível em PDF.
http://www.museusportugal.org/multimedia/File/Igreja%20vera%20cruz.pdf


O concerto do Coral de São Domingos, na Igreja da Vera Cruz, no âmbito das comemorações do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios (19 de ABril de 2015)















Apenas uma pequena história retirada do baú das minhas memórias pessoais. Estive pela primeira vez em Vera Cruz de Marmelar poucas semanas após o 25 de Abril de 1974, num passeio de fim de semana com um grupo de adolescentes e jovens amigos da Amadora, tendo ficado alojados na casa de família de um colega nosso, filho de um comerciante da Amadora, alentejano como tantos outros nossos vizinhos e natural de Vera Cruz. Para além de uma colecção de "slides" onda avultava já a imponente Igreja da Vera Cruz (e que deverão estar algures no meio da minha papelada...), ficou-me dessa viagem a memória do primeiro comício do Partido Comunista Português realizado em liberdade na aldeia de Vera Cruz  e a que, por um misto de curiosidade e de fervor revolucionário muito comum à época, não deixámos todos de assistir. 

E, em aditamento de 15 de Fevereiro de 2017, aqui ficam algumas dessas fotos de 1974 (finalmente reencontradas) já verdadeiros documentos gráficos da Igreja de Vera Cruz, meio século atrás:










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