Na pedreira do Galinha
Apesar de natural de uma aldeia próxima do Bairro, o lugar
onde se localiza a Pedreira do Galinha, só muito recentemente, mais de vinte
anos após a descoberta, se me proporcionou a visita. E de facto, o local mais
pelo contexto paisagístico, do que pelas “pegadas” em si, pelo menos nas
circunstâncias actuais, é impressionante e justifica a deslocação. O sítio está
bem sinalizado, as condições de acesso e recepção estão operacionais e
minimamente cuidadas, mas foi-me fácil compreender as reservas e alertas que já
sentira ao ter lido há algum tempo o testemunho de Galopim de Carvalho no seu
livro “Fora de Portas-Memórias e
Reflexões” já datado de 2008. Dizia ele então, após o enunciar detalhado
das componentes do projecto de musealização da jazida, a maioria das quais por
concretizar ainda hoje: “ O mais
procurado dos monumentos naturais portugueses que sem qualquer apoio
publicitário, conta cerca de 50 000 visitantes por ano, está já a evidenciar
aspectos preocupantes de abandono, decorrentes das restrições próprias do período
que estamos a viver.” De então para cá, é óbvio até para o visitante menos
atento, que pouco ou nada se investiu na manutenção, e muito menos na
instalação dos equipamentos ou nas melhorias previstas, nomeadamente no âmbito
do reforço visual dos trilhos. Infelizmente, esta é uma situação que também
conhecemos bem do património cultural, onde nos últimos anos, os cada vez mais reduzidos
meios financeiros disponíveis foram inteiramente canalizados para garantir o
financiamento europeu de uns poucos grandes ou médios projectos, com quase
absoluto mas inevitável descuramento de tudo o que é manutenção ou gestão
corrente, em particular no que respeita aos recursos humanos. E no caso da
Pedreira da Galinha, como dizia Galopim de Carvalho, todas as condições estavam
reunidas para que o local atraísse multidões: óptima localização, facilidade de
acesso, grandiosidade paisagística, e até, a monumentalidade dos “trilhos” se
devidamente musealizados.
Até pela monumentalidade do grande anfiteatro criado pela antiga pedreira bem como pelo panorama que se desfruta, vale a pena a visita. |
Não foi pois fácil convencer os familiares, que também aproveitei
para rever na minha vizinha aldeia, da bondade do grande investimento publico
ali realizado pelo Estado há vinte anos, em grande parte na indemnização aos
concessionários da pedreira, pessoas que eles conheciam de sempre. De facto, de repente
fez-se-me luz e veio-me à memória a expressão que ouvira dezenas de vezes em
criança, quando os meus pais me entregavam ao cuidado do revisor da carreira
dos Claras (a empresa de transportes públicos de Torres Novas) na paragem que
havia em Sacavém à porta da antiga Fábrica da Louça, e que fazia a ligação
entre Lisboa e a Sertã, para ir passar férias em casa da minha avó. "O menino é
para sair no Galinha!" É que a paragem mais próxima da minha aldeia, à qual depois
se acedia a pé ou de burro, era no "Galinha" do lugar Nicho, uma pequena venda da
beira da estrada, propriedade dos mesmos Galinhas que anos mais tarde,
convertidos à indústria da britagem na Serra, poriam a descoberto os trilhos de dinossáurios de
há 175 milhões de anos.
Ao longo do percurso, bem sinalizado, está disponível informação adequada que facilita a visita sem necessidade de guia. |
O que resta da antiga garagem dos "Claras" em Torres Novas, onde passava a carreira para a Sertã que me deixava na venda do Galinha, localizada no Nicho...às Terras Pretas. |
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