sexta-feira, 27 de março de 2015

As Ruínas de Tongobriga (Freixo, Marco de Canavezes)

























O ano de 2014 foi fértil em eventos comemorativos do 25 de Abril, talvez pelo redondo da data (40 anos), talvez pelo saudosismo e nostalgia daqueles que o viveram intensamente na plenitude da sua juventude e que hoje entretanto terminaram ou estão próximo de terminar as respectivas carreiras profissionais, com tudo o que isso pode significar do ponto de vista psicológico. A Arqueologia e o Património não fugiram à regra e várias iniciativas, em jeito de balanço, foram promovidas por diferentes instituições. Em Lisboa, por exemplo, o MNA organizou um encontro a que chamou "Arqueologia, Património e Museus em tempo de mudança" que congregou muitos colegas que deram testemunho das suas experiências no pré e no pós 25 de Abril. Tive a oportunidade de participar activamente e recordo em particular a intervenção do Eng. Jorge Paulino, há muito retirado da Arqueologia, mas que no 25 de Abril liderou as movimentações ocorridas entre os arqueólogos portugueses, a exemplo do que aconteceu com todas as classes sócio-profissionais. O rigor e detalhe da informação que mostrou possuir, alicerçada em documentação coeva, merecem e exigem oportuna publicação, entretanto prometida pelo próprio Jorge Paulino.


 No Norte, por sua vez, coube à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a organização de um Colóquio com o título: 40 anos depois de Abril, Património e Ciência no Norte de Portugal, com múltiplas intervenções nas áreas da Arqueologia, História da Arte e Museologia, e cujas actas se encontram já publicadas. Não tive acesso ao volume em si, mas o Lino Augusto Tavares teve a amabilidade de me enviar o PDF do seu contributo, "Tongobria, do Século de Augusto ao obscurantismo...", que li com interesse até porque profissionalmente, sinto-me ligado ao nascimento do projecto nos inícios dos anos 80, como o Lino teve a amabilidade de referir a certa altura. E de facto o projecto de Tongóbriga, ou melhor, da "Área Arqueológica do Freixo", assumiu uma singularidade própria no contexto das transformações da arqueologia portuguesa no final do Século passado. Ao contrário de muitos sítios ou monumentos em que havia todo um "histórico" a que a geração a que me orgulho de pertencer, deitou mão repensando ou refazendo, no caso do Freixo havia apenas uma vaga lenda local de uma "Capela dos Mouros", materializada em meros vestígios salvos "in extremis" por um autarca zeloso. Confirmar a existência e pôr à vista a cidade romana de Tongobriga, negociar e adquirir terrenos, criar estruturas em plena aldeia, adquirindo, alugando e adaptando espaços, exigiu um grau de crença e empenhamento no que se estava a fazer e de estreito envolvimento local que só um verdadeiro corredor de fundo poderia levar a cabo com sucesso. É verdade que, quando o projecto atingia a bonita idade de um quarto de século, foi de algum modo travado no potencial de crescimento que ainda revelava, e disso, que classifica como "obscurantismo", Lino Tavares dá conta com evidente mágoa no seu texto. Em todo o caso, o essencial do projecto mantem-se, nomeadamente na sua forte componente pedagógica, constituindo em minha opinião um exemplo muito positivo das transformações estruturais que a sementeira de ideias que o 25 de Abril proporcionou, citando como o Lino faz no seu texto, Guilherme d'Oliveira Martins.
Ao projecto da Área Arqueológica do Freixo, dediquei em Abril de 1994 (20 anos depois do Abril em causa) uma das crónicas do Diário de Notícias que, por razões editoriais, não coube na colectânea publicada pela Europa-América (Raposo e Silva, A Linguagem das Coisas, 1996) e que agora aqui anexo como testemunho.



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