O Castro da Cola e a Necrópole da Atalaia_ nas memórias do "Diário Popular"
Abel Viana acompanhando a visita ao castro da Cola do arqueólogo Helmut Schlunk fundador e director até 1971 da delegação de Madrid do Instituto Arqueológico Alemão (Foto arquivo DAI). |
Graças à amabilidade de Gonçalo Pereira, director da edição
portuguesa da National Geographic, tomei conhecimento de mais um “recorte” do
saudoso Diário Popular que agora aqui disponibilizo. Trata-se de um pequeno
artigo datado de 22 de Setembro de 1966, assinado por José Moedas, conhecido jornalista
do Diário do Alentejo falecido em 1994, e que tinha como título “Duas estações
arqueológicas que estão à espera de novas investigações”. As estações em causa,
ambas localizadas em Ourique e ilustradas com fotos, eram o Castro da
Cola e a Necrópole da Atalaia, os últimos sítios arqueológicos a concentrarem a
atenção do arqueólogo minhoto Abel Viana que, sem nunca esquecer as suas
origens, adoptara o Alentejo e a cidade de Beja como a sua terra de eleição.
(vide o meu anterior post- http://pedrastalhas.blogspot.pt/2014/09/ser-ou-nao-ser-alentejano-participei.html
(vide o meu anterior post- http://pedrastalhas.blogspot.pt/2014/09/ser-ou-nao-ser-alentejano-participei.html
José Moedas destaca no seu texto, a circunstância de, desde a morte de Abel
Viana, aqueles importantes sítios estarem praticamente ao abandono e a aguardar que alguém lhes desse a atenção que justificavam. De facto,
após um longo périplo pela arqueologia do Algarve e Alentejo, conciliando com
dificuldade a actividade de professor primário com a investigação de campo, Abel Viana, graças ao apoio da Fundação
Gulbenkian, assentara arraiais na Senhora da Cola. Já com mais de sessenta anos, lança-se num difícil projecto de investigação, escavando o remoto Castro da Cola, antes referenciado por André de Resende e Frei Manuel Cenáculo, um local fortificado que mostrava indícios de uma longa ocupação, desde a Idade do Ferro
aos tempos da Reconquista. Foi a partir da Cola que depois descobriria a Necrópole da
Atalaia, um dos mais importantes e complexos monumentos funerários da Idade do Bronze do Sudoeste peninsular, entretanto
escavada em colaboração com arqueólogos do Instituto Arqueológico Alemão. Abel
Viana viria a morrer subitamente no dia 17 de Fevereiro de 1964, no dia
imediato a uma importante visita às escavações do Castro da Cola por uma comitiva presidida pelo Ministro das Obras Públicas (um alentejano, pai do
conhecido político pós 25 Abril, Adelino Amaro da Costa) e pelo Governador
Civil de Beja. Aquele que parecera a Abel Viana como o tão ansiado
momento de reconhecimento e apoio a um projecto que ele entendia também de
desenvolvimento de uma zona especialmente deprimida, com o seu infeliz desaparecimento, tornava-se afinal o dia do esquecimento.
A visita do Ministro das Obras Públicas às escavações do Castro da Cola em 16 de Fevereiro de 1964 |
É disso que, dois anos depois, José Moedas dava conta no seu
artigo do Popular. E na verdade ambas as estações aguardariam ainda muitos anos
até que a sua sorte começasse de novo a mudar. No início deste século, a
aquisição dos terrenos do Castro da Cola pelo Estado e a instalação de um Centro
Interpretativo numa das casas de romeiros do Santuário, que vai subsistindo dificilmente com
os apoios locais, criaram condições não só para a visita ao Castro mas também
para se descobrirem diversos monumentos megalíticos da região, dando vida a um
projecto sonhado por Caetano Melo Beirão nos anos 80 http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/itinerarios/alentejo-algarve/02/ .
Já a Necrópole da Atalaia, não teve a mesma sorte. Um
arrastadíssimo processo de classificação, só recentemente concluído (Decreto
24/2013, de 25-7-2013), não impediu que há alguns anos tivesse sido
profundamente afectada por um desastrado projecto de florestação.
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