OLISIPO
São eventos como o que tive oportunidade de viver ontem (17/01/2016) no velho cinema São Jorge, que nos mostram que, apesar de todos os problemas e dificuldades, o "mundo pula e avança"...
Como vão longe os tempos em que fazer Arqueologia em Lisboa era praticamente uma excentricidade! Já aqui neste blog recordei a figura de IRISALVA MOITA (1924-2009) ver aqui, a arqueóloga que, lutando contra muitas adversidades, deixou o seu nome ligado às raras intervenções arqueológicas verificadas em Lisboa antes do 25 de Abril, como as da necrópole romana da Praça da Figueira (decorrente das primeiras obras do Metro no final dos anos 50) ou sd escavações dos anos 60 no Teatro Romano, ao Caldas. Eu próprio contaria ainda com o seu apoio directo (como Directora dos Museus de Lisboa) para o lançamento da primeira grande escavação arqueológica lisboeta posterior ao 25 de Abril, acção que promovi no início dos anos 80 como responsável do Departamento de Arqueologia do IPPC, no âmbito da recuperação da Casa dos Bicos para a XVII Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura. Eram acções isoladas, negociadas caso a caso e que normalmente eram entendidas pelas entidades promotoras das obras, como "concessão de facilidades" aos arqueólogos e não como obrigações decorrentes dos impactos negativos induzidos pelas intervenções, nos "arquivos materiais" conservados no subsolo das cidades históricas. Vivi ainda essa situação de forma muito objectiva e concreta no final dos anos 80 e início dos anos 90 em Évora, onde no âmbito do Serviço Regional de Arqueologia promovemos algumas intervenções no centro histórico, sempre "mendigadas" junto dos promotores, situação que só começaria a mudar após as alterações legais promovidas no contexto da criação do IPA no final da última década do século passado.
O excelente documentário do Raul Losada, com reconstituições 3D de César Figueiredo de que tive oportunidade de visionar ontem no São Jorge (sala onde não entrava há décadas) sobre os resultados da intervenção arqueológica na Praça D.Luis, mostram-nos hoje uma realidade completamente diferente. Mas mais do que as circunstancias concretas, que já conhecia, da intervenção da ERA ARQUEOLOGIA (empresa fundada há cerca de 2 décadas por antigos jovens colegas que, pontualmente haviam trabalhado comigo nessas intervenções "mendigadas" aos promotores...), representou para mim uma agradável surpresa e a prova de que estamos de facto num paradigma novo, a multidão de gente, de todas as idades (mas sobretudo jovens) que acorreram ao São Jorge para assistir a um "simples", ainda que muito interessante, documentário histórico.
Um aspecto da Sala Manuel d'Oliveira do Cinema São Jorge, pouco antes da projecção do documentário (Fundeadouro Romano em Olisipo) |
O promotor e realizador do documentário, Raul Losada e um representante do CAL (Centro de Arqueologia de Lisboa) da Câmara Municipal, dirigindo-se aos assistentes |
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