quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

JEANNETTE NOLEN
(1930-2016)

No desaparecimento de uma excelente pessoa e de uma grande arqueóloga que tive o prazer de conhecer e em jeito de simples homenagem, recordo através de imagens alguns momentos da inesquecível viagem à Síria do Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arqueologia (GAMNA) grupo de que foi Presidente e que muito lhe deve, como o Luis Raposo emotivamente recorda na sua sentida nota, que também aqui divulgo (tal como a de José d'Encarnação) com a devida vénia.

Junto à Grande Mesquita de Damasco, no início da viagem de 2004 à Síria, com Ana e Luis Raposo, entre outros.

Ao centro da foto, nas ruínas de Apameia (Viagem à Síria do GAMNA, 2004)

Em Bosra, a grande cidade romana do Sul da Síria (Viagem GAMNA de 2004)



O testemunho de José d'Encarnação (ARCHPORT):


JEANNETTE ULRICA SMIT NOLEN

            Faleceu esta manhã, dia 6 de Janeiro, em S. Pedro do Estoril, na casa de repouso onde se encontrava, a Dra. Jeannette U. Smit-Nolen.
            Holandesa de nascimento, esteve muitos anos nos Estados Unidos, mas foi em Portugal, nomeadamente na sua casa em Janes (Cascais), que viveu a maior parte do seu tempo Era viúva de William Nolen, que foi leitor de Inglês na Faculdade de Letras de Lisboa.
            O seu nome está intrinsecamente ligado à Arqueologia portuguesa, porque integrou a equipa de escavações luso-francesas de Conímbriga; os trabalhos na necrópole romana de Santo André (Montargil) e as campanhas de escavação na villa romana de S. Cucufate. Foi membro-fundador do Grupo de Amigos do Museu Naciopnal de Arqueologia, de que chegou a ser presidente e foi membro-fundador também da Associação Cultural de Cascais, em que integrou os corpos sociais, durante vários mandatos.
            Foi de sua preferência o estudo dos vidros romanos, de que nos deixou vários artigos e recordo que tinha em estado bastante avançado o inventário dos vidros de Tongobriga (Freixo, Marco de Canaveses), cujo dossiê entregou a partir do momento em que verificou não se sentir já com forças para o levar a cabo.
            Dos estudos a que o seu nome particularmente ligado são de mencionar, entre outros: Cerâmicas e Vidros de Torre de Ares – Balsa, Lisboa, 1994; os estudos sobre o recheio do Museu de Vila Viçosa (a que mui devotadamente se dedicou durante vários anos); Cerâmica Comum de Necrópoles do Alto Alentejo, Fundação da Casa de Bragança, Lisboa, 1985; «Acerca da cronologia da cerâmica comum das necrópoles do Alto Alentejo: novos elementos», O Arqueólogo Português, Lisboa, série IV, 13/15, 1995-1997, pp. 347-392; «A necrópole de Santo André, parte II. Os materiais», Conimbriga 20, 1981, pp. 5-180 (de colab. com Maria L. Dias); «A villaromana do Alto do Cidreira (Alcabideche – Cascais) – Os materiais», Conimbriga 27 1988 61-140.
            Que descanse em paz quem foi sempre uma trabalhadora incansável, sempre pronta a colaborar, duma natural afabilidade.
                                                                                                                                                                                                        José d’Encarnação

e o de Luis Raposo:

É com profundíssima consternação que tomo conhecimennto do falecimento da Dra. Jeannette Nolen.
Na exigência para consigo própria e para com os outros, no  horror ao exibicionismo, no permamente combate às vaidades mundanas, mas também no seu afecto, amizade e solidariedade, ela foi e é certamente a pessoa que, no plano dos meus relacionamentos profssionais e em quasse meio século, mais me habituei a admirar, no íntimo de mim mesmo.
Foi grande, enorme amiga do MNA (e presidente do GAMNA), que muitíssimo lhe deve, parte do qual permanecerá porventura por revelar para sempre, por expressa vontade dela, que respeitarei.
Foi também uma imensa amiga pessoal e dos que me são mais próximos. Uma amiga daquelas que não se coibia de me criticar, mesmo asperamente, quando assim entendia. Recordo por exemplo, o dia em que me admoestou por eu ter colocado fotografia minha em texto de boas-vindas, aquando a criação do sítio de Internet do MNA.
Mas uma amiga também que sempre me incentivou nos numerosos combates que fui tendo, criticando com dureza e algum desprezo os portugueses (que tanto amava), e o nosso meio profissional em particular, por ser demasiado subserviente, sempre à espera de migalhas do poder, de todos os poderes. Recordo como em certo momento mais crítico se prontificou a suportar os custos de contenda judicial em que eu poderia ficar envolvido por demanda de determinado secretário de Estado (o que não chegou a ser necessário).
Na sua rigidez de costumes, na sua exigência ética, na sua postura cívica... mas também na sua doce e terna amizade, Jeannette Nolen constitui em mim o protótipo de pessoa livre, que dá gosto conhecermos e nos inspira. Pudéssemos dispor de muitas jeannettes nolens e teríamos certamente um País diferente. Sendo mais livres, seríamos muito mais felizes.
Luís Raposo


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