segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

A velha escola do Bairro de Janeiro 

Vista geral da Escola Preparatória Francisco Manuel de Melo (1974/75)- Com a estrutura do pavilhão gimno-desportivo por acabar, por falência do empreiteiro. Concluído muitos anos depois e hoje ao serviço do desporto municipal, é o que resta da velha escola que entretanto se mudou para novas instalações, julgo que em meados dos anos 80.







Por princípio 2016 será o meu último ano "completo" como funcionário público. Com efeito, no próximo dia 14 de Janeiro passam 42 anos sobre o dia em que, por substituição de uma professora chamada para outras funções, iniciei a minha actividade como professor provisório de História na Escola Preparatória Francisco Manuel de Melo da Amadora. Tinha concluído o Bacharelato na Faculdade de Letras em 1973 e desde Outubro desse mesmo ano dava já aulas no curso nocturno experimental iniciado então no Liceu da Amadora. No entanto, formalmente, a minha contagem de serviço inicia-se apenas no início de 74, com a entrada para aquela Escola Preparatória no Bairro de Janeiro, inicialmente apenas uma secção da Escola Roque Gameiro (Reboleira) mas que na altura, apesar da óbvia falta de condições, se autonomizara. Aparentemente, esta minha experiência pedagógico-didática que duraria até Outubro de 1980 (altura em que o Francisco Alves me requisitou com outros colegas da minha geração, para o Museu Nacional de Arqueologia) parece pouco ter a ver com a minha posterior carreira profissional no âmbito da arqueologia e do património, mas de facto representou um período de grande riqueza na minha formação humana, marcando de forma indelével toda a minha posterior vivência. A par das aulas, que vão coincidir com um período de grande transformação política e social (o 25 de Abril aconteceria apenas 4 meses depois), concluí a Licenciatura (1975) e mantive com os colegas da GEPP (Grupo de Estudos do Paleolíticio Português) intensa actividade de campo (nos períodos de férias escolares), em particular na região do Ródão onde se dão então as grandes campanhas arqueológicas de Vilas Ruivas (escavação e moldagem de um dos mais antigos solos de habitat da Europa), do Monte do Famaco e da Foz do Enxarrique. Casei entretanto e tive a minha filha Raquel (1976). Concluí o estágio pedagógico no conservador Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho (1975/76), sob a orientação da Prof. Maria Emília Diniz (excelente historiadora e professora); fiz um ano e meio de tropa (ver aqui) entre 77 e 78, mantendo-me como professor no Liceu da Amadora (curso nocturno), acumulando trabalho mas não vencimentos (eram outros tempos...). E, naturalmente, envolvendo tudo isto, numa tradição que vinha já antes do 25 de Abril, não deixei de te,r como quase toda a gente então, uma normalíssima actividade política, quer a nível local (fui candidato à Assembleia de Freguesia da Amadora, então a maior freguesia do país que passaria pouco tempo depois a Município), quer a nível sindical, onde com o Luis Raposo, integrei a certa altura uma lista candidata á direcção do Sindicato dos Professores mas que (felizmente) foi derrotada nas urnas...

A entrada para as aulas na Francisco Manuel de Melo. Normalmente muito atribulada em tempo de chuva...

Detalhe da Escola Francisco Manuel de Melo. A "vedação" era na altura um melhoramento recente para evitar as habituais interferencias do exterior ao "normal" funcionamento das aulas.
Da curta experiência na Francisco Manuel de Melo (74 a 76), de que guardo naturalmente boas ainda que já difusas memórias, restam-me algumas fotos que encontrei no baú das velharias e que, com a passagem de tantos anos, parecerão hoje aos mais jovens, como fotos de um qualquer país do terceiro mundo, mas que eram a realidade dos subúrbios de Lisboa em plena explosão demográfica por contraponto à desertificação rural então em plena aceleração. Recordo em especial, apesar das péssimas condições de trabalho, o entusiasmo com que naqueles barracões, professores, empregados e os próprios alunos apesar da tenra idade (10 a 13 anos), vivemos as emoções da "revolução". Aqui as deixo, com alguns comentários a propósito das recordações que evocam, apesar de como é natural, me faltarem já os mais elementares dados concretos sobre as mesmas. Pode ser, no entanto, que despertem outras memórias a quem as visionar.


Uma aula de "educação física" na Francisco Manuel de Melo



A professora de educação visual, orienta uma experiencia prática de "grafiti", ao espírito da época e certamente posterior a Abril de 74




Quando surgiam as novas práticas pedagógicas,  fruto da época, como os "trabalhos de grupo"....


E havia até espaço para exposições... (A Cultura é a Liberdade do Povo)

E tempo para visitas de estudo (aqui julgo que ao "Mercado do Povo", um espaço ocupado no pós 25 de Abril por artistas e artesãos de rua junto ao velho Museu de Arte Popular, em Belém).
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Ou mesmo festas organizadas pelos alunos (sim, de 10 a 13 anos...) com peças de teatro escritas e ensaiadas por eles próprios, como esta aqui a que chamaram os "Meninos do Chile" e que evocava os trágicos acontecimentos de 73 naquele país e que, naturalmente encontraram especial eco e solidariedade na sociedade portuguesa do pós 25 Abril de 74.

Não recordo já os detalhes da peça de teatro...mas graças a esta foto, recordo que ela termina com os "meninos do Chile" a oferecerem cravos de Abril à assistência...

Outro aspecto da festa em causa (leitura de poesia?), que dada a falta de condições da escola, foi organizada no Salão Paroquial da Igreja da Amadora



A minha mudança para a Arqueologia, acontecida logo em 1980, fez-me perder quase todos os laços com os meus colegas professores. Restam memórias difusas e algumas imagens. Num almoço de convívio dos professores da Francisco Manuel de Melo (entre 74 e 75) reconheço à direita em primeiro plano o "Professor Neves", professor de educação física, dirigente da Académica da Amadora e primeiro Presidente do Conselho Directivo da Escola na sequencia do 25 de Abril.  A colega directora foi "rápida e democraticamente afastada", regressando à sua escola de origem e elegemos entre todos o primeiro Conselho Directivo, ao qual pertenci até sair para Estágio em Outubro de 75. Foi a minha primeira experiência de "gestão" a que se seguiria a partir de 82, a Direcção do Departamento de Arqueologia do IPPC.

Outra imagem do mesmo convívio de professores. Reconheço as caras mas já não consigo associar-lhes nomes.




Uma imagem que pouco já tem a ver com as anteriores, embora provenha do mesmo "baú" pessoal. O Liceu da Amadora (onde também dei aulas) no dia 25 de Abri de 1975, por ocasião das primeiras eleições democráticas, neste caso para a Assembleia Constituinte.  A vontade de participar era tal que desde cedo se formaram longas filas de eleitores.






5 comentários:

  1. ...boa memória e bom acervo de materiais-históricos. Como trabalhei mts anos na Amadora- a Porcalhota de mts anos, nome horrível - , gostei desta incursão ao passado!!!( ah EP Roque Gameiro já na versão actual) gostei particularmente

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  2. Obrigado pela boleia pela "memory lane", António.
    A circunstância de pertencer à mesma geração suscita, com elevada probabilidade, a comunidade das memórias, tantas vezes idênticas na substância, a despeito da geografia.
    De alguma forma, este passeio pelo teu passado de há quarenta anos é um convite a revisitar a memória que eu próprio tenho, desse mesmo tempo, para confirmar, uma vez mais, o privilégio que foi viver esse tempo com a intensidade que o capricho da história resolveu emprestar-lhe.
    Parabéns pela arca do tesouro.

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  3. Meu filho Pedro Nunes veio a frequentar a escola nos anos 80 (1981/1982)
    O prof. Fernando Neves foi prof de ginástica dele na Académica. Eu fui grande Amigo do Neves e estive com ele na Direcção da AAA desde 1976 até, sei lá, talvez 1985. Nunca mais o vi. Jantou muitas vezes em minha casa e tínhamos "discussões" políticas acaloradas mas respeitosas um do outro.

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  4. Bom dia, encontrei o seu blog quando procurava imagens antigas do Bairro de Janeiro, andei na Francisco Manuel de Melo, penso que em 75-77 depois Roque Gameiro e por fim Liceu da Amadora, vou tentar levar estas fotos para um grupo dos antigos moradores do Bairro! Obrigada por partilhar connosco! Bem haja.

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    1. Muito provavelmente ainda fui seu professor (Estudos Sociais?) ou pelo menos ali nos cruzámos em 75. Julgo que deixei a Escola Francisco Manuel de Melo em Outubro de 76 para ir frequentar o estágio no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho. Obrigado pelas suas palavras.

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