terça-feira, 18 de novembro de 2014

As crianças e a Gruta do Escoural




Apesar da falta de condições (segurança, conservação, acessibilidade, interpretação, etc...) durante muitos anos, em particular ao longo das décadas de 80/90, a Gruta do Escoural, pelas suas características quase únicas no nosso território, era um sítio quase obrigatório para as chamadas "visitas de estudo", em particular dos alunos do antigo 1º ciclo (hoje 5º e 6ºano), ou do início do 2º ciclo (7ºano actual) anos em que, através das disciplinas da História ou dos Estudos Sociais, se abordava a iniciação ao estudo da Pré-história no Secundário. Os autocarros chegavam quase à porta da Gruta e depois da visita ainda havia tempo para uma saltada a Évora e, por vezes até ao Cromeleque dos Almendres que, apesar de maior dificuldade no acesso, começava a ser descoberto por um público mais alargado. Os compêndios de História davam uma ajuda a este interesse, pois quando se falava de "arte rupestre", a par dos cavalos de Lascaux ou dos bisontes de Altamira, as gravuras dos "cavalos" do Escoural, acrescentavam o necessário toque nacionalista. Hoje as coisas são muito diferentes. Por um lado as escolas, por muitas e variadas razões, cada vez organizam menos visitas de estudo. Por outro e apesar da introdução de significativas melhorias nas condições de visita, as limitações e condicionantes de salvaguarda e conservação, impossibilitam as visitas de grupos numerosos (e as turmas estão cada vez maiores...). Por fim, com as descobertas espectaculares da arte rupestre paleolítica do Côa em meados dos anos 90, o Escoural perdeu, inevitavelmente, aquele charme de ser único... (apesar de, até ao momento, ser a única cavidade em território português, com vestígios de arte parietal paleolítica ou de continuar a ter o título de cavidade mais ocidental do complexo rupestre europeu, etc...etc...).


Vem tudo isto a propósito do recente lançamento pelo Município de Montemor-o-Novo de um livro infantil sobre a Gruta do Escoural, iniciativa que se inscreve numa política assumida há muito por esta autarquia de aposta muito forte junto dos mais jovens na formação de cidadãos - há quem lhe chame "públicos" ou mesmo "consumidores"-, seja através do teatro e da dança (o Rui Horta está sediado no Castelo de Montemor), seja através das artes plásticas ou do património. Por outro lado, ainda que com algum atraso, representou o último acto das comemorações do cinquentenário da descoberta da Gruta, organizadas em 2013 em colaboração com a Direcção Regional de Cultura do Alentejo. De facto, ao longo do ano de 2013, a autarquia em colaboração com as escolas do concelho, promoveu a visita à Gruta do Escoural, praticamente de todos os alunos do ensino primário (cerca de meio milhar de crianças), visita que era acompanhada de iniciativas várias, nomeadamente "ateliers" dedicados à Pré-história e seguida de exploração didáctica pelos professores. Aliás tirando partido dessas visitas, alguns dos professores promoveram a realização pelos alunos de trabalhos plásticos que mais tarde seriam expostos numa interessantíssima exposição organizada pela autarquia e visitada por milhares de pessoas na Feira da Luz de Montemor-o-Novo (edição de 2013) e na Galeria da Rua de Burgos, na sede da DRCALEN em Évora. Finalmente uma especial menção ao livro editado, da autoria de Teresa Fonseca, uma conhecida historiadora, com obra firmada no âmbito da História Moderna e Contemporânea que aceitou o desafio municipal. Ajudada por uma ilustração muito cuidada e atractiva de Rodolfo Pimenta, a autora consegue a proeza de contar uma história capaz de prender os leitores mais jovens e simultaneamente dar uma primeira lição sobre o que seria o modo de vida dos nossos remotos antepassados que na pequena Gruta do Escoural deixaram marcas que ainda hoje nos seduzem. Pela minha parte não vou esperar que as minhas netas aprendam a ler...eu próprio, com a ajuda da Teresa e do Rodolfo, lhes vou contar e certamente acrescentar alguma coisinha. ("Quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto....").


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