Recordando Francisco Tavares Proença Júnior
Assinalando a passagem do centenário da morte do arqueólogo
de Castelo Branco, Francisco Tavares Proença Júnior (1883-1916), a Associação
dos Arqueólogos Portugueses, organiza dentro de alguns dias na sua sede do
Carmo um colóquio de justificadíssima homenagem. Mas a Associação não se limita
a recordar a figura do malogrado arqueólogo, falecido muito jovem mas já então
com uma obra muito auspiciosa. Aproveitando a oportunidade, será feito um balanço
sobre o conhecimento arqueológico da região (Carta Arqueológica do Distrito de Castelo Branco, contributos para uma
revisão cem anos depois) pretexto para recordar o pioneirismo de Proença
Júnior neste domínio fundamental para a salvaguarda do património arqueológico.
Hoje considerada uma figura destacada entre os arqueólogos portugueses que na
transição do Século XIX para o Século XX desenvolveram a sua acção a nível
regional (a par de Estácio da Veiga, Rocha Peixoto ou Martins Sarmento) o seu
nome e obra só não caíram no total esquecimento, graças ao Museu que fundou em
Castelo Branco em 1908, e que de algum modo está nas origens do Museu Distrital
que, muito justamente, ostenta o seu nome.
Felizmente, nos últimos tempos (vale mais tarde do que
nunca) temos assistido a um movimento de recuperação e valorização desta
importante personagem da Arqueologia portuguesa, que teve o seu ponto alto num
Congresso Internacional de Arqueologia realizado em Castelo Bramco em 2008,
promovido pelo Museu Tavares Proença Júnior e pela respectiva Sociedade dos
Amigos do Museu. Comemorava-se então o Centenário da aprovação da criação do
Museu que abriria as suas portas ao público em 17 de Abril de 1910. Nesse mesmo
ano Proença Júnior editava o 1º nº da revista “Materiaes”, uma peça fundamental
no tripé que sustentava a acção destes paladinos regionais da Arqueologia da
época: investigação (arqueologia de campo), publicação científica (revistas
especializadas), divulgação pública (museus). De referir que a publicação das
Actas do Congresso de 2008 (Castelo Branco, 2010), e na qual tive a honra de
colaborar (“O Ródão e a Arqueologia
portuguesa do último quartel do Sèculo XX_ encruzilhadas de mudança”, pp. 81-106)
assumiria num gesto pleno de simbolismo, o grafismo da centenária edição da
revista “Materiaes”.
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Actas do Congresso Internacional de Arqueologia, Castelo Branco, 2008 |
Congratulando-me com a oportuna iniciativa da minha Associação
(AAP), configurando no centenário da sua morte, o reconhecimento nacional da
figura do arqueólogo Proença Júnior, não posso no entanto esquecer que também
neste campo devemos reconhecer os percursores. Quando há mais de 3 décadas o
Francisco Alves, empossado como Director do Museu Nacional de Arqueologia
(1980) decidiu relançar uma nova série da revista “O Arqueólogo Português”, cuja
publicação estava há vários anos interrompida, socorreu-se essencialmente da
equipa que com ele colaborava então na reorganização do Museu. Dela faziam
parte vários dos jovens arqueólogos que haviam começado a sua carreira nas
margens do Tejo, na zona de Vila Velha de Ródão, no âmbito do salvamento da Arte Rupestre do Tejo e que, no contexto desse projecto, haviam beneficiado da amizade e apoio do então Director do Museu de Castelo Branco, Dr. António Salvado. Talvez
essa cumplicidade explique que no volume inaugural da sua IV série, surja um
artigo de um “obscuro” colaborador daquele Museu, o meu amigo Joaquim Batista,
dando conta de um “humilde” monumento megalítico da Beira Baixa, a Anta da
Urgueira, escavado no início do Século XX por um “esquecido arqueólogo”, Tavares
Proença Júnior, e cujos materiais permaneciam inéditos e quase perdidos nas
reservas do Museu albicastrense. Hoje é consensual o reconhecimento do
pioneirismo de Proença Júnior, mas há três décadas, poucos nos teremos
apercebido da importância que um tal artigo tinha, não apenas para a divulgação
da figura do arqueólogo Francisco Tavares Proença Júnior, mas sobretudo para a chamada de atenção para o vasto património arqueológico de uma região que, finalmente e graças ao movimento
geracional em torno da descoberta da arte rupestre e do paleolítico do
Ródão, saía de um torpor de muitas décadas. O Joaquim Batista que fora uma figura
crucial na montagem no Museu de Castelo Branco em 1980 das “estruturas de
habitat paleolíticas de Vilas Ruivas”, uma missão quase impossível (face às condições da
época) coordenada pelo Luis Raposo e por mim (estruturas que seriam publicadas
cientificamente, nesse mesmo volume do Arqueólogo Português), retirou-se mais
tarde do Museu, seguindo outros caminhos profissionais. Mas, até porque reside
há alguns anos na velha Egitânia, continua um fero paladino na defesa do património
cultural da sua Beira-Baixa, com intervenções frequentes sobretudo no universo das redes
sociais, onde amiúde o vou encontrando.
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O Joaquim Batista, à direita, acompanhando o Luis Raposo nos retoques finais da remontagem das estruturas de habitat paleolíticas de Vilas Ruivas, no Museu de Castelo Branco (1980). |
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Capa do 1ºv. da IV série d O Arqueólogo Português (1983) |
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Resumo facsimilado do artigo de Joaquim Batista |
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Estampas do mesmo artigo |
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