quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Recordando Francisco Tavares Proença Júnior




Assinalando a passagem do centenário da morte do arqueólogo de Castelo Branco, Francisco Tavares Proença Júnior (1883-1916), a Associação dos Arqueólogos Portugueses, organiza dentro de alguns dias na sua sede do Carmo um colóquio de justificadíssima homenagem. Mas a Associação não se limita a recordar a figura do malogrado arqueólogo, falecido muito jovem mas já então com uma obra muito auspiciosa. Aproveitando a oportunidade, será feito um balanço sobre o conhecimento arqueológico da região (Carta Arqueológica do Distrito de Castelo Branco, contributos para uma revisão cem anos depois) pretexto para recordar o pioneirismo de Proença Júnior neste domínio fundamental para a salvaguarda do património arqueológico. Hoje considerada uma figura destacada entre os arqueólogos portugueses que na transição do Século XIX para o Século XX desenvolveram a sua acção a nível regional (a par de Estácio da Veiga, Rocha Peixoto ou Martins Sarmento) o seu nome e obra só não caíram no total esquecimento, graças ao Museu que fundou em Castelo Branco em 1908, e que de algum modo está nas origens do Museu Distrital que, muito justamente, ostenta o seu nome.

Felizmente, nos últimos tempos (vale mais tarde do que nunca) temos assistido a um movimento de recuperação e valorização desta importante personagem da Arqueologia portuguesa, que teve o seu ponto alto num Congresso Internacional de Arqueologia realizado em Castelo Bramco em 2008, promovido pelo Museu Tavares Proença Júnior e pela respectiva Sociedade dos Amigos do Museu. Comemorava-se então o Centenário da aprovação da criação do Museu que abriria as suas portas ao público em 17 de Abril de 1910. Nesse mesmo ano Proença Júnior editava o 1º nº da revista “Materiaes”, uma peça fundamental no tripé que sustentava a acção destes paladinos regionais da Arqueologia da época: investigação (arqueologia de campo), publicação científica (revistas especializadas), divulgação pública (museus). De referir que a publicação das Actas do Congresso de 2008 (Castelo Branco, 2010), e na qual tive a honra de colaborar (“O Ródão e a Arqueologia portuguesa do último quartel do Sèculo XX_ encruzilhadas de mudança”, pp. 81-106) assumiria num gesto pleno de simbolismo, o grafismo da centenária edição da revista “Materiaes”.

Actas do Congresso Internacional de Arqueologia, Castelo Branco, 2008

Congratulando-me com a oportuna iniciativa da minha Associação (AAP), configurando no centenário da sua morte, o reconhecimento nacional da figura do arqueólogo Proença Júnior, não posso no entanto esquecer que também neste campo devemos reconhecer os percursores. Quando há mais de 3 décadas o Francisco Alves, empossado como Director do Museu Nacional de Arqueologia (1980) decidiu relançar uma nova série da revista “O Arqueólogo Português”, cuja publicação estava há vários anos interrompida, socorreu-se essencialmente da equipa que com ele colaborava então na reorganização do Museu. Dela faziam parte vários dos jovens arqueólogos que haviam começado a sua carreira nas margens do Tejo, na zona de Vila Velha de Ródão, no âmbito do salvamento da Arte Rupestre do Tejo e que, no contexto desse projecto, haviam beneficiado da amizade e apoio do então Director do Museu de Castelo Branco, Dr. António Salvado. Talvez essa cumplicidade explique que no volume inaugural da sua IV série, surja um artigo de um “obscuro” colaborador daquele Museu, o meu amigo Joaquim Batista, dando conta de um “humilde” monumento megalítico da Beira Baixa, a Anta da Urgueira, escavado no início do Século XX por um “esquecido arqueólogo”, Tavares Proença Júnior, e cujos materiais permaneciam inéditos e quase perdidos nas reservas do Museu albicastrense. Hoje é consensual o reconhecimento do pioneirismo de Proença Júnior, mas há três décadas, poucos nos teremos apercebido da importância que um tal artigo tinha, não apenas para a divulgação da figura do arqueólogo Francisco Tavares Proença Júnior, mas sobretudo para a chamada de atenção para o vasto património arqueológico de uma região que, finalmente e graças ao movimento geracional em torno da descoberta da arte rupestre e do paleolítico do Ródão, saía de um torpor de muitas décadas. O Joaquim Batista que fora uma figura crucial na montagem no Museu de Castelo Branco em 1980 das “estruturas de habitat paleolíticas de Vilas Ruivas”, uma missão quase impossível (face às condições da época) coordenada pelo Luis Raposo e por mim (estruturas que seriam publicadas cientificamente, nesse mesmo volume do Arqueólogo Português), retirou-se mais tarde do Museu, seguindo outros caminhos profissionais. Mas, até porque reside há alguns anos na velha Egitânia, continua um fero paladino na defesa do património cultural da sua Beira-Baixa, com intervenções frequentes sobretudo no universo das redes sociais, onde amiúde o vou encontrando. 


O Joaquim Batista, à direita, acompanhando o Luis Raposo nos retoques finais da remontagem das estruturas de habitat paleolíticas de Vilas Ruivas, no Museu de Castelo Branco (1980).

Capa do 1ºv. da IV série d O Arqueólogo Português (1983)

Resumo facsimilado do artigo de Joaquim Batista


Estampas do mesmo artigo



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