quarta-feira, 14 de outubro de 2015

O PALEOLÍTICO


Os autores "anónimos" não lhe deram data de edição mas os tipógrafos tiveram o cuidado de o registar ("Composto e impresso na Gráfica São José, Castelo Branco, 1977"). De qualquer modo, a referencia ao Museu Francisco Tavares Proença Júnior como dependente da Direcção-Geral do Património Cultural, dá-nos uma baliza relativamente apertada, já que em 1980 aquela Direcção Geral, só surgida após o 25 de Abrils, seria substituída pelo IPPC (Instituto Português do Património Cultural). Quanto ao anonimato ele também é relativo, na medida em que a autoria é assumida colectiva e convictamente pelos membros do GEPP (Grupo para o Estudo do Paleolítico Português) uma associação informal constituída no início dos anos 70 por um grupo de jovens estudantes onde prontificava o Vitor Oliveira Jorge e ao qual eu também me associaria mais tarde já no contexto das campanhas promovidas em Vila Velha de Ródão, na sequencia da descoberta da Arte Rupestre do Vale do Tejo. Já por várias vezes me tenho referido neste blog à importante actividade desenvolvida por esse punhado de estudantes e nessa sequência deixo hoje uma referencia especial à brochura "O Paleolítico - As primeiras comunidades humanas de caçadores-recolectores", cujo PDF acabo de disponibilizar através do Academia.edu (que pode encontrar aqui). Esta publicação surge já no âmbito de uma segunda fase de trabalho arqueológico na região do Ródão, subsequente à conclusão da Barragem do Fratel e à submersão da grande maioria dos conjuntos rupestres entretanto identificados e documentados (1971-1974). De facto alguns elementos do GEPP manteriam uma forte ligação à região, retomando os objectivos que tinham estado na origem das primeiras expedições ao Ródão, ou seja, a prospecção e estudo de potenciais vestígios paleolíticos conservados nos terraços quaternários há muito referenciados por Orlando Ribeiro a montante e a jusante das portas do Ródão. Nesse final dos anos 70, para além do apoio directo das autarquias (Vila Velha de Ródão era então uma Câmara comunista, quer pela proximidade do Alentejo quer sobretudo pelo peso social da enorme fábrica de celulose...) o GEPP contou com uma enorme cumplicidade de António Salvado, professor e poeta albicastrense, na altura Director do Museu Regional de Castelo Branco. Esta publicação, com claros intuitos pedagógicos (uma vertente da Arqueologia que então assumíamos inequivocamente) mas graficamente limitada, só foi possível com os magros recursos que o Dr.Salvado, como o conhecíamos, ia conseguindo para a edição da Revista "Estudos de Castelo Branco" (uma revista cultural editada com alguma regularidade entre 1961 e 81, entretanto retomada a partir de 2003 mas que parece outra vez "adormecida"). Aliás, a brochura apresenta-se, no respectivo formato e grafismo, quase como uma "separata" dos "Estudos" (como viria a acontecer mais tarde noutras edições de arqueologia que contaram com o apoio do Museu). Uma releitura atenta do texto, quase 40 anos após a sua edição, para além de revelar as claras intenções didáticas, não deixa de comprovar também um grande domínio da literatura especializada à época. Esta actualizada erudição, expressa sobretudo através das numerosas notas de fim de pé de página (mais extensas do que o próprio texto), mostra também a grande ligação dos jovens autores à escola arqueológica francesa.  Ao tempo, esta era claramente preponderante a nível mundial, no que respeitava aos estudos do paleolítico e por isso aparecem largamente citados os nomes de François Bordes (1919-81), André Leroi-Gourhan (1911-86) ou Henri Lumley (1936) arqueólogos que alguns de nós, já conheciamos pessoalmente, graças à participação enquanto estudantes em escavações por eles dirigidas. 

Aqui ficam também duas ilustrações originais (julgo que da autoria do José Mateus, que aliava o seu especial interesse pelos estudos paleo-ambientais à veia artística herdada por via familiar) e um quadro cronológico, também da autoria colectiva do GEPP que conjuntamente com ilustrações retiradas da literatura da época, conferiam à edição o tal cunho didático.




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