terça-feira, 30 de setembro de 2014

 Da onerosidade à irracionalidade

Visando os hoje sacrossantos objectivos de racionalidade económico-financeira, a gestão do património imobiliário do Estado implica actualmente que os serviços públicos do Estado, paguem uma renda ao Estado (diga-se Ministério das Finanças) pelos espaços que ocupam para o exercício das suas funções de Estado. O princípio é tão obstruso que a própria Lei prevê logo todo um role de excepções: quartéis, prisões, esquadras de polícia, hospitais, museus e até tem o cuidado (com o Vaticano não se brinca) de isentar explicitamente os Monumentos Nacionais que, por força da Concordata estejam afectos ao culto católico. Já no que respeita ao património cultural propriedade do Estado, a lei é menos clara, rezando que a isenção se aplica aos "imóveis directamente afectos ou destinados à salvaguarda do património cultural". Posto isto, um exemplo concreto.A Direcção Regional de Cultura do Alentejo está instalada num antigo palacete de Évora, adquirido nos anos 80 pelo então IPPC à Comissão de Coordenação da Região do Alentejo que, para caber nele se preparava para fazer obras inaceitáveis do ponto de vista da salvaguarda patrimonial. Do moroso projecto de recuperação então iniciado, acompanhado de extensas escavações arqueológicas, resultaram condicionantes significativas à posterior utilização do espaço mas que não obstaram a que o mesmo abrigue desde os anos 90 serviços técnico-administrativos. Em contrapartida, graças à sua galeria arqueológica e à galeria manuelina-mudéjar, Évora ganhou um novo espaço monumental aberto ao público, hoje essencial para a compreensão da evolução urbana da cidade. Naturalmente, a manutenção e conservação destes espaços e das estruturas arqueológicas que conserva exige um mínimo de recursos à entidade que os gere e que tem de os partilhar com os cerca de 40 imóveis patrimoniais que estão à sua responsabilidade por todo o Alentejo. Nada que assuste a entidade que gere o património imobiliário do Estado que acabe de informar que a "renda" da Casa Nobre da Rua de Burgos, a ser paga até final do ano, é de 1 374,00€ mensais, ou seja 16 488,00€ anuais. Resta saber se àquele valor acresce o IVA.
Posto isto veio-me à memória uma frase batida: "São os loucos de Lisboa/ Que nos fazem duvidar/ A Terra gira ao contrário/ E os rios correm do Mar." (Ala dos Namorados)

Salão manuelino, usado como galeria de exposições
Galeria Arqueológica: muralha romano-árabe ("Cerca Velha")
Galeria Arqueológica: restos da "domus" romana do início da nossa Era, destruída pela construção da muralha no final do Império, conservando pinturas de tipo "pompeiano" 

sábado, 27 de setembro de 2014

Ser ou não ser Alentejano

Participei hoje activamente em Vila Viçosa, com muito gosto, numa sessão de homenagem ao arqueólogo ABEL VIANA, talvez o mais alentejano dos arqueólogos do Século XX, que afinal até era minhoto e que muito prezava em não ser regionalista. De facto e apesar de ter vivido apenas os seus últimos 25 anos no Alentejo, Abel Viana deixou à Arqueologia do Alentejo um legado imenso, concretizado em centenas de artigos, em milhares de peças recuperadas e em muitos sítios arqueológicos intervencionados, em que hoje se destaca o monumental Castro da Cola em Ourique. A sua preocupação com o enriquecimento, estudo e disponibilização ao público dos acervos museológicos merece também especial referencia. Não nos referimos apenas ao Museu de Beja, sua base de trabalho durante muitos anos, mas também ao Museu de Arqueologia do Castelo de Vila Viçosa (a cuja fundação está ligado), ou aos Museus de Elvas, Nacional de Arqueologia, Serviços Geológicos, Lagos, etc... para onde, sem hesitações, encaminhou muitos dos espólios que ia recuperando. A sessão foi promovida pela Fundação da Casa de Bragança e pelo Museu Nacional de Arqueologia, nela tendo sido oradores João Luis Cardoso (Abel Viana na Arqueologia Portuguesa), Luis Raposo (A prática da Arqueologia em Abel Viana), Mónica Rolo (Abel Viana e Vila Viçosa) e eu próprio (Abel Viana e a arqueologia do Alentejo). A sessão incluíu ainda uma visita à exposição "Abel Viana, Paixão pela Arqueologia" e ao Museu de Arqueologia do Castelo de Vila Viçosa, gerido pela Fundação e que, não sendo já o pequeno Museu proposto e concebido por Abel Viana em meados dos anos 50, vive ainda muito do produto da investigação que realizou nesta região entre 1949 e 1955, na senda de amadores locais em que se destaca a figura de António Dias de Deus, subdirector da Colónia Penal de Vila Fernando, Barbacena.

Sobre a relação deste minhoto com a terra alentejana, dois apontamentos: a vontade (concretizada) de ser sepultado em Beja; e a reacção (em carta dirigida a um amigo) à insinuação por parte de um colega de Moura (Fragoso de Lima) que, em artigo de jornal, para além de incompetente o acusava de não ser da terra:

“O patife, pelo menos no jornal, não se atreveu a dizer o meu nome. Assim, fico sabendo, entre outras coisas úteis que este “arqueólogo de algibeira e pacotilha” seria desonra para Moura ter nascido ali, como aquele glorioso filho da…amiga do Padre Lima que Deus haja, e que era bem melhor que o sacrílego rebento”.







sexta-feira, 26 de setembro de 2014


TORRE DE PALMA - UM QUARTO DE SÉCULO

Presidência Aberta de Mário Soares no Distrito de Portalegre- Março de 1989


Exactamente 25 anos separam estas duas imagens. Há 25 anos, eu próprio e a minha colega Ana Carvalho Dias, director e arqueóloga do antigo Serviço Regional de Arqueologia do Sul, recebíamos Mário Soares nas Ruínas de Torre de Palma, descobertas em 1947 e escavadas até meados dos anos 60 por funcionários do Museu Etnológico sob a direcção (quase sempre à distância) de Manuel Heleno. Ainda que estas ruínas tenham merecido especial atenção da parte de Heleno no que respeita ás questões da conservação (aqui trabalharam técnicos italianos no destacamento dos Mosaicos das Musas e dos Cavalos, talvez um factor decisivo no seu salvamento) e o terreno tenha sido mais tarde adquirido à família Falcão (juntamente com o "tesouro" da Lameira que, em 1980 ainda estava esquecido num cofre do IPPC, vindo depois a integrar a exposição dos Tesouros da Arqueologia Portuguesa ver a história completa, aqui), na altura da visita presidencial, as condições do sítio eram ainda muito precárias. Não havia vedação e apesar de algumas intervenções de conservação de estruturas e mosaicos dirigidas pela Ana Carvalho Dias, trabalhávamos então ainda no projecto para a cobertura dos mosaicos que se conservam "in situ". Esta, após várias hipóteses, acabou por seguir o modelo da cobertura da Casa dos Repuxos, de Conimbriga, tendo sido instalada já no início dos anos 90. Já nos primeiros anos deste Século, sob projecto de Victor Mestre e Sofia Aleixo, viria a ser construído um pequeno Centro Interpretativo que, no entanto, por falta de meios para desenvolvimento do projecto museográfico, tem estado desaproveitado. 

Apresentação do Guia Arqueológico e abertura de exposição no Centro Interpretativo- Setembro de 2014


Vale a pena recordar um curioso episódio directamente relacionado com a visita de Mário Soares. Algumas semanas antes o guarda que então o SRAS mantinha nas Ruínas (um luxo hoje cada vez mais raro...sendo a actual guardaria assegurada exclusivamente pela autarquia) surpreendera um indivíduo em plena actividade "detectorista" nas ruínas, em busca de objectos metálicos. Não podendo fazer mais nada, conseguiu no entanto anotar a matrícula do carro em que aquele se deslocava. Apesar da participação à GNR local, não tivéramos entretanto mais notícias. Inteirado do assunto Mário Soares chamou de imediato o Comandante Distrital da GNR que acompanhava a visita e à nossa frente solicitou especial atenção para o caso. Poucos dias depois o infractor (um antiquário de Setúbal) estava identificado e indiciado criminalmente. Alguns meses mais tarde, juntamente com o guarda das ruínas, estive no tribunal da Comarca de Fronteira, servindo de testemunha de acusação no respectivo julgamente (como a justiça era célere!). Não existindo então qualquer legislação sobre o uso dos detectores de metal, a acusação teria que provar que o acusado tinha conscientemente afectado com a sua actividade um "monumento nacional" e uma vez que este alegava ter agido, sem intenção, numa área classificada que não estava vedada, a juíza achou por bem deslocar-se ao local para avaliar a alegação. Interrompida a sessão, o tribunal viria a reunir-se nesse mesmo dia, após o almoço, nas próprias ruínas e como o tempo ameaçava chuva, a sessão, após a visita ao "local do crime" acabou por realizar-se na pequena cabana que servia de abrigo ao guarda. O réu acabaria por ser condenado a uma pequena pena de prisão, suspensa por ausência de antecedentes criminais, e a uma "indemnização" pelos estragos efectuados (um buraco no pavimento das termas) a pagar ao próprio serviço e que eu próprio receberia em Évora, das mãos do advogado, algum tempo depois. Infelizmente, apesar de 40 anos ao serviço do património, não tenho presente muitos outros exemplos de condenações por atentados ao património...cultural!

Presidencia Aberta de Mário Soares, com passagem por Torre de Palma (Monforte). Fotos de Manuel Ribeiro


terça-feira, 23 de setembro de 2014

Arqueo Acústica

Com Fernando Coimbra e Paolo Debertolis, preparando o terreno no intervalo das chuvadas de hoje, para recolha de dados "sonoros" para uma abordagem algo diferenciada do significado de alguns sítios arqueológicos da freguesia de Valverde-Guadalupe e arredores (Escoural).

Almendres

Portela de Mogos

Vale Maria do Meio

Gruta do Escoural

Mamoa de Vale Rodrigo

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Ruínas de Milreu

Aproveitei uns dias de férias no Algarve (o que explica o silêncio dos últimos dias neste blogue) para revisitar as Ruínas da Villa Romana de Milreu. Testemunho por excelência da forte presença romana no Algarve, este sítio foi objecto de importante intervenção de valorização no âmbito do programa dos Itinerários Arqueológicos do Alentejo e Algarve, concretizado pelo extinto IPPAR na dobra do Século no âmbito de oportuna parceria com o Fundo do Turismo. Não sendo muito entusiasta dos resultados globais do programa face à persistência de problemas e debilidades em vários dos sítios então intervencionados, reconheço que o balanço no caso de Milreu é francamente positivo. A par da instalação do indispensável equipamento de recepção e interpretação, de dimensões equilibradas e perfeitamente integrado, as estruturas arqueológicas, incluindo um antigo edifício habitacional que se sobrepunha às mesmas, foram objecto de adequadas acções de restauro e consolidação estrutural que para além de contribuírem para a respectiva salvaguarda, valorizam a sua percepção pelo visitante. Conheço Milreu há algumas décadas e acompanhei mesmo, nos anos oitenta, os primeiros esforços no âmbito do IPPC para valorização de um sítio que já então se reconhecia como de importância estratégica no âmbito do turismo cultural do Algarve. No entanto, não tinha lá voltado depois da intervenção dos Itinerários, pelo que neste caso a surpresa foi especialmente agradável. Pena é -mas esse é um problema estrutural generalizado aos sítios e monumentos dependentes directamente da Administração Central- que os escassos meios para a sua gestão corrente no que respeita os meios disponíveis em pessoal e a manutenção, possam pôr em risco, num futuro próximo, o longo caminho percorrido entre  contentor/recepção dos anos oitenta e a bonita e acolhedora recepção do presente.


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Ruínas da Tourega

Por razões mais que compreensíveis, o património de Guadalupe e Valverde, marcará
presença assídua neste Blog. Hoje deixo apenas um cheirinho fotográfico das Ruínas Romanas da Tourega, sítio pouco conhecido dos turistas apressados, mas que pela carga histórico-arqueológica associada e pelo enquadramento paisagístico merecerá alguma atenção especial em futuras entradas.



As Ruínas da Tourega em foto de José António Barbosa (1904)




sexta-feira, 5 de setembro de 2014


Gruas sobre Évora

É bem conhecida a iluminura do Foral Manuelino de Évora representando a cidade e que, a par da elevada qualidade artística, nos traz uma imagem muito interessante da urbe no início Século XVI, vista a partir de poente, ou seja, de quem chegava pela estrada de Lisboa. O que será menos do domínio comum são alguns detalhes pitorescos, como o do pormenor da enorme grua que paira sobre São Francisco e que servia à época de apoio à finalização das obras da grande igreja conventual.
Detalhe da iluminura do Foral Manuelino de Évora (1501). Em primeiro plano, entre a Sé e o Palácio Real, ambos assinalados com as bandeiras, a grande igreja de São Francisco, ainda em obras.
Quinhentos anos depois, a grua paira de novo sobre a Igreja de São Francisco, numa intervenção de reforço estrutural e requalificação geral. Um bom exemplo de aproveitamento de fundos comunitários e de cooperação institucional entre os usufrutuários (Paróquia de São Pedro) e os detentores do património cultural público (Estado).




quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O Dolmen da Barrosa, 
estudado ainda no Século XIX, por Martins Sarmento, classificado como Monumento Nacional em 1910, foi posteriormente objecto do interesse e curiosidade de diversos arqueólogos, a começar pelo omnipresente LEITE DE VASCONCELOS. Pessoalmente e apesar de habitar e trabalhar numa região bem mais rica do ponto de vista do Megalitismo, faz-me inveja o verdejante enquadramento do monumento da Barrosa em pleno Agosto (a foto é deste ano), que faz dele um dos mais belos exemplares Ibéricos, como realça o Site municipal de Vila Praia de âncora. Bem perto a Rua Leite de Vasconcelos, prova que estamos em terra de Arqueologia...a terra do célebre "Ancorense"!



quarta-feira, 3 de setembro de 2014


Gerir o património cultural do Alentejo em tempos de crise
2011-2014

Uma das últimas reuniões de campo, 28 de Agosto 2014, como Director de Serviços de Bens Culturais. No extraordinário complexo de fornos de cal romanos descobertos na zona de construção da Barragem da Magra, perto de Beja, discutindo com a equipa da EDIA e a actual directora da minimização, Catarina Mendes, a estratégia para o encerramento dos trabalhos.

Estrutura e organização do serviço de “bens culturais” da Direcção Regional de Cultura do Alentejo

Para fazermos um balanço dos últimos quatro anos de salvaguarda do património cultural no âmbito da actividade da Direcção Regional de Cultura do Alenjejo, haverá que recordar que esta estrutura administrativa dependente da SEC, no seu actual figurino, remonta a meados de 2007 e foi o resultado da integração de 3 anteriores serviços desconcentrados, no quadro do PRACE: Direcção Regional de Évora do IPPAR, Serviço de Monumentos do Sul e Delegação Regional da SEC. O processo foi complexo e levado a cabo de forma desastrada por uma equipa até então completamente estranha a qualquer daqueles serviços, com consequências negativas em particular no que respeita à gestão do pessoal, ao modelo organizativo e à política de prioridades. Apenas, a partir de 2010, já sob nova direcção, a situação começaria a estabilizar ainda que algumas sequelas estejam longe de dissipar-se. Mais recentemente, em 2012, com a extinção do IMC e do IGESPAR, novas alterações estruturais tiveram de ser assimiladas, passando o Museu de Évora e as duas “extensões arqueológicas” do antigo IPA (Crato e Castro Verde) a integrar a DRCALEN. Ainda que o Museu tenha mantido a sua autonomia relativa enquanto unidade orgânica com chefia própria, os 3 arqueólogos das “extensões” ficaram associados à Direcção de Serviços de Bens Culturais que passou a ter atribuições reforçadas em matéria de património arqueológico. No caso da Arqueologia, julgamos ter havido vantagens, tendo o processo sido facilitado pelo bom relacionamento que se tinha já vindo a estabelecer nos últimos anos. À extensão do Crato, com um único técnico, para além das atribuições arqueológicas no Distrito de Portalegre, foram cometidas responsabilidades complementares, passando a funcionar como antena de apoio para a gestão de alguns dos monumentos e “depósitos” arqueológicos localizados na região. No caso de Castro Verde, estrutura com dois arqueólogos, optou-se por um reforço da equipa através da agregação de duas técnicas da DSBC (arqueologia e conservação e restauro) que exerciam já funções no Baixo-Alentejo. De momento, com a situação institucional aparentemente estabilizada ainda que com carências técnicas específicas por não renovação dos quadros perdidos pela mobilidade ou aposentação, a equipa da DSBC, com cerca de quatro dezenas de trabalhadores (17 técnicos superiores, t.s.; 15 assistentes técnicos, a.t. e 11 assistentes operacionais a.o.)  conta com as seguintes subunidades funcionais:


                - Évora (Sede)_                12 t.s. e 12 a.t.

- Direcção e secretariado de apoio;
- estrutura técnica_       Salvaguarda: pareceres, intervenções e planos;
                                               Arqueologia;
                                               Classificações;
                                               Projectos e Obras
Conservação e restauro;
                                               Biblioteca, Arquivo e Documentação;
                                               Gestão de sítios e monumentos*;

- Núcleo/Extensão do Crato_ (1 t.s. e 1 a.o.) arqueologia; salvaguarda e gestão de sítios e depósitos arqueológicos;

- Núcleo/Extensão de Castro Verde_(4 t.s. e 1 a.o.) arqueologia; salvaguarda; conservação e restauro; gestão de sítios e depósitos arqueológicos;


* Esta mesma equipa técnica da DSBC, reforçada nos sítios ou monumentos com mais 3 assistentes técnicos e 9 assistentes operacionais, é responsável pela gestão de 40 imóveis classificados afectos à DRCALEN distribuídos por todo o Alentejo (castelos e muralhas, sítios arqueológicos, igrejas, etc…) assegurando a respectiva visita pública em dezena e meia de situações, nalguns casos, em parceria com as autarquias:

                - Torre do Salvador e Casa da Rua de Burgos (Évora)
- Castelos de Belver, Amieira, Campo Maior, Elvas, Évoramonte, Viana do Alentejo e Mosteiro da Flor da Rosa (Crato);
-Ruínas romanas de Miróbriga (Santiago do Cacém), S.Cucufate (Vidigueira) e Torre de Palma (Monforte);
-Gruta do Escoural (Montemor-o-Novo), Castro da Cola (Ourique) e Mesas do Castelinho, Almodôvar;

Nota: de entre os monumentos afectos à DRCALEN estão ainda acessíveis ao público outra dezena de monumentos, mas a visita está protocolada com outras entidades (Câmaras Municipais, Igreja Católica, Fundações).

O esforço de organização nos últimos anos estendeu-se também às estruturas físicas de trabalho. O edifício sede da DRCALEN, Casa da Rua de Burgos, requalificado no final dos anos 80, para além de subaproveitado, encontrava-se bastante degradado. Foi possível aí promover importantes obras de conservação (com verbas do QREN) e recuperar para intenso uso cultural (exposições, conferencias e concertos) a galeria manuelina do r/c, reabrindo também ao público, o pátio interior e a galeria arqueológica da “Cerca Velha”. Procedeu-se à reinstalação da biblioteca (abrindo-a à leitura exterior) e iniciou-se um importante processo -infelizmente ainda atrasado- de reorganização dos arquivos das áreas de “obras” e “salvaguarda”, que conservam documentação fundamental sobre as intervenções no património do Alentejo nas últimas quatro décadas. O estabelecimento de um oportuno protocolo de colaboração entre a DRCAELN e o Cabido da Sé de Évora (2012), a propósito da Torre e Igreja do Salvador (Praça do Sertório) permitiu concretizar vários objectivos organizativos: dar utilidade cultural às instalações devolutas da extinta DGEMN, como arquivo paroquial central do Arcebispado de Évora; reinstalar em zona muito acessível a atinga “loja do IPPAR”, libertando a espaço da Rua de Burgos, para uma necessária sala de reuniões; criar condições para a visita pública à Igreja do Salvador, actualmente um dos monumentos mais visitados de Évora, graças ao intenso programa cultural que a DRCALEN aí tem promovido desde então.

Ainda no domínio das instalações próprias sedeadas em Évora (as extensões do Crato e Castro Verde estão instaladas em edifícios municipais) é importante referir a situação dos restantes imóveis que dependem da DRCALEN. Para além do Museu, objecto de profunda remodelação ainda no quadro do extinto IMC mas que não depende directamente da DSBC, destacam-se o Convento de São Bento de Cástris e a Igreja das Mercês. Embora o futuro destes imóveis esteja ainda algo indefinido, estamos perante monumentos de especial importância que mais tarde ou mais cedo encontrarão o seu lugar na estrutura organizativa e no contexto da oferta cultural da DRCALEN. As intervenções no Convento de São Bento de Cástris, permitiram para já interromper o ciclo de abandono e degradação iniciado com a desactivação da “Casa Pia”. Todas as coberturas (mais de 2000m2) foram reconstruídas, a antiga horta conventual recuperada, parte dos muros e vedações reparados, criando as condições que permitiram a realização de actividades e eventos da diversa índole trazendo nova vida e abrindo novas perspectivas de uso cultural a este extraordinário conjunto monumental. Por sua vez, a intervenção na Igreja das Mercês, um antigo anexo expositivo do Museu de Évora dedicado ás Artes Decorativas, entretanto transformado em “armazém” do Museu, resultou de circunstâncias fortuitas ainda não resolvidas. Obras privadas em espaço vizinho provocaram-lhe danos estruturais graves, obrigando a uma operação de emergência de mudança do espólio museológico nela acumulado e à realização de novos levantamentos e diagnósticos. Ainda que esteja em processo de negociação com os responsáveis pelos danos (com o apoio do LNEC) a necessária e urgente recuperação, a libertação “forçada” do espaço da Igreja, perspectiva a médio prazo, a reconquista para uso cultural polivalente na cidade de Évora, de um novo espaço monumental, a exemplo do que aconteceu com a Igreja do Salvador.

Intervenções no património

Monumentos afectos à DRCALEN

É atribuição prioritária da DRCALEN a conservação e valorização dos 40 monumentos e sítios que estão formalmente à sua responsabilidade (“afectos”), criando condições para o seu usufruto público. Para esse efeito, a DRCALEN contou antes de mais com verbas próprias do PIDDAC - quase residuais nos últimos anos- e com fundos estruturais (QREN), cuja amplitude foi fortemente condicionada pela redução das verbas próprias necessárias para garantir a contrapartida nacional nas candidaturas. Ainda assim, entre 2010 e 2014, foi possível realizar intervenções numa dezena de monumentos afectos, num valor global de dois milhões e duzentos mil Euros. Parece uma verba elevada, mas a título meramente comparativo, refira-se que a intervenção actualmente em curso na Igreja de São Francisco, em Évora, está orçada em quase quatro milhões de Euros. (Trata-se neste caso de obra promovida pela respectiva Paróquia num Monumento Nacional, património do Estado mas não afecto à DRCALEN, concretizada com o apoio técnico desta Direcção e comparticipação financeira do QREN-INALENTEJO).

                - Distrito de Portalegre:

No distrito de Portalegre concentra-se um importante conjunto de monumentos dependentes da DRCALEN, com destaque para o valioso património histórico-militar da região. Na sequência de projectos herdados do IPPAR, foram concluídas importantes intervenções de requalificação nos Castelos da Amieira e de Belver. Na torre de menagem da Amieira, após o restauro, foi instalada uma pequena exposição integralmente produzida com meios próprios do serviço. Já no caso do Castelo de Belver, também na torre de menagem, irá ser inaugurado em breve o Núcleo Interpretativo interactivo, concebido na DRCALEN e produzido com recurso a financiamento do QREN. Também com financiamentos europeus, foi levada a cabo em 2013 uma acção de consolidação em diversos sectores das muralhas medievais de Castelo de Vide. Uma intervenção de requalificação da respectiva torre de menagem, projectada pela DRCALEN, acabou por ser adiada por falta de financiamento. Nos Castelos de Campo Maior e de Elvas, intervencionados há alguns anos pelo IPPAR, foi apenas possível levar a cabo, com meios próprios e a colaboração das respectivas autarquias, pequenas acções de conservação e manutenção. Registe-se que após muitos anos de encerramento foi (re)concessionada a cafetaria do Castelo de Elvas, melhorando as condições de visita a um dos monumentos mais procurados na nossa região e que tem beneficiado significativamente da recente classificação de Elvas como Património da Humanidade. Relativamente ao Mosteiro de Santa Maria de Flor da Rosa, com diversos problemas em função da última empreitada de obras de conservação e readaptação de espaços a novos usos, foi possível negociar com a empresa construtora o não acionamento das garantias bancárias da empreitada e proceder às necessárias reparações. No monumento que, desde 2008, vem acolhendo significativa actividade expositiva graças à acção da DRCALEN e ao protocolo estabelecido com a autarquia do Crato, também se pode visitar uma importante colecção de escultura religiosa depositada pelo Museu Nacional de Arte Antiga, mediante protocolo de colaboração e contrato de depósito de longa duração. A Sé de Elvas, monumento afecto ao culto nos termos da Concordata, depende também deste serviço. Objecto de importantes obras de requalificação no âmbito do POC-Programa Operacional da Cultura (ex Direcção Regional de Évora do IPPAR), a DRCALEN tem vindo a colaborar com a Paróquia e a Diocese, na reorganização do respectivo Museu de Arte Sacra, tendo recentemente dado apoio técnico e administrativo à formalização de uma candidatura ainda no âmbito do INALENTEJO, que garantirá o financiamento da recuperação dos órgãos históricos setecentistas da autoria de Pascuale Oldovino.


                -Distrito de Évora:

Como já referimos, concentraram-se em Évora nos últimos anos, alguns dos investimentos patrimoniais mais significativos da DRCALEN. Já nos referimos às obras na Casa de Burgos, na Torre do Salvador ou em São Bento de Cástris, só possíveis  graças ao QREN (AcrópoleXXI e INALENTEJO). Para além destes casos, foram ainda concretizados no distrito de Évora dois outros projectos com financiamento QREN, no Castelo de Viana do Alentejo e na Gruta do Escoural. Ambos foram promovidos ainda sob a anterior gestão da DRCALEN, com projectos do exIPPAR, mas concretizados entre 2010-2014. No caso do Escoural procedeu-se á requalificação dos espaços exteriores e renovação integral dos sistemas de circulação interna e à edição de documentação (gráfica e multimédia) de apoio á visita. Já no caso de Viana procedeu-se à requalificação de espaços expositivos incluindo a iluminação cénica da Matriz, à instalação de uma recepção (hoje usada em parceria como posto de turismo pela autarquia) e mais recentemente a diversas intervenções de consolidação do edificado para além da conservação de dois importantes conjuntos de pintura mural.
No entanto neste distrito, a estratégica Torre de Menagem de Évoramonte e a respectiva cerca, carecem de importantes obras de requalificação, há muito identificadas e projectadas, mas sempre adiadas por falta de meios. Apesar desta situação, graças a diversas parcerias, tem sido possível manter na Torre/Paço uma programação interessante ao nível da apresentação de exposições. Os Castelos de Montemor-o-Novo, Arraiolos e Terena apresentam, como o Castelo de Evoramonte, diversos problemas de conservação cuja solução é sistematicamente adiada por falta de meios financeiros e humanos desta Direcção Regional de Cultura A recente intervenção no Castelo do Alandroal, ainda que com apoio técnico da DRCALEN, só foi concretizável por iniciativa da autarquia.

                 - Distrido de Beja:

No Distrito de Beja que conta também com alguns imóveis afectos à DRCALEN (alguns dos quais sob gestão protocolada por parte das autarquias, como o Castelo de Mértola ou o Lagar de Varas de Moura) estava há algum tempo prevista uma intervenção de conservação e restauro de largo fôlego, com financiamento europeu, nas estruturas arqueológicas da Vila Romana de São Cucufate (Vidigueira). Apenas em 2014, mas aquém das necessidades reais, foi finalmente lançada a respectiva empreitada, ainda a decorrer. Ainda assim, espera-se que a mesma represente o início de uma nova fase de reabilitação patrimonial deste importante conjunto arqueológico. Com excepção deste caso, apenas poderemos assinalar pequenas acções de conservação e manutenção no centro interpretativo da Cola (Ourique), na recepção das ruínas de S.Cucufate e no respectivo núcleo museológico da Casa do Arco (Vila de Frades). No conjunto à responsabilidade da DRCALEN, ressalta pela negativa a situação da Ermida de Santa Clara, na Vidigueira, imóvel a necessitar de requalificação profunda.

                - Distrito de Setúbal:

No pequeno conjunto de imóveis do Alentejo litoral afectos à DRCALEN, destacam-se claramente o castelo de Alcácer do Sal e as ruínas da antiga cidade romana de Miróbriga, em Santiago do Cacém. No primeiro caso, para além do monumental recinto amuralhado, sempre a necessitar de conservação (acaba de ser adjudicada pela DRCALEN uma intervenção de consolidação da Torre do Relógio, financiada pelo QREN mas que poderia abranger outras áreas caso houvesse cobertura orçamental), destaca-se a chamada “Cripta Arqueológica”, que musealiza um conjunto de ruínas descobertas durante as obras de construção da Pousada. Projecto do exIPPAR, é hoje gerido pela autarquia, com o apoio técnico da DRCALEN que acompanha também a situação das respectivas reservas arqueológicas. Em Miróbriga, o conjunto arqueológico mais visitado à guarda da DRCALEN, estava também prevista, em articulação com a empreitada de São Cucufate, uma necessária e urgente intervenção global de conservação e restauro das suas importantes estruturas romanas. Unicamente por razões orçamentais, tal ainda não foi possível. Ainda assim, nos últimos anos, foram ali realizadas pequenas acções de manutenção, nomeadamente nas estruturas de apoio aos visitantes (recepção, centro interpretativo, capela de São Damaso, etc…).
   
Quadro síntese dos Investimentos, com apoio do QREN, em monumentos e sítios afectos à DRCALEN, entre 2010 e 2014,
  • Castelo de Amieira do Tejo - Recuperação das Estruturas construídas/requalificação da Torre de Menagem e instalação de recepção
361.792,13
  • Gruta do Escoural: requalificação do circuito de Visita/ iluminação e arranjos exteriores;
325.957,45
  • Castelo de Viana do Alentejo- Requalificação e consolidação, acolhimento e musealização/ iluminação cénica da Igreja Matriz;
492.301,51
  • Castelo de Belver- Obras de Adaptação e Requalificação das condições de acolhimento Público; concepção e execução da musealização da Torre de Menagem;
229.745,23
  • Casa Nobre da Rua de Burgos: requalificação, incluindo melhoria das condições de usufruto público;
105.930,62
  • Torre do Salvador: reabilitação do edifício e instalação da loja;
64.614,13
  • Convento de S.Bento de Cástris: recuperação das coberturas; recuperação da Horta Conventual
288.082,68
  • Muralhas de Castelo de Vide- intervenções localizadas de reforço estrutural
64.084,18
  • Castelo de Alcácer do Sal- reforço estrutural da Torre do Relógio
94.067,30
  • Sítio Arqueológico de S. Cucufate- empreitada de conservação e restauro das ruínas romanas.
180.660,44
                                                                         Valor total do Investimento: …………………….. 2 207 235,67€

Intervenções em monumentos não afectos

No que respeita às responsabilidades de gestão e conservação, a prioridade dada aos monumento e sítios afectos à DRCALEN, é inquestionável Mas, naturalmente, nada que tenha a ver com património cultural do Alentejo pode ser estranho à Direcção Regional. Desde logo, dadas as suas competências vinculativas ditas de “salvaguarda”, no que respeita ao planeamento territorial e ao licenciamento municipal em relação às áreas de servidão administrativa (zonas de protecção) dos monumentos, sítios ou conjuntos classificados ou às áreas de potencial arqueológico. Por outro lado pelas suas atribuições, neste caso em articulação com a DGPC, no que respeita às intervenções nos próprios imóveis classificados. Neste campo, ganham especial relevância pelo número de processos instruídos anualmente, os grandes conjuntos urbanos classificados, como Évora ou Elvas. Porém, não se esgota na emissão de “pareceres” a intervenção da DSBC. Em muitas situações essa intervenção estende-se ao apoio técnico à execução dos relatórios prévios ou dos projectos e nalguns casos, dependendo no entanto da disponibilidade do reduzido pessoal técnico, pode passar até pela execução dos próprios estudos e projectos. Apesar da escassez de meios, no período em causa, a DRCALEN conseguiu apoiar várias entidades com a execução de relatórios, estudos e projectos, alguns já executados e outros com obras em curso ou a aguardar financiamento, nomeadamente:

- Recuperação da Sé de Portalegre- coberturas;
- Cobertura e protecção das ruínas romanas de Alter do Chão (mosaico da Casa da Medusa);
-Torre de Menagem do Castelo de Beja- consolidação;
- Paço dos Henriques, Alcáçovas- recuperação geral e reutilização;
- Convento da Saudação (Montemor-o-Novo)- recuperação geral e reutilização;
- Igreja da Boa Nova, Terena- cobertura e recuperação geral;
- Torre do Relógio e Casa da Inquisição em Monsaraz- recuperação geral;
- Igreja Matriz de Monsaraz- coberturas;
- Igreja de Santo Antão (Évora)- coberturas;
- Castelo de Noudar- recomendações técnicas;
- Capela de Santa Ágata, Alvito- coberturas e reforço estrutural;
- Igreja Matriz do Alvito- levantamento arquitectónico;
-Igreja da Graça e da Sra da Pobreza (Évora)- relatórios prévios em colaboração com o             Ministério da Defesa;
- Igreja Matriz das Alcáçovas- relatório prévio;
- Igreja do Lavre- relatório prévio;
-Igreja de Nª Sª das Dores (Elvas)- levantamento e relatório prévio;
- Portas monumentais das Fortificações de Estremoz- relatório prévio;

Em muitas situações, porém, o apoio técnico da DRCALEN, não se traduzindo directamente em relatórios ou projectos formalizados, consubstancia-se em muitas dezenas de horas de reuniões técnicas de análise e acompanhamento ao longo das várias fases de desenvolvimento dos projectos elaborados por terceiros. A visibilidade dessa actividade é reduzida mas considerando a participação da DRCALEN na preparação dos projectos recentemente aprovados para financiamento pela CCDRA no âmbito do QREN, pode ter-se uma idéia da mais valia que representa esse apoio técnico para os múltiplos agentes detentores de património cultural no Alentejo.


Intervenções em Património Cultural Material do Alentejo (contratos de financiamento assinados com a CCDRA-Julho 2014)

Monumento
Entidade promotora
Concelho
Objectivos e participação da DRCALEN
Compart. FEDER
Total Invest.
Igreja e Convento de S.Francisco
Igreja Paroquial da Freguesia de S. Pedro
Évora
Consolidação estrutural Igreja e valorização museológica (Convento e “Capela dos Ossos”) Apoio da DRCALEN no acompanhamento projecto, restauro e arqueologia.
2.442.793,72

3.489.705,32

Forte da Graça
C.M. de Elvas
Elvas
Recuperação e adaptação do Forte da Graça, uma extraordinária fortificação militar, para fins e actividades culturais. Apoio da DRCALEN na fase de elaboração de projecto.
4.786.355,37

5.631.006,32

Estação Arqueológica Alter do Chão
C.M.Alter do Chão

Alter do Chão
Cobertura dos mosaicos, onde se destaca o excepcional Mosaico da Casa da Medusa e valorização museológica.  Projecto de arquitectura da responsabilidade da DRCALEN.
354.345,00

416.876,47

Torre do Relógio Castelo Alcácer do Sal
DRCALEN
Alcácer do Sal
Recuperação da Torre do Relógio, que para além da valia patrimonial, é um exlibris de Alcácer. Projecto elaborado na DRCALEN que promove a candidatura e é responsável pelo Castelo de Alcácer
79.957,21


94.067,30

Sé de Elvas *


afecto à DRCALEN
Igreja Paroquial de Nº Sº Assunção
Elvas
Restauro dos 2 órgãos da antiga Sé ( tubos e armário); trata-se de monumento afecto à DRCALEN que promoveu em anos anteriores a importantes trabalhos de conservaçãoo e restauro; estudo e caderno de encargos da DRCALEN
105.042,00

150.060,00

Torre de Menagem de Beja
C.M. Beja (projecto DRCALEN)
Beja
Recuperação e iluminação da Torre de Menagem. Projecto elaborado pela DRCALEN
102.191,42

120.225,20

Muralhas de Serpa
C.M. Serpa
Serpa
Recuperação de troços das muralhas de Serpa, classificadas como Monumento Nacional.
152.821,83

179.790,39

Igreja Matriz Alcáçovas
Igreja Paroquial de Alcáçovas
Viana do Alentejo
Recuperação geral de coberturas. Apoio da DRCALEN à execução do Relatório Prévio e projecto.
128.804,74

184.006,77





8.152.311,29
10.265.737,77

Património Arqueológico

A Arqueologia faz parte do código genético dos serviços patrimoniais de Évora. De facto, data de 1980 a instalação na cidade de Évora do antigo Serviço Regional de Arqueologia do Sul, dependente do então IPPC, serviço que uma década depois esteve na origem da Direcção Regional de Évora do IPPAR. Até à criação do Instituto Português de Arqueologia em 1997, concentrava-se na DRE do IPPAR, a gestão da actividade arqueológica e a salvaguarda e valorização dos sítios arqueológicos do Alentejo, ficando como imagem de marca da época a criação de vários Centros de Interpretação no âmbito do programa “Itinerários Arqueológicos do Alentejo e Algarve”, fortemente subsidiados pelo Fundo de Turismo. A criação do IPA, retirando parte das competências e atribuições ao IPPAR e as dificuldades administrativas (sobretudo de falta de meios e pessoal) para manter os Centros Interpretativos operacionais, acabaram por subalternizar esta área disciplinar. A situação ainda se tornaria mais confusa com a reestruturação do PRACE e a criação do IGESPAR em 2007. De facto as novas Direcções Regionais de Cultura com competências reforçadas em várias áreas, acabariam por ver as suas atribuições arqueológicas limitadas aos sítios afectos e aos classificados. A situação apenas se clarificaria em 2012, com a extinção do IGESPAR, a criação da Direcção Geral do Património Cultural, e a transferência das equipas das chamadas “extensões” do antigo IPA para as Direcções Regionais de Cultura. Ainda que por razões de coordenação, as competências no que respeita à gestão da arqueologia nacional ainda estejam centralizadas na DGPC (através da manutenção do sistema de Informação Arqueológica Nacional- Endovélico- e da alimentação do arquivo nacional de Arqueologia) com a transferência das “equipas regionais” para as DRC, estas passaram a fazer parte integrante do processo de decisão e a controlar toda a informação arqueológica relevante nas suas áreas territoriais.

Muito haverá ainda por fazer neste domínio, mas os últimos tempos, graças ao reforço técnico e humano acrescentado em 2012, a Arqueologia retomou na DRCALEN algum do vigor que a caracterizaram nos tempos dos Serviços Regionais de Arqueologia ou da Direcção Regional de Évora do IPPAR. No caso do Alqueva, o projecto arqueológico de maior impacto nas duas últimas décadas no Alentejo, para além da parceria estabelecida com a EDIA em 2010 para publicação das respectivas monografias (projecto finalmente concluído com a publicação do 14º volume, o último desta 2ª série), passou-se a acompanhar directamente no terreno, através da equipa de Castro Verde, as centenas de acções preventivas em curso. Do mesmo modo, transitou para a DRCALEN a responsabilidade das “reservas arqueológicas” até então sob gestão do IGESPAR. Este tema, como é sabido, é dos mais complexos em Arqueologia, a exigir uma abordagem estruturada à escala regional. Para já, tem sido preocupação da DRCALEN o levantamento da situação existente e a tomada de medidas urgentes em casos específicos, como por exemplo: encontrar alternativas aos esgotados “depósitos do IPA de Entradas e do Crato”; reorganizar reservas “históricas”, como Flor da Rosa, Campo maior, Miróbriga, Alcácer do Sal, ou, tirando partido de espaços disponíveis em São Bento de Cástris, criar um grande de depósito temporário de materiais arqueológicos. Neste campo merece realce, o projecto promovido pela DRCALEN em parceria com a Câmara Municipal de Ourique, que permitiu criar naquela vila um centro especializado de tratamento e restauro de materiais arqueológicos e que tem como grande objectivo o estudo e divulgação, em colaboração com o labioratório Hercules da Universidade de Évora, do excepcional conjunto de cerâmica do “Depósito votivo de Garvão”, escavado por Caetano Melo Beirão (o primeiro director do antigo Serviço Regional de Arqueologia do Sul) e recentemente “resgatado” dos armazéns do Museu de Conimbriga, onde jazia esquecido há mais de duas décadas.

No que respeita à gestão e conservação dos sítios arqueológicos afectos, ainda que se mantenham os crónicos problemas da falta de pessoal de apoio, o reforço da equipa técnica de arqueologia trouxe também vantagens. Para além dos casos já referidos de S.Cucufate e Gruta do Escoural -os únicos sítios arqueológicos onde foi possível concretizar investimentos com alguma relevância nos últimos cinco anos- foram entretanto levadas a cabo pequenas acções de conservação em Miróbriga (Centro Interpretativo e ruínas), no povoado de fossos de Santa Vitória (Campo Maior) com a renovação da sinalética e da vedação; no povoado do Monte da Tumba (conservação da vedação), na Cripta Arqueológica do castelo de Alcácer do Sal (limpeza e conservação das ruínas) nos monumentos do Circuito Arqueológico da Cola (limpeza e renovação da sinalética), ou até no Templo Romano de Évora, com a realização de um novo levantamento com tecnologia laser/3D. Recentemente, as Ruínas de Torre de Palma (Monforte), saíram de alguma inércia que se seguira à construção pelo IPPAR de um pequeno centro de acolhimento, estando em vias de abertura ao público uma pequena exposição de introdução à visita. Por sua vez, o povoado das Mesas do Castelinho, Almodôvar, um sítio adquirido pelo Estado ainda nos anos oitenta e actualmente afecto à DRCALEN, após duas décadas de escavações conduzidas por arqueólogos da Universidade de Lisboa, conheceu finalmente o arranque das intervenções de conservação e restauro, tecnicamente coordenadas pela DRCALEN mas integralmente pagas pela Câmara Municipal de Almodôvar, a que se seguirá a próxima instalação de um centro de acolhimento e interpretação na vizinha aldeia de Santa Clara-a-Nova. Dadas as usas atribuições legais, a acção da DRCALEN orienta-se prioritariamente para os sítios que lhe são afectos. No entanto, normalmente em colaboração com as autarquias, procura também dar resposta às solicitações de apoio técnico, quer no domínio da arqueologia preventiva quer no da conservação e valorização. Vale a pena referir, enquanto exemplo positivo, a intervenção promovida em 2012 no conhecido Cromeleque dos Almendres (Évora), em colaboração com a autarquia e os proprietários, que permitiu a criação de um parque de estacionamento e a recuperação do solo na área do monumento megalítico, melhorando significativamente as condições de visita ao monumento arqueológico mais procurado do Alentejo. Infelizmente, no que respeita a outros monumentos megalíticos da região, com destaque negativo temos a Anta Grande do Zambujeiro. Aqui mantêm-se as mesmas condicionantes que impedem, neste caso, a recuperação e valorização de um monumento único no contexto do megalitismo Ibérico.

Classificações de monumentos, sítios e conjuntos

Com todas as suas limitações, a figura jurídica da “CLASSIFICAÇÃO” continua a ser um instrumento fundamental para a salvaguarda do património cultural imóvel. Daí que a cada vez mais complexa tramitação dos respectivos processos administrativos, acabe por ter um peso burocrático significativo na actividade dos serviços das Direcções Regionais, em articulação com a DGPC. Nos últimos anos, a acrescer às dificuldades normais de processos que tendiam a eternizar-se, pela obrigatoriedade de ter em conta os múltiplos interesses particulares afectados, verificou-se por força legal, a obrigatoriedade de concluir rapidamente o maior número de processos possível, sob pena da caducidade dos mesmos. Nesse sentido foi feito um esforço considerável pela pequena equipa técnica que na DRCALEN (entre muitas outras funções) se ocupa destes processos, o qual se traduziu num número relevante de novas publicações em Diário da República.

Imóveis classificados no Alentejo entre 2011 e 2014
Monumentos Nacionais
2011
2012
2013
2014
Évora
1
3
1
0
Portalegre
0
1
3
0
Beja
0
0
1
0
Setúbal
0
1
0
0
Imóveis de Interesse Público




Évora
5
16
14
13
Portalegre
1
15
7
5
Beja
5
9
12
4
Setúbal
1
5
5
2
Total imóveis classificados por ano
13
50
43
24
Total

130

Considerações finais

O presente enunciado, produzido quase de memória e sem recurso à colaboração dos principais actores, corre o risco de pecar por defeito ou de conter omissões imperdoáveis. Está-lhe subjacente, face às circunstâncias extremamente difíceis que todos os serviços públicos enfrentaram nos últimos tempos, um indisfarçável sentimento colectivo de prestação de contas. Com efeito, enquanto serviço público, existimos para cumprir uma missão especialmente honrosa que passa pela preservação e transmissão às gerações futuras da herança cultural de todos os que nos precederam neste território. Não nos cabe a nós julgar da eficácia dos resultados alcançados mas falando mais uma vez em nome de toda a equipa que tive o privilégio de coordenar, julgo que nos podemos apresentar de cabeça erguida perante os nossos concidadãos.

Évora, 29 de Agosto de 2014
António Carlos Silva

(NOTA: documento distribuído aos colegas da Direcção Regional de Cultura do Alentejo, no último dia de funções como Director de Serviços dos Bens Culturais)