sábado, 27 de setembro de 2014

Ser ou não ser Alentejano

Participei hoje activamente em Vila Viçosa, com muito gosto, numa sessão de homenagem ao arqueólogo ABEL VIANA, talvez o mais alentejano dos arqueólogos do Século XX, que afinal até era minhoto e que muito prezava em não ser regionalista. De facto e apesar de ter vivido apenas os seus últimos 25 anos no Alentejo, Abel Viana deixou à Arqueologia do Alentejo um legado imenso, concretizado em centenas de artigos, em milhares de peças recuperadas e em muitos sítios arqueológicos intervencionados, em que hoje se destaca o monumental Castro da Cola em Ourique. A sua preocupação com o enriquecimento, estudo e disponibilização ao público dos acervos museológicos merece também especial referencia. Não nos referimos apenas ao Museu de Beja, sua base de trabalho durante muitos anos, mas também ao Museu de Arqueologia do Castelo de Vila Viçosa (a cuja fundação está ligado), ou aos Museus de Elvas, Nacional de Arqueologia, Serviços Geológicos, Lagos, etc... para onde, sem hesitações, encaminhou muitos dos espólios que ia recuperando. A sessão foi promovida pela Fundação da Casa de Bragança e pelo Museu Nacional de Arqueologia, nela tendo sido oradores João Luis Cardoso (Abel Viana na Arqueologia Portuguesa), Luis Raposo (A prática da Arqueologia em Abel Viana), Mónica Rolo (Abel Viana e Vila Viçosa) e eu próprio (Abel Viana e a arqueologia do Alentejo). A sessão incluíu ainda uma visita à exposição "Abel Viana, Paixão pela Arqueologia" e ao Museu de Arqueologia do Castelo de Vila Viçosa, gerido pela Fundação e que, não sendo já o pequeno Museu proposto e concebido por Abel Viana em meados dos anos 50, vive ainda muito do produto da investigação que realizou nesta região entre 1949 e 1955, na senda de amadores locais em que se destaca a figura de António Dias de Deus, subdirector da Colónia Penal de Vila Fernando, Barbacena.

Sobre a relação deste minhoto com a terra alentejana, dois apontamentos: a vontade (concretizada) de ser sepultado em Beja; e a reacção (em carta dirigida a um amigo) à insinuação por parte de um colega de Moura (Fragoso de Lima) que, em artigo de jornal, para além de incompetente o acusava de não ser da terra:

“O patife, pelo menos no jornal, não se atreveu a dizer o meu nome. Assim, fico sabendo, entre outras coisas úteis que este “arqueólogo de algibeira e pacotilha” seria desonra para Moura ter nascido ali, como aquele glorioso filho da…amiga do Padre Lima que Deus haja, e que era bem melhor que o sacrílego rebento”.







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