sexta-feira, 26 de setembro de 2014


TORRE DE PALMA - UM QUARTO DE SÉCULO

Presidência Aberta de Mário Soares no Distrito de Portalegre- Março de 1989


Exactamente 25 anos separam estas duas imagens. Há 25 anos, eu próprio e a minha colega Ana Carvalho Dias, director e arqueóloga do antigo Serviço Regional de Arqueologia do Sul, recebíamos Mário Soares nas Ruínas de Torre de Palma, descobertas em 1947 e escavadas até meados dos anos 60 por funcionários do Museu Etnológico sob a direcção (quase sempre à distância) de Manuel Heleno. Ainda que estas ruínas tenham merecido especial atenção da parte de Heleno no que respeita ás questões da conservação (aqui trabalharam técnicos italianos no destacamento dos Mosaicos das Musas e dos Cavalos, talvez um factor decisivo no seu salvamento) e o terreno tenha sido mais tarde adquirido à família Falcão (juntamente com o "tesouro" da Lameira que, em 1980 ainda estava esquecido num cofre do IPPC, vindo depois a integrar a exposição dos Tesouros da Arqueologia Portuguesa ver a história completa, aqui), na altura da visita presidencial, as condições do sítio eram ainda muito precárias. Não havia vedação e apesar de algumas intervenções de conservação de estruturas e mosaicos dirigidas pela Ana Carvalho Dias, trabalhávamos então ainda no projecto para a cobertura dos mosaicos que se conservam "in situ". Esta, após várias hipóteses, acabou por seguir o modelo da cobertura da Casa dos Repuxos, de Conimbriga, tendo sido instalada já no início dos anos 90. Já nos primeiros anos deste Século, sob projecto de Victor Mestre e Sofia Aleixo, viria a ser construído um pequeno Centro Interpretativo que, no entanto, por falta de meios para desenvolvimento do projecto museográfico, tem estado desaproveitado. 

Apresentação do Guia Arqueológico e abertura de exposição no Centro Interpretativo- Setembro de 2014


Vale a pena recordar um curioso episódio directamente relacionado com a visita de Mário Soares. Algumas semanas antes o guarda que então o SRAS mantinha nas Ruínas (um luxo hoje cada vez mais raro...sendo a actual guardaria assegurada exclusivamente pela autarquia) surpreendera um indivíduo em plena actividade "detectorista" nas ruínas, em busca de objectos metálicos. Não podendo fazer mais nada, conseguiu no entanto anotar a matrícula do carro em que aquele se deslocava. Apesar da participação à GNR local, não tivéramos entretanto mais notícias. Inteirado do assunto Mário Soares chamou de imediato o Comandante Distrital da GNR que acompanhava a visita e à nossa frente solicitou especial atenção para o caso. Poucos dias depois o infractor (um antiquário de Setúbal) estava identificado e indiciado criminalmente. Alguns meses mais tarde, juntamente com o guarda das ruínas, estive no tribunal da Comarca de Fronteira, servindo de testemunha de acusação no respectivo julgamente (como a justiça era célere!). Não existindo então qualquer legislação sobre o uso dos detectores de metal, a acusação teria que provar que o acusado tinha conscientemente afectado com a sua actividade um "monumento nacional" e uma vez que este alegava ter agido, sem intenção, numa área classificada que não estava vedada, a juíza achou por bem deslocar-se ao local para avaliar a alegação. Interrompida a sessão, o tribunal viria a reunir-se nesse mesmo dia, após o almoço, nas próprias ruínas e como o tempo ameaçava chuva, a sessão, após a visita ao "local do crime" acabou por realizar-se na pequena cabana que servia de abrigo ao guarda. O réu acabaria por ser condenado a uma pequena pena de prisão, suspensa por ausência de antecedentes criminais, e a uma "indemnização" pelos estragos efectuados (um buraco no pavimento das termas) a pagar ao próprio serviço e que eu próprio receberia em Évora, das mãos do advogado, algum tempo depois. Infelizmente, apesar de 40 anos ao serviço do património, não tenho presente muitos outros exemplos de condenações por atentados ao património...cultural!

Presidencia Aberta de Mário Soares, com passagem por Torre de Palma (Monforte). Fotos de Manuel Ribeiro


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