Ponte Velha da Fragusta sobre a Ribeira de Tera
(Vimieiro-Arraiolos)
Há década e meia, numa época em que estava envolvido no Projecto do Alqueva, tive oportunidade de elaborar para a Junta de Freguesia do Vimieiro (Arraiolos), a título gracioso, um pequeno relatório sobre uma ponte antiga que desconhecia e que tinha sido precisamente alguém do próprio executivo da Junta que me dera a conhecer. Julgo que desse relatório não resultaram, infelizmente, consequências. Eu próprio não tive ocasião de visitar de novo este local, se bem que tenha alguma curiosidade em avaliar e comparar, passado todo este tempo, o actual estado do mesmo. De referir que em minha opinião, e conheço bastantes pontes antigas, é um dos monumentos mais impressionantes no seu género no Alentejo, atendendo em particular ao facto de não ter sido objecto de grandes alterações enquanto esteve a uso. Para memória futura e eventual comparação, caso alguém um dia destes tenha oportunidade de passar na Fragusta, aqui deixo algumas notas e elementos gráficos recuperados do referido Relatório que, naturalmente, está inédito.
Assim conhecida por se encontrar junto à Herdade do mesmo
nome, passou a ser designada pelo adjectivo de “velha”, provavelmente a partir
de 1976, data da inauguração da nova ponte rodoviária construía pela JAE,
algumas centenas de metros a jusante, na estrada do Vimieiro para a Casa Branca
e Sousel.
A Ponte Velha da Fragusta bem visível no Google Earth (38º52´45.77 N - 7º49'03.84 O) |
A Ponte da Fragusta, situa-se na freguesia do Vimieiro, cerca
de 5km a Norte da sede da Freguesia, sobre a Ribeira de Tera. Fazia parte de
uma importante estrada, bem destacada na carta 1:100 000 de 1871, que vinda de
Évora em direcção a Évoramonte passava ligeiramente a Leste do Vimieiro,
dirigindo-se a Norte: Casa Branca, Sousel, Fronteira e Alter do Chão. A ligação
do Vimieiro, antiga sede de município, a esta importante via fazia-se através
de um antigo caminho que saindo da povoação em direcção a Leste, passava junto
à arruinada capela de São João, entroncando na estrada Norte/Sul, no sítio da
“canada”. A persistência deste topónimo, nomeadamente na actual CMP 1:25 000 reflecte a importância desta
antiga estrada e respectiva passagem da Ribeira, nomeadamente no contexto das
antigas movimentações sazonais dos gados entre as planícies do Baixo Alentejo e
as zonas montanhosas beirãs. A ponte propriamente dita, situa-se numa zona de
encaixe rochoso da Ribeira, particularmente declivoso a Sul, o que apesar da
considerável largura do vale, evitava a submersão dos acessos mesmo em épocas
de maior invernia. Não muito longe, a montante da velha ponte, conservam-se as
ruínas de um velho moinho ou azenha, numa associação muito comum, demonstrando
a importância de estradas e pontes na estruturação das actividades económicas
locais.
A Ponte vista de jusante (cima) e montante (baixo), com os talha-mares com sinais de "descolamento" |
A Ponte Velha da Fragusta é uma sólida construção em
alvenaria de xisto, não rebocada, estruturada por seis arcos quebrados,
constituídos por lajes de xisto justapostas em cutelo e cobrindo umvão de
aproximadamente 60 metros. Cinco dos arcos apresentam dimensões equivalentes,
com cerca de 4m de flecha por 4 de largura na base, sendo o sexto arco no
encosto à margem Norte de menores dimensões, por adaptação à topografia. O
interior dos arcos apresenta ainda vestígios de argamassa de cal, pontualmente
mostrando reparações relativamente recentes. O corpo da ponte encontra-se
reforçada a montante por quatro robustos talha-mares em forma de prismas
rectangulares de base triangular, provavelmente acrescentos à estrutura
original, dados os sinais de “destaque” provocados pela vegetação infestante. O
tabuleiro mostra ainda vestígios da calçada e apresenta uma largura de útil de
2,5 metros, e é ladeado por guardas ainda relativamente bem conservadas.
Vistas de jusante. |
Ao contrário do que infelizmente é habitual em estruturas
deste tipo, já não usadas, o estado geral de conservação é ainda razoável
embora evidenciando sintomas preocupantes de início do processo de
degradação. A inexistência de vestígios de fendilhação no intradorso dos arcos
e a conservação das guardas, são os aspectos que contribuem para o diagnóstico
de aparente solidez. A sua maior ameaça, resulta da falta de uso e consequente
falta de manutenção. Aliás , a insensibilidade local para com o monumento,
traduziu-se há alguns anos na destruição intencional da zona de encosto Sul do
tabuleiro, única e exclusivamente para fazer passar uma vedação da propriedade vizinha.
Bom dia, gostaria de falar com o autor deste trabalho. Contacte pf - adn.de.tera@gmail.com
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