O colega americano
que não conheci
David A. Breternitz
(1929-2012)
Quando em Maio de 1996, após uma passagem de alguns meses
pela Comissão Instaladora do IPA (Instituto Português de Arqueologia), assumi a
convite da EDIA, o desafio de pôr em marcha um “Plano de Minimização dos
Impactos Arqueológicos do Alqueva”, não partia do zero. De facto desde as
minhas antigas funções no IPPC no Departamento de Arqueologia (1980-88) passando
depois pelo Serviço Regional de Arqueologia do Sul (1988-1990) e Direcção
Regional do IPPAR (1990-1996), que me tinha ocupado do dossier Alqueva, um mega-empreendimento
que muito preocupava os arqueólogos desde que começara a ser concebido nos anos
60 do século passado. Instalado com uma pequena equipa em Mourão, numa antiga
escola preparatória, os primeiros tempos seriam essencialmente dedicados à
recuperação e tratamento da documentação e materiais entretanto acumulados
desde que Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares haviam participado no
início dos anos 80 no primeiro Estudo de Impacto Ambiental. Paralelamente
começamos a preparar um Plano de trabalhos de salvamento arqueológico em larga
escala que viria ainda nesse ano a ser submetido à Administração da EDIA e à
tutela da Arqueologia. Naturalmente, para um projecto com a dimensão do
Alqueva, pouca ou nenhuma experiência havia em Portugal, até porque a legislação
sobre Avaliação de Impactes, relativamente recente e remontando apenas à entrada
de Portugal na CE, estava longe de ser uma prática corrente e minimamente
consequente. Por outro lado o exemplo mais próximo, acontecido com a construção
da Barragem do Côa, revelara-se desastroso pelas razões conhecidas. Daí que,
uma das minhas primeiras preocupações, esquecendo o exemplo da Barragem de
Assuão (muito distante do Alqueva em todos os aspectos) foi procurar exemplos
que nos ajudassem a tomar opções minimamente informadas. Não foi certamente
pela INTERNET, ainda muito pouco difundida à época, que tomei então
conhecimento de um grande projecto desenvolvido entre 1978 e 1986 nos Estados
Unidos, o DOLORES ARCHAELOGICAL PROGRAM (DAP) e do qual obtivera referencias
elogiosas. Suponho que tal informação me fora transmitida pessoalmente por
Nicholas Stanley-Price, um arqueólogo muito ligado á gestão de sítios
arqueológicos que conhecera anos antes num colóquio organizado pelo ICCROM em
Chipre e que esteve algumas vezes em Portugal em apoio técnico á candidatura do Parque
Arqueológico do Côa, a Património da
Humanidade. Resolvi por isso escrever ao responsável do DAP, o arqueólogo David
A. Breternitz, que me respondeu quase na volta do correio, com uma amável carta
que pela primeira vez, tenho a oportunidade de divulgar. No mesmo correio,
enviava-me uma cópia do seu último trabalho sobre o projecto “The Dolores Archaeological Program: In memoriam”,
publicado na American Antiquity em 1993 e que nessa fase de intenso planeamento
seria para mim um inseparável guia de cabeceira. Este é um assunto ao qual não
deixarei de voltar. Até porque se nalguns aspectos, nomeadamente no que
respeita à divulgação científica, o Projecto Alqueva (na sua componente “Barragem”)
ainda que com atraso, atingiu os objectivos programados, já noutros domínios,
nomeadamente na repercussão dos resultados em relação ao grande público (um dos grandes
sucessos do DAP, graças ao Ananazi Heritage Center então instalado) se ficou no Alqueva muito aquém do que o
investimento realizado exigiria. A razão da presente nota, é sobretudo sentimental.
Usando há dias a Internet, o tal instrumento que não dispúnhamos em 1996, resolvi
fazer uma pesquisa para saber o que era feito do meu “colega americano”, David
A. Breternitz. Descobri então, por uma notícia de um jornal local, que falecera
em 2012, em Dove Creek, a localidade para onde se mudara em 1978 quando fora
nomeado pela Universidade do Colorado para dirigir o o projecto Dolores e na
qual ficaria após a sua aposentação em 1986, no final dos trabalhos
arqueológicos. Aqui fica, pois, a minha pequena homenagem póstuma.
Sem comentários:
Enviar um comentário