quarta-feira, 30 de maio de 2018

ALMENDRES_ na rota do desastre ?


Almendres_ 30 de Maio de 2018: imagens que se repetem diariamente nos últimos tempos. Um parque de estacionamento precário, a abarrotar; um "recinto megalítico" permanentemente "ocupado" sem qualquer vigilância.

Afinal, não são apenas os grandes centros históricos ou os monumentos ícones que sofrem riscos com a massificação turística. De forma paulatina mas regular, o Recinto Megalítico dos ALMENDRES, outrora um exemplo de tranquilidade e equilíbrio entre a acção humana e a Natureza, está a revelar-se um caso complexo de difícil relação entre as suas qualidades intrínsecas e a crescente pressão turística.  Inesperadamente, aqueles que nos temos interessado pela salvaguarda do monumento e pela sua divulgação e valorização, somos ingenuamente confrontados com os resultados perversos da nossa própria acção. Seria inevitável esse efeito "boomerang"? De facto, como não há livros sem leitores, não haverá património ou cultura, sem pessoas. Mas nas situações, como parece estar a tornar-se este caso, em que a procura parece crescer exponencialmente, torna-se imperioso precaver e instalar filtros que minimizem os inevitáveis impactos decorrentes, por vezes da intensiva e sistemática presença humana. Mas para tanto, haverá primeiro que resolver a magna questão: quem de facto gere o Cromeleque dos Almendres?

As circunstancias que neste momento se congregam nos Almendres são a receita certa para o desastre:

- grande atractividade da sua fortíssima imagem, muito divulgada pelos media e redes sociais; 
- facilidade de acesso a qualquer hora do dia ou da noite, 365 dias por ano; 
- gratuitidade garantida que torna o local uma mais valia para operadores turísticos, locais, nacionais e internacionais... (oferta de um "produto" -até ver- de qualidade, a custo zero!);
- ausência absoluta de qualquer tipo de vigilância ou de controle, apesar da presença diária de centenas de visitantes...

Naturalmente, a resposta a estes problemas, passa antes de mais por um "plano de gestão" para o sítio que, avalie a sua capacidade de carga e, instale as "barreiras" físicas ou administrativas que permitam ordenar, condicionar e, se necessário, limitar a sua visita. A Junta de freguesia local, sem sucesso, tentou oportunamente assumir essa responsabilidade. Para tal seria indispensável obter o acordo dos proprietários da Herdade e do próprio Monumento Nacional que, infelizmente demonstraram ter outros interesses e prioridades. O Estado, que em situação normal e face à gravidade da situação deveria assumir a expropriação e a gestão do sítio, está hoje como se sabe interessado em passar para as autarquias ou até para os privados a responsabilidade do seu próprio património histórico-arqueológico. Resta ainda a possibilidade da Câmara Municipal de Évora negociar com os proprietários a gestão do sítio, até porque foi a autarquia nos anos 80 e 90, que criou as condições de restauro do monumento e de construção de acessos, que colocam hoje este sítio no mapa das visitas obrigatórias de tantos turistas. Infelizmente, e apesar de tal objectivo constar do programa  da actual maioria na Câmara, parece que se está ainda longe de uma qualquer solução, também neste caso dependente do consenso com os proprietários.

Mas, até que finalmente, se encontre uma qualquer solução que permita instalar um modelo de gestão, resta aguardar que a divina providência, a sensibilidade cultural dos visitantes, ou o bom senso de responsáveis, evite situações como a que acaba de ocorrer nos Almendres. A realização de um espectáculo na noite de 29 de Maio, no âmbito de um festival cultural promovido pela Casa Cadaval, sem que tivessem sido tomadas as medidas que, apesar de tudo, se impõem num Monumento Nacional, nomeadamente o parecer prévio da Direcção Regional de Cultura ou a autorização dos próprios proprietários.

Não temos uma visão "sagrada" ou "elitista" do património, e através de associações locais, nós próprios promovemos no passado, também em colaboração com a Câmara Municipal, actividades culturais que atraíram, de forma ordeira e controlada, muitas pessoas ao Cromeleque (nomeadamente no âmbito das chamadas festas do solstício). Mas, previamente houve o cuidado de informar os proprietários (até por razões de segurança) e avaliar com a tutela do património, as condicionantes patrimoniais em causa. Aparentemente, face às indagações que efectuámos, nada disso aconteceu nos preparativos do evento de ontem. Felizmente, apesar de terem estado presentes nos Almendres na noite de ontem algumas centenas de pessoas (as estimativas variam), desta vez tudo terá corrido bem e sem incidentes. 


Hoje! Ritual Máscaras da Lua às 21h no Cromeleque dos Almendres. Autocarros a partir do Palácio Cadaval às 20h30. Experiência gratuita, não é necessário reservar.
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Tonight! Ritual Maks of the Moon at 9pm in Cromlech of the Almendres. Buses will be leaving at 8:30pm from Cadaval Palace. Free experience, no reservations needed.





https://www.publico.pt/2018/05/22/culturaipsilon/noticia/henrique-leonor-de-pina-o-homem-dos-almendres-1831194


http://pedrastalhas.blogspot.com/2018/05/henrique-leonor-de-pina-1930-2018.html

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