quarta-feira, 3 de maio de 2017

Revisitando os Ratinhos, dez anos depois...




Passam este ano dez anos sobre a última campanha das escavações dos Ratinhos, um projecto que conduzi juntamente com o Prof. Luis Berrocal-Rangel da UAM (Universidade Autónoma de Madrid), entre 2004 e 2007, com o apoio financeiro da EDIA dada a estreita relação topográfica existente entre este sítio e a vizinha Barragem do Alqueva.  Nestes dez anos, para além da edição da respectiva monografia (2010, Suplemento nº6 ao Arqueólogo Português), ainda foi possível nos primeiros tempos promover pequenas acções de manutenção do sítio, localizado em terrenos de propriedade pública. Uma tentativa de retoma da sua investigação através do lançamento de um novo projecto por uma equipa renovada ainda que coordenada com os anteriores responsáveis, acabou gorada por falta de garantia de financiamento. Do mesmo modo, os projectos de valorização com que a certa altura sonhámos, elaborados no quadro de um "Master Plan" encomendado pela EDIA para a zona da Barragem, acabaram também por também não sair do papel. Aliás toda a zona envolvente do chamado "paredão", se apresenta hoje com um aspecto desolador, contrastando com o elevado valor económico que representa hoje o Alqueva para a economia agrícola do país. Um pequeno cais e as estruturas de apoio à actividade de uma pequena empresa de turismo fluvial, são as únicas marcas de vida num espaço a aguardar melhores dias...

Vista aérea do Castro dos Ratinhos, em 2007, no final das escavações de A.C.Silva e Luis Berrocal-Rangel

Por razões profissionais tive oportunidade de passar muito recentemente nos Ratinhos. Apesar da falta de qualquer manutenção (sobretudo a partir de 2010), pude verificar que para além dos normais factores de degradação (desenvolvimento da vegetação endémica e actividade de alguns amimais, em especial dos javalis), o sítio no essencial mantem intacto o seu elevado potencial arqueológico, à espera que um dia possam reunir-se condições para que os arqueólogos que hoje se estão a formar aqui possam continuar as escavações na "acrópole" e nas várias linhas de muralhas identificadas há uma década. Mas para isso será necessário que a arqueologia se consiga finalmente libertar das grilhetas da desastrosa exclusividade da malfadada "arqueologia preventiva" em que se deixou aprisionar, criando-se as condições para que projectos autónomos de investigação pela investigação, possam de novo florescer e contribuir para o enriquecimento cultural do território.



As estruturas da Idade do Ferro (templo fenício?) da Acrópole. Em cima em 2007 e na actualidade.



Em cima instalando a sinalética (2007). A mesma na actualidade.

A muralha e o fosso (2007)
A muralha e o fosso (2017)

O plano de acessibilidades que estava previsto no plano de valorização (2007). Actualmente o caminho pedonal já não existe e o acesso a viaturas está barrado por uma vedação.

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