quarta-feira, 17 de maio de 2017

Os barcos de pedra do Guadiana

recordando o Leonel Borrela


Por feitio mas também por razões de meu percurso profissional, apesar de ter começado por me dedicar, enquanto estudante de arqueologia, aos vestígios mais remotos da presença humana no nosso território (Paleolítico), acabei por tropeçar com os mais variados temas e materiais que, afinal, camada a camada, sedimentam as paisagens que nos rodeiam. Um dos temas que no Alqueva despertou a minha curiosidade, foi um conjunto de pequenas estruturas construídas que acompanhavam o Vale do Guadiana e que genericamente eram conhecidas por "atalaias". No âmbito dos inventários patrimoniais que realizámos na preparação do projecto arqueológico do Alqueva percebemos que essas estruturas obedeciam a modelos construtivos diversificados e a sua localização parecia não seguir um  padrão único. Por razões de proximidade com o rio, uma meia dúzia daquelas estruturas viria a ser afectada pelo enchimento da Barragem, motivo pelo qual a sua escavação e estudo viria a ser contratada com uma equipa de arqueologia, tal como aconteceu com muitas outras temáticas. Neste caso porém, e ao contrário da maioria dos projectos então contratados, apesar de cumpridos todos os compromissos de campo, incluindo a produção dos respectivos relatórios, a equipa não chegaria a publicar a esperada síntese monográfica (http://pedrastalhas.blogspot.pt/2014/12/apresentacao-dos-14-volumes-da-2-serie.html).

Vem, esta referencia a um assunto tão específico do registo patrimonial do Guadiana, a propósito de uma recente e triste notícia. O desaparecimento do amigo e companheiro Leonel Borrela, com quem me cruzei tantas vezes no Museu Regional de Beja, a casa a que dedicou tanto do seu engenho e arte como desenhador, ilustrador e investigador. É que, quando andava intrigado com as "atalaias" do Guadiana, dei conta, através de artigos publicados pelo Borrela no Diário do Alentejo (Março e Maio de 1996), que mais para jusante existiam também estruturas de carácter defensivo muito peculiares directamente relacionadas com a defesa da linha do Guadiana. Naturalmente, haveríamos de várias vezes trocar informações sobre o assunto ao qual o Leonel Borrela viria a dedicar especial atenção, ainda que segundo creio, sem grande impacto junto de quem se deveria interessar pela sua valorização e salvaguarda.A última notícia que tive da sua persistente campanha em prol deste património tão desconhecido, resultou de um artigo de divulgação surgido há cerca de um ano atrás no público.

Um dos fortins do Guadiana, na zona de Quintos

Recorte do Diário do Alentejo (19-3-2012)


A distribuição das atalaias na zona da Barragem do Alqueva, um terço das quais foram submersas pela Barragem do Alqueva. Na sua maioria, estavam relacionadas com a defesa da fronteira, nomeadamente durante as Guerras da Restauração. São estruturas diferentes das estudadas por Borrela na zona de Quintos, se bem que entre Juromenha e a Ponte da Ajuda exista uma estrutura (São Rafael) muito próximo do leito de cheia e, preparada para suportar o impacto das correntes.

Uma das atalaias do Guadiana, submersa pelo Alqueva, "Xarez", nas proximidades de Monsaraz. Controlava a passagem do "Porto das Carretas", na antiga estrada Monsaraz-Mourão.
Nota em que me refiro ao trabalho de Leonel Borrela, em artigo de inventariação (Atalaias do Termo de Monsaraz), de colaboração com o José Perdigão.





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