segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Registos da arqueologia eborense, nos anos 30


Em fim de semana de chuva, reencontrei alguns recortes da imprensa eborense dos anos 30 do século passado ("Notícias d'Évora") que julgo merecerem alguns comentários. São quase todos assinados por alguém que usa o pseudónimo de "Tito Lívio Eborense" mas cujo nome real desconheço. Aceita-se ajuda para esclarecer o mistério...

Duas pequenas notícias de 1937 (Outubro e Dezembro) referem a descoberta de um povoado Neolítico, próximo da cidade de Évora, não sendo porém citado qualquer topónimo que nos permita identificar o local em causa. Julgo ser de descartar a hipótese do "Alto de São Bento de Cástis", uma vez que esse  sítio com vestígios pré-históricos, seria objecto de referencias deste mesmo autor já em 1938. A descrição de 37 aponta para um sítio com características diversas (ver a esse propósito uma entrada de Mário carvalho no Blog Carta Arqueológica de Évora) como se deduz dos recortes que divulgamos referentes ao Alto de São Bento (de Maio de 1938).

O que destaco nestas pequenas notícias, é a insistência no nome de Manuel Heleno, (ou nos sócios do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia, o que ia dar ao mesmo...) apontado sempre como grande especialista, cuja visita à Évora se aguarda mas que parece nunca acontecer. Manuel Heleno na década em causa vinha regularmente a Montemor-o-Novo (ver o recorte de Junho de 1938), onde procedia a numerosas (e demasiado rápidas) escavações nas antas da zona, em particular nos núcleos a Norte daquela localidade, já nos limites de Coruche ou Mora. É natural que ocasionalmente viesse também a Évora, e de facto parece haver uma pequena nota no conhecido trabalho de Saavedra Machado (Subsídios para a História do Museu Etnológico...) que a certa altura coloca Heleno na Herdade das Atafonas (entre Torre de Coelheiros e São Manços). Este sítio que surge também nos recortes que agora relembramos (Abril de 1938) é referido pela descoberta de importantes vestígios romanos no decurso de trabalhos agrícolas. Pelos dados da notícia, que fala do aparecimento de colunas de mármore e mosaicos, deveria estar-se em presença de uma importante villa romana, infelizmente nunca objecto até hoje de qualquer intervenção arqueológica. As circunstancias fazem recordar a descoberta da Villa de Torre de Palma uma década mais tarde (ver aqui) que então seria acompanhada de forma muito estreita por Heleno e pelos seus colaboradores do Museu Etnológico. Só que nos anos 30, Manuel Heleno tinha outros interesses e a villa romana das Atafonas, mesmo que tenha sido por si visitada, acabaria por ficar no esquecimento, até hoje.

E de facto, a primeira metade do Século XX não seria muito frutífera no que se refere à arqueologia nos territórios de Évora. Apesar do reconhecimento precoce da riqueza megalítica do Concelho, graças sobretudo a Emile Cartaillac, Leite de Vasconcelos e Gabriel Pereira (final do Século XIX, início XX), seria necessário aguardar pelos trabalhos de Georg e Vera Leisner nos anos 40, ainda que muito centrados no inventário das antas, para se ter finalmente uma noção da extraordinária riqueza arqueológica desta região. Em 1949 Georg Leisner, publica na revista A Cidade de Évora (com reedição em livro pela Nazareth) o livro "Antas dos Arredores de Évora", com a referencia e descrição de 152 antas localizadas num perímetro de cerca de 20 km em torno da cidade. Prenunciava-se desta forma uma época de importantes descobertas e investigações pré-históricas na região que, de algum modo, teriam o seu ponto alto nos anos 60, com a identificação da Gruta do Escoural, da Anta Grande do Zambujeiro e dos Cromeleques dos Almendres e Portela de Mogos, entre outros.




16 de Outubro 1937

30 Dezembro 1937


6 de Abril de 1938

14 de Abril de 1938



20 de Maio de 1938



1 de Junho de 1938

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