quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Bracara Augusta revisitada




Em anterior post ( ver aqui ) dei conta das impressões da minha primeira visita a um Museu de Braga (D.Diogo de Sousa) cuja "pré-história" tinha acompanhado de perto nos anos 80 do século passado e a quem estão ligados vários companheiros de lutas arqueológicas, naquilo que considerei um dos "legados arqueológicos" mais significativos da geração a que me sinto ligado. Objectivamente, e independentemente do impacto científico dos projectos à sua época, em Arqueologia aquilo que subsiste verdadeiramente para o futuro, dando significado e textura ao progresso dos conhecimentos, (ainda) são os Museus. O resto (artigos, livros, exposições, catálogos e por vezes os próprios sítios mais ou menos "musealizados"...) tudo passa ou se degrada demasiado depressa... Esta é, naturalmente, uma opinião polémica mas a que não deixarei de voltar no âmbito de outras reflexões memorialistas sobre a Arqueologia portuguesa das últimas décadas.

Mas a Braga Arqueológica não se limita actualmente ao Museu Arqueológico, ainda que este seja a verdadeira apólice de garantia do seu futuro. De facto tinha curiosidade em conhecer algumas das (infelizmente poucas) intervenções de integração e valorização das estruturas arqueológicas que o acompanhamento da evolução urbana trouxe à vista nas últimas décadas. Aliás, já aqui tinha abordado esse tema a propósito da passagem por Évora de uma exposição sobre os trabalhos académicos de alunos de arquitectura (projectos e maquetes) ver também aqui, resultado de um projecto de colaboração entre as Universidades do Porto e do Minho, através dos Prof. Pedro Alarcão (sobrinho do Prof. Jorge de Alarcão) e da minha antiga colega Prof.a Manuela Martins, a arqueóloga que, mesmo com meios cada vez mais limitados, vai assegurando a investigação possível de "Bracara Augusta".

Das "janelas" conservadas sobre o passado romano de Braga que tive oportunidade de visitar na cidade, listo a "casa romana do Largo de São Paulo", o balneário pré-romano da estação de caminhos de Ferro, as "Termas de Maximino" (com o seu vizinho Teatro a aguardar tempos de vacas menos magras, para poder ser convenientemente escavado) e, finalmente a "musealização da Fonte do Ídolo". As soluções encontradas para integrar estes vestígios são, naturalmente, diversas. Desde a simples marcação do desenho da respectiva planta no pavimento actual (como na casa romana do Largo de São Paulo), passando pela excelente solução encontrada no caso do balneário pré-romano que apenas peca por estar fora do circuito normal da grande maioria dos passageiros da CP que acabam por ignorar esta interessante estrutura. Já a solução encontrada para as "Termas de maximinos" (um imenso quarteirão, vizinho do Museu e salvo à especulação imobiliária nos anos 70, a célebre "praia das sapatas" dos meus colegas então jovens estudantes do Porto, como a Susana Correia e tantos outros...) é mais tradicional: um hangar protegendo as ruínas das intempéries, ladeado por passadiços (a precisarem de renovação) onde a informação essencial ajuda a situar o visitante. De destacar a discreta qualidade da envolvente paisagística criada para enquadrar as ruínas, apesar d grande exposição às feias traseiras urbanas da "arquitectura de pato bravo" dos anos 60. O Centro Interpretativo que por sua vez dá acesso às ruínas também me pareceu adequado, quer na simplicidade do programa quer na qualidade das soluções arquitectónicas. Já o novo "Centro Interpretativo" construído sobre a Fonte do Ídolo me pareceu excessivo. Não visitava o local há décadas e teria do mesmo já uma imagem "romanceada"... De qualquer modo qualquer solução que passasse pelo enclausuramento de uma estrutura que, obviamente, foi criada para o "ar livre" acabaria por não resultar. Independentemente da qualidade arquitectónica e construtiva do projecto concretizado, que certamente respondeu a um programa prévio com objectivos conservacionistas, em minha opinião o "monumento" perde leitura e monumentalidade, circunstancia agravada pela panóplia mediática disponível que acaba por descentrar a atenção do visitante do que neste caso é verdadeiramente importante.


A tradicional solução para o Largo de São Paulo, onde conservar estruturas á vista não faria sentido.




Balneário pré-romano da estação de Braga. Um projecto de qualidade ao nível da conservação e musealização, apenas prejudicado pela sua localização







Um detalhe quase anedótico mas a mostrar que o interesse pela Braga soterrada já vinha de trás. O provedor da Misericórdia, não se limitou a guardar a inscrição descoberta nas obras do Hospital da Misericórdia em 1836. Tratou de a expor e de referir o local e a profundidade da sua descoberta, com um rigor de registo invulgar para a época.

O novo acesso à Fonte do Ídolo


A "enclausurada" Fonte do Ídolo

O hangar de protecção das ruínas das Termas Romanas de Maximinos e a sua cuidada envolvente



O circuito de visita às Termas de Maximinos


A envolvente da colina de Maximinos, e a "qualidade" da vizinhança urbanística dos anos 60/70 do século passado. Nesta zona está identificado o teatro de Bracara Augusta que Manuela Martins tem vindo a escavar.

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