A RECONQUISTA DE PALMIRA
Já por duas vezes nos referimos neste blog à dramática situação de Palmira. Primeiro, em Maio do ano passado por ocasião da ocupação da cidade "Património da Humanidade" pelos jahadistas. Então, impressionados pelas imagens de morte e destruição que começaram a circular, perante a total impotencia da comunidade internacional (para já não falar da UNESCO, tão célere a actuar quando surgem indícios de "alterações" que possam pôr em causa a autenticidade ou integridade dos monumentos que classifica...).ver aqui. Mais tarde, em Agosto, quando surgiram notícias do bárbaro assassínio de um arqueólogo, já octagenário, antigo director das ruínas de Palmira que se recusara a cooperar com os jahadistas, lembrando-nos que em Palmira afinal não estavam apenas em causa pedras antigas, mas também vidas humanas. ver aqui também
Aparentemente, o pesadelo de Palmira parece ter chegado ao fim com a reconquista da cidade pelas forças governamentais sírias, apoiadas pela força aérea russa. O primeiro sinal foi dado pela ocupação da fortaleza de Palmira, Qalaat Ib Maan, um castelo de origem árabe (Século XIII) alterado e ampliado em época otomana (Século XVII) que domina totalmente a cidade de Palmira para quem chega de Damasco e que é (era) local obrigatório para iniciar a visita turística de Palmira. Assim aconteceu na Páscoa de 2004, quando tive a sorte de lá estar com o Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arqueologia em memorável viagem a uma Síria que hoje já não existe.
Tal como nas anteriores entradas, recorri mais uma vez à extensa reportagem fotográfica da viagem de 2004, neste caso para registar algumas comparações do "antes e depois", com a ajuda de imagens largamente divulgadas na Internet nos últimos dias.
A fortaleza de Palmira (Qalaat Ibn Maan), reconquistada pelas forças governamentais, a partir da qual se deu o ataque final e a recuperação de Palmira. Um local fantástico que domina Palmira e o deserto mas que sofreu visivelmente com a guerra civil, como mostra a comparação entre a foto da situação actual (cima) e a obtida na viagem do MNA de há 12 anos.
Templo de Bel (ou Baal). Em cima a situação actual, foto divulgada pelas agências. Em baixo a foto tirada em 2004. Aparentemente esta será uma das zonas mais afectadas pelas destruições jahadistas. A "cela" do templo praticamente desapareceu mas a área envolvente parece também muito danificada.
O arco monumental (ou triunfal) no eixo principal da cidade, a "avenida das colunas". O contraste entre a situação actual (foto de cima) e a de há 12 anos é dramático.
Aparentemente o Teatro terá sido das estruturas menos afectadas pela guerra, talvez por ter sido usado pelos jahadistas como cenário para os trágicos assassinatos públicos de opositores. Não será fácil esquecer esses factos em futuras visitas turísticas, como a que os amigos do Museu Nacional de Arqueologia fizeram em 2004 (foto de baixo).
O Museu de Palmira, fundado em 1961, já mostrava sinais de alguma desactualização e envelhecimento,quando o visitámos em 2004, situação que rapidamente era esquecida face à qualidade extraordinária da sua colecção de estatuária funerária, testemunho das tradições culturais e da riqueza das famílias patrícias de Palmira. A estátua destruida que se vê na foto de cima não deverá corresponder ao delicado sarcófrago que ali fotografei em 2004. Mas tendo em conta as imagens da situação actual do museu disponíveis na net, não acredito que este tenha sobrevivido...
As distancias tendem a esbater os defeitos... Aparentemente estas duas imagens, separadas por uma década e por uma ocupação vandálica e iconoclasta, não são muito diferentes. Esperemos que seja possível recuperar algumas das destruições de Palmira embora muitas sejam completamente irreparáveis. Mas que fique a memória desta loucura que, infelizmente, não é apanágio apenas de algumas regiões ou de algumas sociedades. Basta conhecer um pouco da história europeia do Século XX para confirmar isso mesmo...
Sem comentários:
Enviar um comentário