sexta-feira, 25 de março de 2016

"DIA SANTO NO CROMELEQUE"~



É desde sempre do interesse dos arqueólogos que o público tenha acesso aos resultados do seu trabalho. De algum modo, é essa interação com os outros, que dá sentido à pesquisa arqueológica, pese embora o prazer que cada um possa retirar da descoberta e do estudo dos vestígios do passado. Não estou directamente ligado à investigação feita nos Almendres, embora por motivos vários (técnicos, administrativos e até políticos) a sua sorte me interesse há pelo menos 3 décadas. Seria pois normal que situações como a que acabo de viver hoje fosse razão para um imenso júbilo não fosse o terrível reverso da medalha. É impossível calcular quantos visitantes o Cromeleque dos Almendres terão recebido hoje, mas pela amostra que observei entre as 11 e as 12h desta manhã, terão sido seguramente muitas centenas senão mesmo alguns milhares. É certo que o dia, soalheiro e feriado (sexta feira santa), com muitos turistas espanhóis de férias, é propício. Mas de facto não recordo tanto carro, carrinha e aut-caravana, a ir e vir do Cromeleque, quase em fila cerrada, para não falar já dos muitos que a pé e com todos os inconvenientes da poeira se aventuravam também a caminho deste sítio que hoje já pouco tinha de verdadeiramente "mágico" ou "sagrado"... mais parecendo uma feira, com todo o respeito por estas...

Que outro sítio arqueológico do país, (a excepção será naturalmente Conimbriga) atrai hoje tanta gente como os Almendres apesar da (quase) total ausência de um mínimo de controle e organização e (felizmente) apesar de um acesso que não é propriamente muito convidativo (4 Km x2, de um estradão muito irregular e poeirento)? A monumentalidade e singularidade do sítio e, mesmo assim, alguma preservação ambiental (muito prejudicada em dias como o de hoje), a par da divulgação feita pelos próprios visitantes (graças também às redes sociais) explicam certamente esse "sucesso". Mas infelizmente, não evitam nem minimizam os efeitos negativos do excesso de visitantes (já há muito observado na erosão do solo) e sobretudo não previnem eventuais actos de vandalismo, sejam estes resultantes de alguma ignorância cultural ou mesmo de espírito destrutivo, puro e duro. As fogueiras, o despejo de lixo ou mesmo algum "grafitismo" criminoso nos menires, começam a ser demasiado frequentes e não podem ser ignorados. Para já não falarmos na atração que estes sítios representam para os amigos do alheio e que as crescentes queixa na polícia mostram estar em crescendo.

Que fazer pois para minimizar os aspectos mais negativos de uma situação que, em princípio deveria ser considerada como uma mais valia para a cultura, o património e até para o desenvolvimento local e regional? Naturalmente tenho as minhas próprias opiniões sobre o assunto que tenho defendido junto dos, em pincípio, principais interessados. Proprietários (sim o monumento e não apenas o "terreno", à face da lei portuguesa, é privado! apesar de ser Monumento Nacional), tutela do património (MC/Direção Regional de Cultura), autarquias (Câmara e Junta de Freguesia) e julgo que, brevemente poderá haver sobre este tema algumas novidades. Mas por agora resta-nos esperar que nada de grave aconteça ao monumento ou aos milhares de visitantes que, fora de qualquer regra ou controle, o continuam a procurar todos os dias, muito para além das "enchentes" de dias feriados ou santos.












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