Anta Grande do Zambujeiro- Grande nau, grande tormenta... (2)
Na continuidade de anterior post, mais uma achega documental para a compreensão da situação deste monumento único. Este texto tem já meia-dúzia de anos, mas infelizmente continua plenamente actual.
1.A “Anta Grande do Zambujeiro”, (AGZ) identificada e
escavada nos anos sessenta por Henrique Leonor de Pina com apoio da Junta
Distrital de Évora e a colaboração de trabalhadores rurais de Valverde, localiza-se
em terrenos confinantes com a Herdade da Mitra (Universidade de Évora, polo de
Valverde) e é um dos maiores monumentos
megalíticos funerários da Europa e, sem dúvida, um dos mais importantes
monumentos pré-históricos de toda a Ibéria.
2. Está classificada como Monumento Nacional (Decreto 516/71 de 22-11-1971) mas localiza-se
em propriedade privada (Herdade da Anta, propriedade dos Herdeiros do Dr.
Cabral, Quinta da Fiúza, Évora). Tal facto não impediu, com o acordo dos
proprietários, que o monumento tivesse sido objecto de algumas intervenções
posteriores, nomeadamente nos anos 80, em que por iniciativa do então Serviço Regional de Arqueologia do Sul,
dependente do IPPC, Secretaria de Estado da Cultura, foi vedado e parcialmente
protegido das intempéries com uma cobertura provisória. Nessa mesma época, foi
objecto de algumas sondagens na sua zona frontal e na respectiva “mamoa”
(infelizmente nunca publicadas) com vista ao reconhecimento da respectiva
estrutura e pensando num “projecto futuro de reabilitação” sempre adiado.
3. O acesso ao monumento faz-se (presentemente) sem
quaisquer restrições e está assinalado, fazendo-se normalmente a partir das
instalações da Mitra (Universidade) através de um antigo caminho rural. A
Câmara Municipal de Évora, oportunamente, construiu uma pequena ponte pedonal
sobre a pequena Ribeira que serve de extrema entre as Herdades da Mitra e da
Anta, pelo que as viaturas estacionam ainda dentro da Mitra, num Parque
improvisado, fazendo-se a última centena de metros, a pé (o que é muito
vantajoso em vários aspectos). A visita à AGZ é normalmente efectuada por
turistas que a título individual e em transporte próprio fazem o “circuito
megalítico” pelo Cromeleque dos Almendres, AGZ e, eventualmente, Gruta do
Escoural. Também são comuns as visitas de estudo ou outras visitas organizadas.
4. Para além da sua invulgar monumentalidade, a AGZ
revelou um importante espólio arqueológico Neolítico, ainda insuficientemente
estudado e que actualmente se conserva na sua maioria no Museu de Évora, o que
lhe confere, para além do mais, uma excepcional mais valia científica e
cultural.
5. Desde a sua descoberta e escavação que estão
reconhecidas patologias estruturais graves na AGZ e que se prendem
essencialmente com 3 factores:
- degradação da pedra dos
esteios (arenização);
- instabilidade dos diversos
elementos pétreos que constituem o monumento;
- forte erosão do que resta da
mamoa original que cobria todo o monumento.
Ainda que a escavação dos anos 60 tenha activado ou
acelerado alguns destes problemas, a ausência de uma intervenção global de
restauro e conservação, é a grande explicação para uma situação actual
extremamente grave.
6. No que respeita à conservação, o monumento foi objecto
de um primeiro diagnóstico realizado em 1979 pelo LNEC que, identificou a
exposição directa às intempéries como um dos seus principais problemas (de
facto o monumento foi feito para estar coberto pela “mamoa”, entretanto
parcialmente escavada). Esse facto esteve na origem da instalação nos anos 80
da inestética e hoje degradada cobertura “provisória”. Posteriormente, numa
acção também da iniciativa do ex-Serviço Regional de Arqueologia do Sul, foram
removidos da sua posição original alguns elementos do corredor que ameaçavam
ruína.
7. Mais recentemente, na sequência das recomendações de
novo Relatório do LNEC (2005) foi necessário, para segurança dos próprios
visitantes, proceder a um escoramento de emergência no acesso à câmara
funerária. O novo estudo revelou que se mantinham, de forma cada vez mais
agravada, as patologias anteriormente identificadas, propondo-se para isso um
conjunto de medidas concretas que constam do respectivo Relatório e que, por
razões várias (financeiras mas também e sobretudo jurídicas…) nunca foram
concretizadas.
8.Tendo em conta as dificuldades em intervir (“investir”)
profundamente num monumento localizado em propriedade privada chegaram a ser
estabelecidos, sem resultado, negociações com os proprietários em 1999 no
sentido de aquisição da zona envolvente do monumento.
9. Por fim, na sequência do último estudo do LNEC(2005)
foi elaborada extensa informação pela Direcção Regional de Évora do exIPPAR na
qual se equacionavam os problemas e enunciavam algumas saídas possíveis. Foram
desde então, encetados alguns contactos com a Câmara Municipal e a Universidade
de Évora, no sentido da exploração da hipótese de uma permuta de terrenos,
entre a Universidade e os proprietários vizinhos que permitissem uma intervenção mais activa por parte da Administração.
10. Com efeito,
não faltando diagnósticos e mesmo algumas propostas de solução, as dificuldades
de intervenção por parte da Administração resultam antes de mais do carácter
“privado” da localização do monumento já que as tentativas de “aquisição” não
tiveram qualquer sequência. No entanto perante os numerosos visitantes, é ao
Estado que é sempre assacada a responsabilidade pelo evidente péssimo estado de
conservação em que se encontra a AGZ, e de facto, em última instância competirá aos serviços competentes da
Administração Pública, independentemente da eventual corresponsabilização dos
proprietários, promover as indispensáveis medidas de salvaguarda (Artº 21º da
Lei 107/2001).
11. Informação da
Direcção Regional de Évora do ex-IPPAR datada de 2006, para além de referir a necessidade da
ultrapassagem da questão da propriedade (aquisição, protocolo, acordo, etc...),
com base no Relatório do LNEC, identificava as seguintes medidas de actuação:
1.Projecto de estabilidade e assessorias científicas
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2. Execução do Projecto de estabilidade
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3. Consolidação física dos esteios
|
4. Projecto de arquitectura paisagística (incluindo
envolvente e acessos)
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5. Execução do projecto de arquitectura paisagística
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12. A AGZ,
sendo um monumento de 1ª
grandeza no contexto da arqueologia nacional, sendo muito visitada pelas
circunstâncias intrínsecas e contextuais referidas, tende a assumir no seu
lamentável estado de degradação e abandono, o carácter de uma vergonhosa
“montra” pública da situação geral do património arqueológico nacional, o qual
não sendo naturalmente brilhante, apresenta alguns exemplos de intervenções bem
conseguidas, mesmo a nível “megalítico”, como é o caso de ALCALAR no Algarve. A
Secretaria de Estado da Cultura através da sua Direcção Regional de Évora e em
cooperação estreita com a autarquia, a Universidade de Évora, e mesmo outras
instituições cívicas regionais, terá pois de encontrar o modelo adequado de
intervenção bem como os meios indispensáveis para inverter a presente situação.
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