sexta-feira, 24 de março de 2017


Na Serra da Estrela em Junho de 1974



Dentro de poucas semanas estaremos a celebrar mais um aniversário do 25 de Abril (o 43º), a tal madrugada que nos abriu portas tantos anos fechadas. Há dois anos, por esta ocasião lembrei de novo o amigo e companheiro Eduardo Osório, já falecido, que nessa mesma manhã me acordou para o meu primeiro dia de liberdade ( ver o texto "Filhos da Madrugada" ). Referi então nesse texto, entre tantos outros factos comuns, a aventura vivida em Junho desse mesmo ano de 1974, na Serra da Estrela. Transcrevo parte do que escrevi há dois anos:

Em Junho de 1974, poucas semanas depois do 25 de Abril, o grupo da Amadora ainda se envolveu no que seria uma das derradeiras iniciativas em comum. Organizada pelo próprio Eduardo, cuja família era natural de Nespereira (Gouveia) onde ainda possuía uma casa meio senhorial, fizémos uma inesquecível excursão pedestre à Serra da Estrela (a segunda paixão do Eduardo, depois da Arquitectura). Durante uma semana, sob a orientação do Eduardo "perdemo-nos" pelos vales mais recônditos da Serra, acampando onde calhava, bebendo água dos ribeiros e fugindo sempre que podíamos das estradas. Ainda que já imbuídos no maior respeito pela mãe natureza e com interesses diversos que decorriam já da nossa formação universitária, pelo menos dos mais velhos, não resistimos a uma pequena tropelia, própria da juventude e dos tempos. Não muito longe da Torre, do lado do Gouveia, havia à época sobre um penedo bem destacado na paisagem, uma grande  estátua de cimento, cópia algo tosca de um dos célebres guerreiros castrejos, de que o Museu nacional de Arqueologia conserva alguns exemplares. Uma inscrição remetia a figura, para Viriato, o guerreiro lusitano, erroneamente associado por alguma historiografia tradicional, aos Montes Hermínios, ou seja à Serra da Estrela. É certo que o fascismo português, bem ao contrário do italiano, alemão ou mesmo espanhol, nunca viu na arqueologia qualquer interesse apologético especial, à parte de uma única excepção, Viriato. De tal modo que os portugueses que participaram pelo lado nacionalista, na Guerra Civil Espanhola, se denominavam "os Viriatos". Fosse por isso, ou por simples rebeldia fruto da época e da juventude, não descansámos enquanto não mandámos encosta a baixo o fraco arremedo do Viriato de cimento, que na queda se desfez em mil bocados...Aqui fica a confissão vandálica, tardia e certamente prescrita...


Sabia que guardava algures, um certo número de diapositivos obtidos nessa invulgar excursão de descoberta da Estrela, fora das estradas, já na época, algo concorridas pelo turismo. Como registo pessoal aqui deixo as fotos que consegui recuperar e que terão especial significado para aqueles que se reconhecerem nelas. Do pequeno grupo já desapareceu o Eduardo Osório, na altura ainda estudante de Arquitectura e que não sonharia sequer que um dia viria a ser Director do Parque Natural da Serra da Estrela (que nem existia ainda pois apenas seria criado em 1976), cargo que viria a exercer entre 1988 e 1996.

Primeira etapa: entre Nespereira e Gouveia





Em Gouveia

De boleia até à Torre


O Tó (António Araújo) ficou para trás


Encontros imprevistos
Já fora de estrada






Banho na Lagoa Escura (?)















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