quinta-feira, 27 de outubro de 2016

JORNADA CULTURAL NA TOUREGA






Por razões compreensíveis, o tema "TOUREGA", tem sido dos mais abordados neste blog (ver os links). Não é hoje o sítio mais conhecido do polo "Guadalupe/Valverde" em face ao "boom"turístico eborense (dificilmente rivalizará com o Cromeleque dos Almendres) mas é certamente um dos mais interessantes e com maior peso histórico. Até por conjugar num mesmo lugar tantas valências patrimoniais: da arqueologia à paisagem, do património construído ao integrado, tudo embalado por uma ganga mitológica que é afinal o cimento cultural que assegurou, ao longo de mais de dois mil anos de história, a resiliência ao tempo e ao esquecimento deste como de tantos outros lugares. Lugares que fazem (faziam) parte da paisagem humanizada do Alentejo mas que, por desgraça, numa época em que tanto se "fala" de património, parecem condenados a desaparecer, um após outro... E a Tourega, como o São Matias (Guadalupe) parecem estar já numa dobra do tempo. Ainda lá estão, (por contraditório que pareça graças ao cemitério) mas de um momento para o outro, se nada se fizer, serão mais um lugar de ruína, como tantos outros que despovoam os aros das vilas alentejanas, também elas vítimas da míngua de gente.

Mas no próximo feriado (todos-os-santos, véspera de finados), tirando partido dessa ligação que ainda vamos tendo com os nossos "mortos e os seus espaços", vamos "animar" a TOUREGA com uma Jornada Cultural. Vamos mostrar o restauro em curso no seu importante retábulo (talvez obra de um mestre flamengo), abrir as ruínas romanas a uma visita guiada e fazer ecoar de novo na velha Igreja, os cânticos religiosos da Sé de Évora, compostos na época em que a TOUREGA (SéculoXVI/XVII) seria um lugar de culto e peregrinação no combate contra o "paganismo" e o "reformismo" promovido pelos Arcebispos de Évora (Cardeal D.Henrique e D.Teotónio de Bragança) que, como se sabe, tinham bem perto (Mitra) os seus aposentos de Verão.


Outras referências à TOUREGA, neste blog:

http://pedrastalhas.blogspot.pt/2014/09/ruinas-da-tourega-por-razoes-mais-que.html

Os trabalhos de conservação e restauro em curso no Retábulo da Tourega


O programa do Concerto do EBORAE MUSICA para o dia 1 de Novembro

Programa

Da polifonia da Sé de Évora
Stabat Mater                                                 Estevão de Brito (c.1570-1641)
Ecce Justus                                                               
De profundis                                             Estevão Lopes-Morago (c.1575-c.1630)
In jejunio et fletu                                                  Diogo Dias Melgaz (1638-1700)
Missa pro Defunctis                                               Estevão de Brito (c.1570-1641)
Dona eis
Missa para Advento e Quaresma (IV voc.)            Frei Manuel Cardoso (1566-1650)
Sanctus e Agnus Dei
Patter Pecavi                                                                  Duarte Lobo (c.1565-1646)

Do cancioneiro mariano popular…
Senhora do Almurtão                                    Mário de Sampayo Ribeiro (1898-1966)
Senhora do Amparo                                        Fernando Lopes-Graça (1906-1994)
Senhora de Aires                                                     

Coro Polifónico Eboræ Musica
Direção: Eduardo Martins



Texto de apoio à JORNADA CULTURAL:

A Tourega, a sua igreja e o seu património

A actual Igreja Matriz da Tourega remonta pelo menos ao Século XV, mas foi objecto de obras no final do Século XVI por iniciativa do Arcebispo de Évora, D.Teotónio de Bragança (1578-1602), época em que terá sido produzido o importante retábulo do altar-mor. Segundo o Prof. Vítor Serrão, o interesse por este local de D.Teotónio e do seu antecessor Cardeal D. Henrique, estará relacionado com a presença de provas materiais das antigas lendas fundacionais da Igreja eborense que colocavam nestas paragens os martírios do Bispo São Jordão e das irmãs Santa Comba e Santa Inominata. De facto ainda hoje aqui subsistem as ruínas da Ermida de Santa Comba e da Fonte Santa, a que André de Resende chamou a “Cova dos Mártires”, fazendo recuar a tempos imemoriais o interesse devocional da Tourega. Afinal, a origem tão remota não deve ser estranha a proximidade das ruínas de uma extensa “villa romana” onde foi recolhida uma das mais importantes inscrições latinas do país (actualmente cedida para uma exposição em Madrid). Com efeito, a Tourega, ainda hoje lugar de culto e de memória porque a par da Igreja aí subsiste o velho cemitério da freguesia, mas também espaço de lazer, dada a proximidade da Barragem, constitui um raro exemplo dos fenómenos de sedimentação cultural que estão na origem das paisagens rurais do Alentejo. A salvaguarda e a valorização deste património, essencial para o conhecimento das nossas raízes, não é porém tarefa simples, face ao acelerado despovoamento que este território tem conhecido. A desmemória e a perda de funções são os primeiros passos de um processo a que se seguem o abandono, o vandalismo e finalmente a ruína, existindo no território da nossa união de freguesias outro exemplo que nos deve preocupar: “São Matias”, a exigir também urgente cuidado pelos fracos recursos locais.
 Na Tourega, para além da chamada de atenção para a sua mais valia patrimonial - de que foi exemplo a recente publicação do manuscrito “Notícias da Tourega em 1736”- e após o tratamento preventivo das imagens (provisoriamente guardadas na Igreja de Valverde) está agora a Junta, com a colaboração técnica da Direção Regional de Cultura do Alentejo e logística da Câmara Municipal e da Paróquia, a intervir no retábulo da capela-mor. A par da necessidade de limpeza e fixação das pinturas do Século XVI (que Vítor Serrão atribuiu recentemente ao pintor Flamengo Francisco de Campos) toda a estrutura do retábulo apresentava repintagens espúrias que era necessário remover para conferir dignidade ao conjunto. No entanto, estes são apenas os primeiros passos de um processo longo e complexo que não pode esquecer, para além da conservação da própria igreja, as ruínas romanas que apresentam problemas de conservação e o enquadramento geral de todo o conjunto, incluindo acessos, estacionamento e algum apoio à sua visita e usufruto. Naturalmente são objectivos ambiciosos para uma Junta de Freguesia rural, mas é também por essa razão que procuramos desde logo a colaboração dos primeiros interessados, a população, e contamos com o apoio das entidades que connosco estão a colaborar.



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