JORNADA CULTURAL NA TOUREGA
Por razões compreensíveis, o tema "TOUREGA", tem sido dos mais abordados neste blog (ver os links). Não é hoje o sítio mais conhecido do polo "Guadalupe/Valverde" em face ao "boom"turístico eborense (dificilmente rivalizará com o
Cromeleque dos Almendres) mas é certamente um dos mais interessantes e com maior peso histórico. Até por conjugar num mesmo lugar tantas valências patrimoniais: da arqueologia à paisagem, do património construído ao integrado, tudo embalado por uma ganga mitológica que é afinal o cimento cultural que assegurou, ao longo de mais de dois mil anos de história, a resiliência ao tempo e ao esquecimento deste como de tantos outros lugares. Lugares que fazem (faziam) parte da paisagem humanizada do Alentejo mas que, por desgraça, numa época em que tanto se "fala" de património, parecem condenados a desaparecer, um após outro... E a Tourega, como o São Matias (Guadalupe) parecem estar já numa dobra do tempo. Ainda lá estão, (por contraditório que pareça graças ao cemitério) mas de um momento para o outro, se nada se fizer, serão mais um lugar de ruína, como tantos outros que despovoam os aros das vilas alentejanas, também elas vítimas da míngua de gente.
Mas no próximo feriado (todos-os-santos, véspera de finados), tirando partido dessa ligação que ainda vamos tendo com os nossos "mortos e os seus espaços", vamos "animar" a TOUREGA com uma Jornada Cultural. Vamos mostrar o restauro em curso no seu importante retábulo (talvez obra de um mestre flamengo), abrir as ruínas romanas a uma visita guiada e fazer ecoar de novo na velha Igreja, os cânticos religiosos da Sé de Évora, compostos na época em que a TOUREGA (SéculoXVI/XVII) seria um lugar de culto e peregrinação no combate contra o "paganismo" e o "reformismo" promovido pelos Arcebispos de Évora (Cardeal D.Henrique e D.Teotónio de Bragança) que, como se sabe, tinham bem perto (Mitra) os seus aposentos de Verão.
Outras referências à TOUREGA, neste blog:
http://pedrastalhas.blogspot.pt/2014/09/ruinas-da-tourega-por-razoes-mais-que.html
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Os trabalhos de conservação e restauro em curso no Retábulo da Tourega
O programa do Concerto do EBORAE MUSICA para o dia 1 de Novembro
Programa
Da
polifonia da Sé de Évora
…
Stabat Mater Estevão
de Brito (c.1570-1641)
Ecce Justus
De
profundis Estevão Lopes-Morago (c.1575-c.1630)
In jejunio et fletu Diogo Dias Melgaz (1638-1700)
Missa
pro Defunctis Estevão de Brito (c.1570-1641)
Dona
eis
Missa
para Advento e Quaresma (IV voc.) Frei Manuel Cardoso (1566-1650)
Sanctus
e Agnus Dei
Patter
Pecavi Duarte Lobo (c.1565-1646)
Do
cancioneiro mariano popular…
Senhora
do Almurtão Mário de Sampayo Ribeiro (1898-1966)
Senhora
do Amparo Fernando
Lopes-Graça (1906-1994)
Senhora
de Aires
Coro Polifónico Eboræ Musica
Direção: Eduardo
Martins
Texto de apoio à JORNADA CULTURAL:
A Tourega, a sua
igreja e o seu património
A
actual Igreja Matriz da Tourega remonta pelo menos ao Século XV, mas foi
objecto de obras no final do Século XVI por iniciativa do Arcebispo de Évora, D.Teotónio
de Bragança (1578-1602), época em que terá sido produzido o importante retábulo
do altar-mor. Segundo o Prof. Vítor Serrão, o interesse por este local de
D.Teotónio e do seu antecessor Cardeal D. Henrique, estará relacionado com a
presença de provas materiais das antigas lendas fundacionais da Igreja eborense
que colocavam nestas paragens os martírios do Bispo São Jordão e das irmãs Santa
Comba e Santa Inominata. De facto ainda hoje aqui subsistem as ruínas da Ermida
de Santa Comba e da Fonte Santa, a que André de Resende chamou a “Cova dos
Mártires”, fazendo recuar a tempos imemoriais o interesse devocional da
Tourega. Afinal, a origem tão remota não deve ser estranha a proximidade das
ruínas de uma extensa “villa romana” onde foi recolhida uma das mais
importantes inscrições latinas do país (actualmente cedida para uma exposição
em Madrid). Com efeito, a Tourega, ainda hoje lugar de culto e de memória
porque a par da Igreja aí subsiste o velho cemitério da freguesia, mas também
espaço de lazer, dada a proximidade da Barragem, constitui um raro exemplo dos
fenómenos de sedimentação cultural que estão na origem das paisagens rurais do
Alentejo. A salvaguarda e a valorização deste património, essencial para o
conhecimento das nossas raízes, não é porém tarefa simples, face ao acelerado
despovoamento que este território tem conhecido. A desmemória e a perda de
funções são os primeiros passos de um processo a que se seguem o abandono, o vandalismo
e finalmente a ruína, existindo no território da nossa união de freguesias outro
exemplo que nos deve preocupar: “São Matias”, a exigir também urgente cuidado
pelos fracos recursos locais.
Na Tourega, para além da chamada de atenção para
a sua mais valia patrimonial - de que foi exemplo a recente publicação do
manuscrito “Notícias da Tourega em 1736”-
e após o tratamento preventivo das imagens (provisoriamente guardadas na Igreja
de Valverde) está agora a Junta, com a colaboração técnica da Direção Regional
de Cultura do Alentejo e logística da Câmara Municipal e da Paróquia, a
intervir no retábulo da capela-mor. A par da necessidade de limpeza e fixação
das pinturas do Século XVI (que Vítor Serrão atribuiu recentemente ao pintor
Flamengo Francisco de Campos) toda a estrutura do retábulo apresentava
repintagens espúrias que era necessário remover para conferir dignidade ao
conjunto. No entanto, estes são apenas os primeiros passos de um processo longo
e complexo que não pode esquecer, para além da conservação da própria igreja, as
ruínas romanas que apresentam problemas de conservação e o enquadramento geral
de todo o conjunto, incluindo acessos, estacionamento e algum apoio à sua
visita e usufruto. Naturalmente são objectivos ambiciosos para uma Junta de
Freguesia rural, mas é também por essa razão que procuramos desde logo a colaboração
dos primeiros interessados, a população, e contamos com o apoio das entidades
que connosco estão a colaborar.
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