sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016


Perdigões_ exposição e workshop na Casa da Rua de Burgos



Há alguns meses tive oportunidade de recordar neste blog as circunstâncias da descoberta e reconhecimento deste povoado excepcional, localizado nos arredores de Reguengos de Monsaraz, situação que acompanhei de perto há 20 anos. ver aqui

Ontem tive o prazer de assistir a um conjunto de várias intervenções, coordenadas pelo António Valera, dando conta dos 18 anos de investigação arqueológica exemplar que tem vindo a ser realizada neste sítio. A presente iniciativa, uma parceria entre a DRCALEN e a Empresa ERA ARQUEOLOGIA, organizada em tempo record, num contexto de grande informalidade e praticamente a "custo zero", atraíu à nossa Galeria da Rua de Burgos um número razoável de interessados, com destaque para alunos e investigadores ligados à Universidade de Évora. A acompanhar a iniciativa e proporcionando a ocasião para a visita por um público mais alargado, foi também preparada uma pequena exposição onde se apresenta um excepcional conjunto de materiais, testemunhos muito raros dos restos materiais ali deixados entre 3500 e 2000 pelos frequentadores deste enigmático sítio. Com efeito, pese embora o invulgar investimento em investigação ali realizado, tivémos oportunidade de ouvir da boca dos próprios arqueólogos, que são mais as interrogações que surgem a cada dia do que as respostas. O próprio estatuto funcional do sítio está ainda por determinar, uma vez que na área até agora escavada (menos de 1% da área arqueológica), ainda não foram encontrados vestígios que possam confirmar tratar-se afinal de um "povoado", pelo menos tal como nós o costumamos conceber.

Para quem não possa visitar a exposição, deixamos os "links" de acesso aos blogs oficiais relacionados com este projecto de investigação:


António Valera, na intervenção em que fez o balanço de 18 anos de investigação.
Miguel Lago da Silva, falando sobre a vertente de comunicação e divulgação pública dos resultados da investigação (afinal o objectivo final de qualquer projecto arqueológico), onde referiu as limitações e dificuldades enfrentadas nesse campo.


Lucy Shaw Evangelista, referindo-se à importância única do imenso registo bioantropológico dos Perdigões e da actual fase de estudo do Sepulcro 1

Cláudia Costa dando conta dos resultados obtidos a partir do estudo de 15 000 restos faunísticos, uma pequena percentagem do registo zooarqueológico disponível

Um aspecto da assistência.

Um desafio próximo, muito pouco "evidente", (a inscrição nas listas do património da Humanidade) mas motivador para as futuras décadas de estudo. Não será fácil demonstrar ao público em geral a monumentalidade de um sítio quase invisível, porque no fundo, e é essa a conclusão a que a Arqueologia está a chegar, o verdadeiro monumento arqueológico, será a linha do horizonte que o grande anfiteatro natural dos Perdigões, permite descortinar a Nascente, nele imperando como grande eixo (axis-mundi?), a linha definida entre o centro do próprio sítio e a colina de Monsaraz que, como por "milagre", é coincidente com o eixo equinocial.






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