segunda-feira, 9 de julho de 2018

DER RÖMISCHE TEMPEL IN ÉVORA



Em Outubro de 2014, num dos primeiros posts deste blog, ver aqui se dava conta de visita a Évora de Theodor Haushild, o arqueólogo alemão, antigo director da extinta delegação de Lisboa do DAI (Instituto Arqueológico Alemão). Já então se anunciava para breve a publicação da monografia há muito esperada nos meios arqueológicos sobre o seu grande projecto de investigação sobre o Templo Romano de Évora, que implicou extensas e produtivas escavações na respectiva envolvente no final dos anos 80 e início dos anos 90. Realizadas com a colaboração do antigo Serviço Regional de Arqueologia do Sul e da Câmara Municipal, estas foram ainda iniciadas no tempo da direcção de Caetano Mello Beirão. Seria no entanto no período em que assumi funções naquele Serviço que aqueles trabalhos ganhariam maior expressão, com escavações em larga escala que puseram a descoberto parte dos "tanques" originais e do lajeado do "forum".

Vem tudo isto a propósito, porque no passado dia 26 de Junho, foi finalmente apresentada em Portugal a monografia Der Römische Tempel in Évora (Portugal), Bauaufnahme, Ausgrabung, wertung (O Templo Romano de Évora (Portugal), levantamento arquitectónico, escavação e classificação), no âmbito de uma conferencia organizada pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo que abordou também os importantes trabalhos de conservação realizados neste monumento em 2017 e que oportunamente aqui destaquei: O templpo romano em obras

A obra agora apresentada (um grosso volume de 500 páginas, fora o "envelope" de plantas grande formato típico nas publicações do DAI, ) não sendo definitiva é, certamente, um marco fundamental no estudo e conhecimento deste monumento que detém uma posição de destaque excepcional, quer no perfil arquitectónico da cidade Património da Humanidade, quer no imaginário dos eborenses e de todos os que a visitam.

Por razões pessoais não pude aceder ao convite para estar presente no evento em causa, o que muito me penalizou pelo respeito e simpatia que há muito nutro por Theodor Haushild e Felix Teichner que co-assina a obra, dado a sua importante participação nas escavações e no estudo das cerâmicas. Aqui fica, por isso mesmo, este pequeno apontamento, lamentando apenas a minha ignorância do Alemão, o que me impede apreciar e tirar outro proveito do exemplar que, certamente por indicação dos autores, me foi oferecido pelo DAI. Naturalmente, e sei que isso já terá sido equacionado pelos serviços competentes, este é um caso em que a tradução para português se impõe, por todos os motivos.

Foto de Theodor Haushild no Templo de Évora que ilustra a obra agora editada

O frontispício da obra em causa

O retomar de um desenho do Professor e arquitecto Pedro Fialho de Sousa (professor de geometria descritiva e desenho na Faculdade de Arquitectura de Lisboa, falecido em 2008, e habitual colaborador nos trabalhos de T.Haushild em Évora, cidade de onde era natural). Pedro Fialho, como referi nalguns posts deste blog, foi um activo membro da Comissão Científica que acompanhou os trabalhos arqueológicos no Alqueva.


A proposta final de reconstituição de Haushild, retomando a "escadaria frontal" que a certa altura parecia não encaixar nos resultados das escavações (como se reflecte no desenho de Pedro Fialho de 1990.



segunda-feira, 2 de julho de 2018

OS ALMENDRES, de novo no PÚBLICO
1992-2018

Um quarto de século separa os dois "recortes" de página inteira do Público que aqui apresentamos. O mais antigo, de 15 de Setembro de 1992, é assinado pelo meu velho amigo, o professor liceal Marcial Rodrigues, então "correspondente" em Évora daquele ainda jovem diário; o segundo é da responsabilidade do jornalista profissional Carlos Dias. Curiosamente, enquanto o primeiro regista os primeiros esforços organizados ao nível da Câmara Municipal de Évora, no âmbito da divulgação e promoção do megalitismo local como factor de desenvolvimento turístico, o segundo avalia os impactos negativos sobre esse mesmo património, uma vez que o desejado incremento desse potencial, não foi acompanhado pelas medidas de gestão e salvaguarda que já então se assinalavam como indispensáveis. Em ambas as notícias quer nas imagens quer no conteúdo, todo o destaque vai naturalmente para o CROMELEQUE DOS ALMENDRES, verdadeiro ex-libris do Megalitismo Alentejano. Mas não deixa de ser sintomático que a medida já preconizada em 1992 pelo escultor João Cutileiro e referida no artigo de Marcial Rodrigues (criação de um parque de estacionamento afastado do monumento) só tenha sido concretizada 20 anos depois (2012).

Três pequenas notas apenas ao texto do Carlos Dias, uma peça que de forma impecável e irrepreensível, sintetiza toda a problemática para a qual temos tenho vindo a chamar a atenção, não apenas neste "blog" mas em todos os fóruns possíveis e imaginários (incluindo a  Assembleia da República, sem qualquer efeito, diga-se de passagem... ver aqui por exemplo).

Em primeiro lugar assinalamos com agrado que a informação que temos vindo a acumular quer neste blog quer no grupo do Facebook "Guadalupe em defesa do Cromeleque dos Almendres" , tem utilidade pública, como se comprova no trabalho do Carlos Dias.

Em segundo lugar, comentando as declarações transcritas de Carla Rufino (filha do proprietário dos Almendres, sr. José Rufino), recordar que o estradão de acesso já existia, talvez há séculos, e pela tradição regional de uso dos caminhos rurais, sempre fora uma serventia pública. O que a Câmara Municipal fez na década de oitenta (numa altura em que a Herdade dos Almendres se encontrava ainda intervencionada no âmbito da Reforma Agrária) foi proceder às custas do orçamento camarário, a extensas obras de melhoria do mesmo, entre Guadalupe e o monumento classificado (então Imóvel de Interesse Público, hoje Monumento Nacional). Essa estradão (apesar dos problemas de conservação que a autarquia vai resolvendo como pode) hoje serve não apenas os visitantes do Cromeleque mas os vários proprietários da zona, incluindo um empreendimento turístico hoteleiro, promovido por um conhecido apresentador de televisão.

Finalmente uma terceira e última ressalva, para a minha afirmação transcrita de que os "operadores turísticos utilizam o Cromeleque de borla"... Embora reconhecendo atitudes diversas da parte destes, desde os que se limitam a "despejar" os turistas no local, até aos que acompanham e ajudam de facto à descoberta do sítio, não posso deixar de aceitar o reparo de amigos que há muito se dedicam a essa legítima e útil actividade, recordando que eles próprios, com a sua presença regular, vão contribuindo para uma vigilância e atenção ao monumento que deveria estar assegurada pelas entidades competentes...