terça-feira, 12 de dezembro de 2017

1992_ O Verão quente da arqueologia portuguesa



Um quarto de século passou e, portanto, os factos que aqui se evocam são já praticamente do domínio da "História" com todas as inerências... E de facto, pese embora a circunstancia dos principais protagonistas, felizmente, ainda "andarem por aí", tanta coisa aconteceu depois, para o bem e para o mal. É pois quase com um sorriso à ingenuidade dos tempos que aqui evoco alguns documentos de então e que (percebemos mais tarde) prenunciavam a profunda crise que aconteceria três anos depois na sequencia das descobertas do Côa. Mas também sabemos que a realidade nunca é simples e linear e que nada pode ser considerado definitivamente adquirido. Com efeito, quase tudo aquilo porque lutavam os arqueólogos nesse Verão de 92 (o reconhecimento de uma carreira, um organismo próprio para gestão do património arqueológico, um enquadramento legal para a arqueologia preventiva, etc...) seria conquistado em 1996, graças à vitória na batalha mediática pelas "gravuras que não sabiam nadar". Para logo, menos de uma década depois, sob pretexto da crise, quase tudo acabar por lhes ser retirado.


1º acto_ 13 de Junho de 1992. Em artigo de opinião aparecido, assinado por um arqueólogo que também era "funcionário público", o SEC da época é criticado...


2º acto- 24 de Agosto de 1992. O SEC da altura não gosta da "opinião" e manda instaurar um processo disciplinar ao autor_ a imprensa reage






3º acto- Os arqueólogos respondem e organizam um "abaixo assinado", apoiado inclusive por vários dirigentes que, por sua vez, chegam também a ser ameaçados... Quer o "processo disciplinar" quer a reacção dos arqueólogos, têm eco na imprensa nacional (Público e DN) e regional (Jornal do Fundão).







A revista ALMADAN, editada  pelo Grupo de Arqueologia de Almada e que apareceria renovada nesse ano de 1992 (nº1 da II série) não deixa passar o caso em branco... 

4º acto (epílogo)- 27 de Outubro de 1992. Certamente já em fase de descompressão (o assunto chegara a ser sério, com advogados e tudo...), Luis Raposo, volta de novo à liça, numa espécie de "balanço". O processo disciplinar esfumar-se-ia mas as consequencias da desastrosa política patrimonial de Santana Lopes manter-se-iam inalteradas até 1995...



ANTECEDENTES

1. A crise do Verão de 1992, agudizara-se face à extinção do IPPC em Junho e à sua substituição por um novo organismo, o Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico (DL 106-F/92). Ao contrário do que faria supôr o seu nome, aquele decreto consumava a total menorização da arqueologia, processo que se iniciara 2 anos antes com a extinção dos Serviços Regionais de Arqueologia, já sob o consulado de Santana Lopes em anterior remodelação do IPPC.
Na altura os arqueólogos dos Serviços Regionais, cerca de uma dezena distribuídos por Braga, Coimbra e Évora, reagiram colectivamente através de uma exposição presente ao SEC mas que, como era de esperar, não obteve qualquer resposta. Aqui se transcreve como memória histórica.




No Verão de 1991 (um ano antes da publicação do texto que provocaria a "ira" de Santana Lopes, já Luis Raposo viera a terreiro contra a política "arqueológica"da SEC. Estavam então em causa os atrasos nos pagamentos (relativos a 1990 e a indefinição total relativamente a 1991) dos já magros subsídios para o Plano Nacional de Trabalhos Arqueológico.


2. Reacção pessoal

Datada de 10 de Junho de 1992 (3 dias antes da publicação do artigo de Luis Raposo ("Elogios envenenados") conservo nos meus papéis uma exposição pessoal dirigida ao SEC (confesso que não recordo se a cheguei a enviar...). Embora o tom seja diverso, as questões em fundo são as mesmas e penso que não teremos coordenado ideias, até porque à época eu já estava estabelecido em Évora. Em todo o caso, através da sua leitura, entende-se melhor o título e a introdução do artigo do Luis Raposo. Santana Lopes, na sequencia da publicação do malfadado DL 106-F/92, em entrevista concedida ao Expresso, referira-se elogiosamente aos arqueólogos, "capazes de trabalharem com meios sempre muito reduzidos..."









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