sexta-feira, 8 de setembro de 2017


VISITA ÀS "OBRAS" DO TEMPLO ROMANO



Já em anterior "post" havíamos dado conta do início de obras de urgência no Templo Romano de Évora, 146 anos após a última grande intervenção do cenógrafo e arquitecto italiano Giuseppe Cinatti  -   ver AQUI - a quem se deve a imagem que todos guardamos do monumento ex-libris da cidade de Évora e da herança romana em Portugal. Naquele texto recordámos também, em traços gerais, a história do exemplar processo de "restauração" conduzido no século XIX por duas brilhantes figuras da cultura oitocentista, Cunha Rivara e Filipe Simões, ambos directores da Biblioteca Pública de Évora, a quem muito deve a nossa cidade.

Hoje, já totalmente montados os andaimes e respectivas proteções, que dão ao templo um ar de instalação do conhecido artista "Christo", tive oportunidade de, em conjunto com outros colegas da Direção Regional de Cultura (promotora da intervenção), subir ao nível da arquitrave, o que nos proporciona uma perspectiva única, quer da dimensão quer sobretudo da qualidade artística, dos imponentes capitéis em mármore que ainda subsistem.

Apenas um aparte. 

Certamente reflexo do clima eleitoral em que já estamos inseridos, as redes sociais eborenses têm sido férteis em comentários para todos os gostos a propósito do "embrulho" do Templo Romano. Alguns insinuando inclusive que as obras fariam parte de um qualquer maquiavélico plano eleitoralista da Câmara Municipal. Ora convém esclarecer que a autarquia é completamente estranha aos trabalhos em curso, iniciativa da Direção Regional de Cultura (entidade a quem o Monumento está afecto, embora esse seja também um assunto controverso...), e que o respectivo "timing", advém de circunstâncias completamente fortuitas. Durante uma vistoria de rotina, efectuada em Junho passado, foi detectado o recente desprendimento de um fragmento de capitel de grandes dimensões... Essa verificação fez disparar as "campainhas de alarme", temendo-se próximas "réplicas" com resultados imprevisíveis, sobre o património mas também sobre as numerosas pessoas que circulam na sua envolvente. Entre o encontrar os necessários recursos (directamente do Gabinete do Ministro pois os serviços estão, como se sabe, exauridos pelas sucessivas cativações...) e o cumprir dos mínimos formalismos exigidos, mesmo para situações de emergência como a presente, esgotaram-se as poucas semanas entretanto decorridas, iniciando-se os trabalhos, por mera coincidência, em plena época eleitoral. 

Cicatriz do fragmento de capitel que fez disparar o "alarme". 
A visita fez-se de cima para baixo, começando pelos enormes blocos de granito da arquitrave. De referir que os blocos que subsistem ainda da segunda fiada da arquitrave, são ligeiramente abaulados na face inferior, de modo a que o peso se exerça apenas em pontos de apoio, por sua vez alinhados com as colunas.
Elementos de ligação dos blocos da arquitrave, em bronze. Não se sabe ainda se são os elementos originais. Nalguns casos existe já apenas o entalhe na pedra.

O bloco inferior da arquitrave, apreciando-se ainda a respectiva decoração.
O plano em que se pode apreciar plenamente a qualidade artística do trabalho escultórico realizado ao nível dos capitéis (mármore de Estremoz). De uma maneira geral o seu estado de conservação é bastante preocupante.

Detalhe de um dos capitéis, em estilo "corintio" mas apresentando todos eles diferenças significativas, quer nos elementos decorativos usados quer na própria qualidade técnica do talhe. São sempre constituídos por dois elementos e embora pudessem ter um acabamento de côr (há indícios de nalguns templos da época, serem mesmo "dourados") a qualidade escultórica remete para a inexistência de qualquer reboco (ao contrário dos "fustes").



Os fustes em granito e que originalmente seriam rebocados e pintados.

As bases, também em mármore, e cujo estado de conservação também inspira cuidados.



Um pormenor que já conhecíamos dos trabalhos do Prof. Haushild: a existência de marcas originais para enquadramento e posicionamento rigoroso das cases das colunas.




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