O sítio nº 1 do ENDOVÉLICO
Todos os arqueólogos portugueses sabem o que é o "ENDOVÉLICO", a base de dados arqueológicos que foi buscar o seu nome a uma conhecida divindade pré-romana do SW peninsular e onde são registados os sítios arqueológicos que vão sendo referenciados no território nacional e que hoje conta com mais de 30 000 entradas. Poucos talvez saibam qual o sítio que tem o CNS 1, e ainda menos qual a explicação que está por trás desse facto.
Embora criada em meados dos anos 90 por uma equipa informática liderada pelo Prof. Ribeiro da Costa da Universidade Nova, a actual base de dados do Endovélico teve atrás de si antecedentes de "papel" que remontam aos anos setenta, à então Direcção Geral do Património Cultural. Com efeito data de 1976 a primeira tentativa séria de organização de uma "Carta Arqueológica de Portugal", facto que já evoquei neste blog http://pedrastalhas.blogspot.pt/2015/01/do-projecto-da-carta-arqueologica-de.html. Seria no âmbito desse projecto que Judite Cavaleiro Paixão, licenciada em História mas com a especialização em BAD (Bibliotecas, Arquivo e Documentação) contratada especificamente para esse efeito em 1976, procuraria introduzir um sistema convencional de recuperação e organização da informação arqueológica que passava pelos serviços da SEC (cartas, ofícios, requerimentos, relatórios, recortes de imprensa, etc...), material que serviria de apoio á gestão corrente mas que, em última análise consubstanciaria o suporte documental da "Carta Arqueológica de Portugal". Numa época em que a informática, pelo menos entre nós, pouco adiantaria neste campo, o passo seguinte, previsto na proposta da Judite Paixão, passava pela "microfilmagem" sistemática de toda a informação, o que permitiria a prazo, uma busca mais rápida da informação para efeitos de gestão ou investigação. Para esse efeito JCP desenvolveu toda uma proposta de organização que seria editada em 1980 pelo próprio IPPC, entretanto criado em substituição da DGPC.
Nomeada em 1980 "Chefe de Divisão de Documentação e Inventário" do Departamento de Arqueologia do IPPC, entretanto instalado no Museu Nacional de Arqueologia no final desse ano, seria nesse âmbito que JCP, coordenando uma pequena equipa, iria concretizar a sua proposta. Cada sítio arqueológico dava origem a uma "ficha informativa principal" com os dados básicos disponíveis sobre a mesma, a que se juntavam depois fichas complementares onde seriam referenciados e comentados todos os documentos relevantes sobre o sítio. Completavam a documentação de cada sítio, guardada numa caixa arquivador tipo A4, fotos quando existentes, e a localização num extracto da respectiva carta militar portuguesa, na escala 1: 25 000. Naturalmente era necessário arrumar a caixa e conhecer a sua localização em caso de necessidade de consulta ou de complemento dos dados, e para isso existia o nº básico de "ordem" de preenchimento, ou seja o antecedente do actual CNS, Código Nacional de Sítio. E, por mero acaso, a ficha nº1 a ser preenchida correspondeu a um obscuro sítio arqueológico romano, "Alto da Cidreira" descoberto na altura e por acaso nos arredores de Cascais no meio de uma "urbanização clandestina". A troca de ofícios entre a Câmara Municipal e o IPPC, bem como algumas notícias na imprensa, haviam dado origem a um processo administrativo então em curso, que foi usado por JCP como modelo ou protótipo do que seria a futura base do "serviço de documentação e informação arqueológica". O sítio entretanto escavado e estudado por José d'Encarnação e Guilherme Cardoso, viria a ser classificado em 1992, mas as circunstâncias da sua descoberta e localização, ainda hoje se reflectem nas suas precárias condições de preservação. A título de curiosidade anexamos os links para a actual ficha do Endovélico (CNS1), para a ficha de classificação da DGPC e ainda para um inventário de iniciativa particular, associado ao conhecido blog "Portugal Romano":
Alto da Cidreira_ foto "Portugal Romano" |
E, já agora, a listagem dos primeiros 10 sítios do CNS do ENDOVÉLICO, todos eles herdeiros da primeira listagem trabalhada pela equipa de Judite Cavaleiro Paixão e, certamente, selecionados já por atributos algo diversos aos do Alto da Cidreira:
CNS 1- Alto da Cidreira, Cascais
CNS 2- Ruínas romanas de Tróia, Grandola (Sítio onde JCP e seu marido António Cavaleiro Paixão trabalharam com Fernando de Almeida);
CNS 3- Ruínas de Pisões, Beja
CNS 4- Ruínas de Miróbriga, Santiago do Cacém
CNS 5- Ruínas romanas dos Casais Velhos, Cascais (não muito longe do Alto da Cidreira)
CNS 6- Citânia de Sanfins, Paços de Ferreira
CNS 7- Barragem romana do Muro dos Mours, Serpa
CNS 8- Ruínas de São Cucufate, Vidigueira
CNS 9- Ruínas romanas de Milreu, Faro
CNS 10- Castelo de Castro Laboreiro, Melgaço
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